3.5.13

Soren Kierkegaard (05-05-1813/11-11-1855)




«Soren Kierkegaard (1813-1855) não é daqueles filósofos de quem se espera uma teoria completa e arrumada sobre um qualquer magno assunto. Sartre dizia mesmo que não era filósofo, antes um cristão que recusava sistemas e afirmava a irredutibilidade do vivido. A subjetividade variável tem reflexos no dispositivo textual, com a utilização de pseudónimos e a sobreposição de diferentes registos, numa espécie de ronda permanente em torno das questões. Esse desconstrucionismo aplicado torna-o inconfundivelmente moderno. Reconhecido como um dos pais do existencialismo, a qualidade imaginativa do seu estilo, a oposição à autoridade religiosa e a própria coincidência de obras de diversos géneros no seu corpus — diários, ensaios, panfletos, etc. — também contribuem para o tornar apelativo.» [Luís M. Faria, Atual, 19-01-2013]



«É costume dizer-se que o ócio é uma raiz de todo o mal. Para impedir o mal, recomenda-se trabalho. Entretanto, vê-se facilmente, tanto pela temida ocasião como pelo remédio recomendado, que toda esta observação é de extracção muito plebeia. O ócio, nessa sua qualidade, não está de todo na raiz do mal, pelo contrário, constitui uma vida verdadeiramente divina, quando não nos entediamos. (…)
O tédio é o panteísmo demoníaco. Ao permanecer nele enquanto tal, então, o tédio torna-se o mal; ao invés, assim que é relevado, então, é verdadeiro; mas é relevado apenas através do divertir-se — ergo o homem deve divertir-se. Afirmar que é relevado por via do trabalho denota ausência de clareza; pois o ócio pode seguramente ser anulado pelo trabalho, dado que este é o seu contrário, mas o tédio não pode, o que até também se verifica no facto de os trabalhadores mais diligentes, os insectos mais zumbidores no seu cioso zunido, serem os mais entediantes de todos; e quando não se entediam, conclui-se que não fazem qualquer ideia do que é o tédio; mas, então, o tédio não é relevado.» [Soren Kierkegaard, in Ou—Ou. Um Fragmento de Vida, Primeira Parte]

Sem comentários:

Enviar um comentário