«Na
segunda parte d’A Educação Sentimental, Jacques Arnoux já não é o
proprietário do Art Industriel (estabelecimento híbrido [em
Montmartre] que incluía um jornal de pintura e uma loja de quadros). Quando
Frédéric o encontra na sua casa nova na rua Paradis-Poissonnière, explica-lhe
porque mudou de indústria:
“—
Que fazer numa época de decadência como a nossa? A grande pintura passou de
moda! Aliás, pode meter-se a arte em tudo. Sabe, eu aprecio o Belo! Um dia
destes hei-de levá-lo à minha fábrica.
E
quis mostrar-lhe, imediatamente, alguns dos seus produtos no armazém da
sobreloja.
As
travessas, as terrinas, os pratos e as saladeiras enchiam o sobrado. Encostados
às paredes encontravam-se largos mosaicos para casas de banho e gabinetes de
toilette, com temas mitológicos em estilo Renascença, enquanto, no meio, uma
espécie de estante dupla, que chegava ao tecto, servia de suporte a recipientes
para guardar gelo, a vasos para flores, a candelabros, a pequenas floreiras e a
grandes estatuetas polícromas representando um negro ou uma pastora vestida à
pompadour. As explicações de Arnoux aborreciam Frédéric, que tinha frio e fome.”
Deixemos,
pois, Frédéric cear e afastar as mágoas do seu amor-próprio beliscado pela
indiferença da senhora Arnoux, mas só depois de sublinhar os dois pensamentos
modernos do negociante de faiança: meter a arte em tudo; apreciar o Belo!» [a
propósito de A Educação Sentimental, de Gustave Flaubert, no blogue
Malone Meurt]
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