A Relógio
D’Água editou em 1987 o primeiro romance de Patrick Modiano, Prémio Nobel da
Literatura 2014, em Portugal.
O livro Na
Rua das Lojas Escuras (Rue des Boutiques Obscures) foi traduzido por
Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira.
A obra
recebeu o Prémio Goncourt em 1978.
«Deu-se então em mim uma espécie de estalido. O panorama que se avistava daquele quarto provocava-me um sentimento de inquietação, uma apreensão que eu já conhecera. Aquelas fachadas, aquela rua deserta, aquelas silhuetas de sentinela no crepúsculo perturbavam-me à maneira insidiosa de um perfume ou de uma canção outrora familiares. E tive a certeza de que muitas vezes, àquela mesma hora, ficara ali, imóvel, à espreita, sem fazer o menor gesto, sem ousar sequer acender a luz. Quando tornei a entrar na sala, julguei que já não havia lá ninguém, mas afinal estava a dona da casa estendida no banco de veludo. Dormia. Aproximei-me silenciosamente e sentei-me na outra ponta do banco. Uma bandeja com um bule e duas chávenas, no meio do tapete de lã branca. Tossi um pouco. Ela não acordou. Então, deitei chá nas duas chávenas. Estava frio.»
«Deu-se então em mim uma espécie de estalido. O panorama que se avistava daquele quarto provocava-me um sentimento de inquietação, uma apreensão que eu já conhecera. Aquelas fachadas, aquela rua deserta, aquelas silhuetas de sentinela no crepúsculo perturbavam-me à maneira insidiosa de um perfume ou de uma canção outrora familiares. E tive a certeza de que muitas vezes, àquela mesma hora, ficara ali, imóvel, à espreita, sem fazer o menor gesto, sem ousar sequer acender a luz. Quando tornei a entrar na sala, julguei que já não havia lá ninguém, mas afinal estava a dona da casa estendida no banco de veludo. Dormia. Aproximei-me silenciosamente e sentei-me na outra ponta do banco. Uma bandeja com um bule e duas chávenas, no meio do tapete de lã branca. Tossi um pouco. Ela não acordou. Então, deitei chá nas duas chávenas. Estava frio.»
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