«Gogol era uma criatura
estranha, mas o génio é sempre estranho; só o escritor de segunda ordem e são
de espírito é que parece ao leitor agradecido um sábio e velho amigo que expõe
com finura as suas próprias opiniões (do leitor) sobre a vida. A grande literatura
roça o irracional. O Hamlet é o sonho
demente de um académico neurótico. O Capote de Gogol é um pesadelo grotesco e sinistro que abre
buracos negros no desenho pouco claro da vida. O leitor superficial verá nessa
história apenas as cabriolas pesadas de um bufão extravagante; o leitor solene
terá como certo que a primeira intenção de Gogol era denunciar os horrores da
burocracia russa. Mas nem aquele que quer umas boas gargalhadas, nem o que
anseia por livros “que nos façam pensar” compreenderão de que trata O Capote realmente. Mas deem-me o
leitor criativo; este conto é para ele.» [Do Posfácio de Vladimir Nabokov]
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