2.7.15

Hélia Correia no JL e no Expresso




 

Maria Leonor Nunes entrevistou Hélia Correia para o último número do JL a propósito do Prémio Camões.


«Que significado tem para si este Prémio Camões?

Hélia Correia: É uma dádiva bonita, que recebo com gratidão. Mas sinto-me envergonhada, como uma menina que fosse chamada à tribuna e tivesse de atravessar uma sala com toda a gente a olhar para ela… (risos) E sinceramente muito deslocada.


Porquê?

Porque não sinto que tenha uma obra consistente. A minha vida é feita livro a livro, sem visão de conjunto, enquanto há outros grandes escritores vivos de língua portuguesa com aquilo a que se pode chamar “uma obra”. Isso deixou-me muito aflita. Mas pessoas importantes na minha vida não acharam graça nenhuma ao modo como reagi à notícia do prémio, quando disse isso mesmo, e têm ralhado comigo. Até acham que fui indelicada para os membros do júri, a última coisa que queria, porque conheço e admiro muito alguns deles, como o Mia Couto e o Pedro Mexia. Sou uma pessoa sem inteligência social. Instintivamente não sei lidar com a sociedade, nunca aprendi, nem quis…


Em compensação, tem uma grande inteligência emocional?

A minha vida é 100% determinada pelo afeto, a todos os níveis, o que em algumas circunstâncias pode ser desastroso. Deviam dar-me algum tempo para que essas pessoas amigas me ensinassem como reagir a um grande prémio como este.» [JL, 24-6-2015]

O jornal divulgou ainda quatro sonetos gregos inéditos de Hélia Correia. Além disso, o jornal publicou um ensaio de Rita Taborda Duarte:

«O universo literário de Hélia Correia é densamente reflexivo e humanista e nele reconhece-se uma sabedoria antiga. (…) Aliás, não tivesse um dia Hélia Correia afirmado [em entrevista a Ana Marques Gastão] que a “escrita é feita para derrubar o anjo e levantar o humano, é um elevador para a arrogância. A arrogância é o que dá luz aos mortais. Os próprios deuses aprenderam a escrever pela mão dos profetas, admitindo que lhes faltava aquela competência» [JL, 24-6-2015]


Na revista E do Expresso de 27 de Junho, Hélia Correia foi escolhida para a rubrica «Oito da Manhã»:

«“Acordar às oito horas? Mas eu não pertenço a esse planeta! Não me levanto antes do meio-dia. A noite é vivida até muito tarde…” O tempo é algo de relativo. Reage: “Nem relativo. É completamente exterior em mim.” Quando é que começou essa prática de dispensar as “matinas”? “Na escola primária só ia às aulas após o intervalo da manhã, nunca mais cedo. A professora era extraordinária e como eu já sabia escrever e ler bem, facilitou, condescendente.” De Hélia, apesar de aqui fotografada em Lisboa, é fácil lembrarmo-nos quase como de uma fada no meio do bosque, esse sim, o “seu planeta”. Ali fluem a natureza e seus sortilégios. “Há outro tempo, não o dos relógios, mas o que é concebido para que determinados fenómenos aconteçam naquele momento.”»

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