«Tal como essa
mulher, presa a vida inteira a um episódio antigo, outras personagens estão
suspensas da intensidade de um detalhe, que se afirma no meio da calma e da
duração destas histórias extensas. Pequenos acontecimentos e observações
substituem as grandes epifanias: o envelhecimento não uniforme de um corpo
feminino, uma mensagem de telefone que diz o que não se disse ao vivo, o medo
infundado de que alguém se suicide, uma conversa sobre Turguénev que esconde
uma deslealdade, uns doentes a quem as enfermeiras dão roupas de terceiros
pensando que eles nem notam. Não há muita gente a escrever tão atentamente
sobre a velhice como Munro. E “O Outro Lado da Montanha”, a obra-prima deste
conjunto, concebe uma brilhante coreografia tragicómica que envolve dois velhos
hospitalizados, que se tornaram íntimos, e os seus cônjuges, ainda saudáveis,
divididos entre a fidelidade e a solidão. Gente patética e comovente, que quer
apenas sentir-se ainda viva.» [Pedro Mexia, Expresso, atual,
29-11-2014]
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