«Como sempre em Rui
Nunes, um fulgor maldito da linguagem, agónico, sufocante, esplendoroso,
avassalador, desabrido. Mas a força desta linguagem impõe-se, ou impõe vida,
enquanto força e ousadias que por si mesmas contrariam o nada e a morte que
apregoa, o negro e terrível que nela se diz. Nenhuma palavra diz o que parece
dizer, e o autor sabe-o como ninguém. Mas nem ele escapa ao seu poder enredante
e maléfico. Nem à pulsão-paixão extravagante para escavar imparavelmente o real
e as coisas, perfurando-os por palavras, algumas já em desuso, num desassombro
a que não estamos habituados. Há uma força rude na (a)firmação do sexual, do
homossexual – e neste campo ninguém entre nós terá ido tão longe. Seria
interessante fazer um inventário de nomes que Rui Nunes emprega e que nos são
já familiares.»
[Maria da Conceição
Caleiro, Público, Ípsilon, 08-08-2014]
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