23.6.15

Sobre Elena Ferrante





«Elena Ferrante, romancista italiana de quem se sabe pouquíssimo, tornou-se um fenómeno internacional da última década, só comparável ao norueguês Knausgård. O que dela factualmente conhecíamos resumia-se ao volume de ensaios La frantumaglia (2003). Agora, os seus editores conseguiram entrevistá-la, e o texto, revisto, apareceu na última edição da Paris Review.

Ferrante não desvenda o seu verdadeiro nome e não revela quase nada sobre a sua vida, mas conversa sobre métodos de trabalho e sobre a questão da autoria.  Ela parte sempre de “fragmentos de memória” ainda sem linguagem, aquilo a que a sua mãe, em dialecto napolitano, chamava justamente “frantumaglia”: bocados de canções trauteadas que se transformam noutras canções, locais cuja localização exacta se perdeu, casas que nos lembramos da infância, vozes. Esses estilhaços vão-se organizando segundo uma ordem e uma tensão. Mas tão elogiada “sinceridade” é apenas um motor de arranque: a escrita faz-se com a justeza das palavras e com a energia das frases. Há uma “verdade literária”, uma verdade da prosa, sem a qual a simples verdade biográfica de pouco vale. E a romancista define a sua prosa como sólida, lúcida, controlada, mas exposta a quebras, rugas, sobreaquecimentos. (…) Os leitores, acredita Ferrante, serão capazes de descobrir o “verdadeiro” autor, “em cada palavra ou violência gramatical ou nó sintáctico”, tal como descobrem, aos poucos, a personalidade de uma personagem.» [Pedro Mexia, Expresso, E, 13-06-2015]
 
De Elena Ferrante, a Relógio D'Água publicou Crónicas do Mal de Amor e A Amiga Genial, primeiro volume da Tetralogia Napolitana.

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