«Em vésperas de estar em
Portugal onde vai participal no Folio, o Festival de Literatura de Óbidos que
começa no dia 15, e pouco depois de editar por cá o seu primeiro romance,
Kushner falou da admiração que sente por Roberto Bolaño e o modo como ele deixa
que as personagens tomem conta da acção, do quanto é doloroso escrever antes de
encontrar o tom, da preocupação com a forma, do gosto pela velocidade, de
coisas que não cabem no espaço de uma entrevista onde disse, sobretudo, o que a
motiva na escrita: uma espécie de entendimento sobre as pessoas num lugar e num
tempo.
— Uma das suas personagens
mais controversas em Telex de
Cuba diz
que o ingrediente especial para tornar a carne tenra é a contradição. Isso é
valido para a literatura?
— Talvez. Pelo menos
podem-se arranjar argumentos muito interessantes em defesa disso. Não costumo
passar receitas sobre o que é bom para a literatura mas acho a contradição
muito útil para atingir uma energia criativa. Parece que se chega a alguma
coisa mais parecida com a verdade se olharmos as coisas por uma via em que não se
possam facilmente reconciliar-se. A vida contemporânea quer que funcionemos sem
reconciliação, através de grandes contradições. Viver numa sociedade
capitalista e ao mesmo tempo pensarmos em nós como pessoas com uma ética requer
grande contradição. Gosto de pensar nas contradições quando escrevo. » [ípsilon,
9/10/15]
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