31.10.12

Luísa Mellid-Franco sobre Ana Teresa Pereira




 

Declaração de voto de Luísa Mellid-Franco para o Grande Prémio de Romance e Novela da APE 2011, atribuído a Ana Teresa Pereira, por O Lago.

 

«Lembro uma entrevista que Ana Teresa Pereira concedeu a Leonor Xavier em que parecia referir a sua escrita como algo de terminal, de irremediavelmente à beira do abismo, como se cada livro fosse o último, aquele em que se joga tudo. Reivindicava também, citando Borges, que quando se está em perfeita sintonia com o livro, a realidade começa a ceder. Referia-se também ao ato de escrever como a um jogo de cartas, e justificava o facto de repetir, de livro para livro, referências, cenários e personagens no sentido em que todo escritor comprometido teria «uma mão de cartas», e que seria com elas «que joga eternamente». Assim, multiplicando, vestida de cada um dos atores a quem distribui papéis e palcos diferentes, confessa que cada livro é o seu filme, onde encena espaço, tempo e identidade e só consegue fazê-lo parque transporta a consistência das suas personagens sob a mesma capa identitária, abstendo-se de separar vida e literatura. (…) Também o palco dos seus livros sedimentou confortavelmente nos lugares de Enid Blyton, Jane Austen, Daphne du Maurier e Conan Doyle, resultando num mundo em que as ruas e as casas têm os mesmos nomes ingleses da ficção, dos policiais, dos westerns, dos livros e dos filmes em que construiu a sua imagética.(…)»

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