«Durante
muito tempo fui para a cama cedo. Por vezes, mal apagava a vela, os olhos
fechavam-se tão depressa que não tinha tempo de pensar: “Vou adormecer.” E,
meia hora depois, era acordado pela ideia de que era tempo de conciliar o sono;
queria poisar o volume que julgava ter nas mãos e soprar a chama de luz;
dormira, e não parara de reflectir sobre o que acabara de ler, mas tais reflexões
haviam tomado um aspecto um tanto especial; parecia-me que era de mim mesmo que
a obra falava…»
«Em 2003, Pedro
Tamen (n. 1934) traduzia desta forma para português as palavras que Marcel
Proust vira finalmente impressas no dia 14 de Novembro de 1913. Du Coté
de Chez Swann (Do Lado de Swann, ed. Relógio D’Água) saía em edição de
autor com o selo da então jovem editora Grasset, após várias recusas, uma
delas, histórica, a da NRF/Gallimard, com parecer negativo de André Gide
(1869-1951, Nobel em 1947), o mesmo que, depois de ler a obra publicada
reconsiderou e chamou “extraordinário” a Proust. Foi há cem anos. Há dez,
Portugal tinha uma tradução à altura.» [Isabel Lucas, Público, ípsilon,
8-11-2013]
«Estamos a 14
de Novembro de 1913 quando é publicado, em França, o primeiro volume de uma
obra que hoje tem lugar obrigatório em qualquer lista dos livros mais
importantes desde o fim do século XIX: Em Busca do Tempo Perdido, de
Marcel Proust.
Iniciado por
volta de 1908-1909, o primeiro tomo da série tem por título “Do Lado de Swann”.
Seguir-se-iam outros seis (“À Sombra das Raparigas em Flor”, “O Lado de
Guermantes”, “Sodoma e Gomorra”, “A Prisioneira”, “A Fugitiva” e “O Tempo
Reencontrado”), escritos durante 14 anos e publicados até 1927, os três últimos
postumamente.
Pode dizer-se
que Marcel Proust (1871-1922) viveu e morreu para escrever esta obra
monumental, que o consumiu. (…)
Os sete
livros falam de tudo e mais alguma coisa. De amor, de ciúme, de inveja, de
sexualidade (homossexualidade, sobretudo), de arte, de música, numa panóplia de
personagens e abordagens que formam um excelente fresco da sociedade francesa
do fim do século XIX. Por toda a obra, a grande questão: a passagem do tempo, o
implacável tempo, que mina todos os sentimentos, até o amor.» [José Cardoso,
Expresso, Revista, 9-11-2013]
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