Rui Nunes, ficcionista
e professor de Filosofia, em entrevista a Alexandra Carita, «reflete sobre o
conceito de pátria num momento em que a viagem é determinante para esbater
fronteiras que se reforçam
AC: E “quem
da pátria sai a si mesmo escapa”, como pergunta no título de um livro seu?
RN: Não. O
problema é esse. Sair da pátria é relativamente fácil, escapar a nós próprios é
que é difícil. Isto é, escapar daquilo que a pátria foi fazendo em nós e
daquilo que nós somos. Disso é difícil escapar.
AC: E como
escapamos da pátria?
RN: Continuando
a subvertê-la. É a ilha dos subversivos, dos excluídos, que vai contribuir para
a destruir. São os outros, os diferentes que vão destruir o que resta dessa pátria.
Porque a Europa vai sentir um dia a ira daqueles que excluiu e daqueles que viram
morrer os seus como lixo às portas dessa pátria mítica. A Europa vai pagar
isto. E essa ira vai contribuir para dar um passo em frente.
AC: Quando
regressa a Portugal também encontra essa ira nos excluídos?
RN: Não.
Aquilo que me perturba em Portugal é a mansidão. Isto é terrífico. Este povo
foge, não enfrenta.»
[Da
entrevista de Alexandra Carita a Rui Nunes, Expresso, Atual, 30-11-2013]
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