«Estamos
portanto no território de eleição deste escritor muito talentoso e subtil. Ou
seja, o da família como a mais problemática das paisagens humanas. A família
enquando lugar da felicidade sempre ameaçada, dos afetos e rancores levados ao
extremo, da incerteza sobre o que se pode perdoar e o que é imperdoável. David
Vann não nos poupa a nada. Arrasta-nos para o centro do inferno. Obriga-nos a
testemunhar a forma como os laços entre as pessoas se apertam até ao sufoco ou
como são cortados subitamente, da forma mais cruel, alimentando terrores e
raivas que nem o tempo é capaz de sarar. Sobretudo, força-nos a uma espécie de
apneia literária, fazendo com que a experiência de leitura corresponda a uma
submersão total na história que nos vai sendo narrada, sem margem para fugas,
sem tempo para recuperar o fôlego.
À semelhança
dos livros anteriores, Aquário é um murro no estômago do leitor. Quando
voltamos à tona, ficam-nos (talvez para sempre) imagens do mais insondável
negrume. Mas também, como os peixes de Caitlin, visões da mais delicada e
absoluta beleza.» [José Mário Silva, E, Expresso, 12/12/15]
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