«Elena Ferrante, romancista italiana de quem se sabe pouquíssimo,
tornou-se um fenómeno internacional da última década, só comparável ao norueguês
Knausgård. O que dela factualmente conhecíamos resumia-se ao volume de ensaios La
frantumaglia (2003). Agora, os seus editores conseguiram entrevistá-la, e o
texto, revisto, apareceu na última edição da Paris Review.
Ferrante não desvenda o seu verdadeiro nome e não revela
quase nada sobre a sua vida, mas conversa sobre métodos de trabalho e sobre a
questão da autoria. Ela parte sempre de “fragmentos
de memória” ainda sem linguagem, aquilo a que a sua mãe, em dialecto napolitano,
chamava justamente “frantumaglia”: bocados de canções trauteadas que se
transformam noutras canções, locais cuja localização exacta se perdeu, casas
que nos lembramos da infância, vozes. Esses estilhaços vão-se organizando
segundo uma ordem e uma tensão. Mas tão elogiada “sinceridade” é apenas um
motor de arranque: a escrita faz-se com a justeza das palavras e com a energia
das frases. Há uma “verdade literária”, uma verdade da prosa, sem a qual a
simples verdade biográfica de pouco vale. E a romancista define a sua prosa
como sólida, lúcida, controlada, mas exposta a quebras, rugas,
sobreaquecimentos. (…) Os leitores, acredita Ferrante, serão capazes de
descobrir o “verdadeiro” autor, “em cada palavra ou violência gramatical ou nó
sintáctico”, tal como descobrem, aos poucos, a personalidade de uma
personagem.» [Pedro Mexia, Expresso, E, 13-06-2015]
De Elena Ferrante, a Relógio D'Água publicou Crónicas do Mal de Amor e A Amiga Genial, primeiro volume da Tetralogia Napolitana.
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