«A poesia de Dickinson é marcada por uma peculiar
gramaticalidade: inserção forçada de plurais, posições sintácticas invertidas,
ou, muitas vezes, desrespeito pelos géneros, pelas pessoas ou pelas
concordâncias verbais. É ainda necessário destacar da linguagem de Dickinson
não só os desvios sintáctico-formais, mas ainda os desvios
semânticos internos, aqueles que sustentam, pela ruptura, a arquitectura dos seus
textos poéticos e que resultam numa linguagem críptica, compacta, plena de
elipses, traduzida em textos que desafiam a tradição da poesia enquanto
comunicação e oferecem à linguagem literária um lugar de destaque e autonomia
mais próximo da estética que informa a poesia moderna. Excessiva, em relação ao
seu tempo; excessiva, mesmo em relação ao nosso, pela opacidade de leitura e
apreensão e pelas temáticas envolvidas. “Uma linguagem altamente desviante que
arrisca tudo”, como defende David Porter, pois, “na extrema elipse e
transposição, desbasta a armadura mesma do sentido”.» [Do Posfácio]
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