9.12.13

Entrevista a Rui Nunes





Rui Nunes, ficcionista e professor de Filosofia, em entrevista a Alexandra Carita, «reflete sobre o conceito de pátria num momento em que a viagem é determinante para esbater fronteiras que se reforçam


AC: E “quem da pátria sai a si mesmo escapa”, como pergunta no título de um livro seu? 

RN: Não. O problema é esse. Sair da pátria é relativamente fácil, escapar a nós próprios é que é difícil. Isto é, escapar daquilo que a pátria foi fazendo em nós e daquilo que nós somos. Disso é difícil escapar.

AC: E como escapamos da pátria?

RN: Continuando a subvertê-la. É a ilha dos subversivos, dos excluídos, que vai contribuir para a destruir. São os outros, os diferentes que vão destruir o que resta dessa pátria. Porque a Europa vai sentir um dia a ira daqueles que excluiu e daqueles que viram morrer os seus como lixo às portas dessa pátria mítica. A Europa vai pagar isto. E essa ira vai contribuir para dar um passo em frente.

AC: Quando regressa a Portugal também encontra essa ira nos excluídos?

RN: Não. Aquilo que me perturba em Portugal é a mansidão. Isto é terrífico. Este povo foge, não enfrenta.»

[Da entrevista de Alexandra Carita a Rui Nunes, Expresso, Atual, 30-11-2013]

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