«Quando eu era pequena e ainda demorava
muito tempo a abotoar os sapatos de manhã, punha-me à escuta dos sons que
chegavam até mim vindos do corredor: o Papá, no andar de cima, fazia a barba na
casa de banho, e a Mãe, no andar de baixo, fritava o bacon. Começavam a
assobiar um para o outro, escada acima, escada abaixo. O meu pai assobiava a
sua frase, a minha mãe tentava assobiar, e depois respondia, cantarolando a
sua. Era o dueto deles. Eu abotoava e desabotoava a presilha dos sapatos e
escutava aquilo — sabia que era “A Viúva Alegre”. A diferença era que a canção
deles quase pairava no ar com risos: quão diferente do disco, que rosnava deste
o início, como se se estivesse a dar lentamente corda à grafonola. Eles continuavam
naquele diálogo musical através das escadas, onde eu já me encontrava, prestes
a descer batendo ruidosamente com os pés e a mostrar-lhes os meus sapatos já
calçados.»
Na origem deste livro estão três conferências
proferidas na Universidade de Harvard, em Abril de 1983, para inaugurar o ciclo
de conferências William E. Massey.
De Eudora Welty a Relógio
D’Água tem também publicados O Coração dos Ponders, A Filha do Optimista e Os
Melhores Contos.
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