No último Atual,
de 22 de Fevereiro, José Mário Silva entrevista a escritora norte-americana Rachel
Kushner a propósito do seu romance Os Lança-Chamas, considerado por
muitos críticos e leitores o melhor livro de 2013.
«E se em 2013
o “grande romance americano” fosse escrito por uma mulher? A pergunta, feita em
jeito de provocação por Laura Miller num artigo publicado na Salon
(intitulado “O novo romance de Rachel Kushner assusta os críticos literários”)
tocou num nervo sensível e gerou, previsivelmente, um aceso debate. A ideia do great
american novel, o romance capaz de encapsular uma época e
desenhar uma imagem do país como um todo, é um desígnio meio utópico que
costuma estar reservado, diz Miller, aos autores masculinos – como se os homens
pudessem aspirar a fixar o que existe de essencial na Humanidade inteira,
enquando as romancistas estariam confinadas a narrar a experiência de ser
mulher. (…)
Se a maior
parte das autoras não se candidatam ao estatuto de “grande romance americano”,
ou talvez nem sequer tentem escrevê-lo, pode dizer-se que Rachel Kushner chegou
lá perto, com Os Lança-Chamas, lançado esta semana em Portugal pela Relógio
D’Água. Porquê? Porque teve a desfaçatez de apostar num livro arrojado e sem
medo da sua própria ambição. Em cerca de 400 páginas, Kushner vai dos desertos
de sal do Utah (palco de recordes de velocidade terrestre) aos círculos artísticos
de Nova Iorque nos anos 70 e às lutas políticas da extrema-esquerda italiana
nos Anos de Chumbo, com passagens pela I Guerra Mundial e pelas plantações de
borracha brasileiras nas primeiras décadas do século XX.»
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