«O leitor acompanha essa mutação, desde o acto transformador
— o aparente suicídio de uma mulher de 60 anos contado pela filha, o sentimento
de abandono e traição de uma mulher que se achava no
casamento-tão-perfeito-quanto-pode-ser-um-casamento, ou a sensação de liberdade
de uma mãe na consciência ferida por um acidente, o alívio de não ter as filhas
por perto, o peso de um amor que sente tê-la castrado de si mesma. O que isso
lhe desperta é mais uma vez da ordem do não muito bem visto pela sociedade burguesa
que gere os costumes. Em cada uma destas histórias, o narrador é uma mulher, um
“eu” que se apropria dos acontecimentos no modo como transmite a sua versão. E
é esse íntimo incómodo que interessa a Ferrante e a coloca a par de outras
escritoras que sondam os limites da dimensão humana e, em particular, do
feminino, em monólogos sobre a sobrevivência e a luta entre a moral e o
individual, o doméstico e o exterior, a sexualidade e o pudor.» [Isabel Lucas, Público, ípsilon,
29-8-2014]
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