Declaração de
voto de Luísa Mellid-Franco para o Grande Prémio de Romance e Novela da APE
2011, atribuído a Ana Teresa Pereira, por O Lago.
«Lembro uma
entrevista que Ana Teresa Pereira concedeu a Leonor Xavier em que parecia
referir a sua escrita como algo de terminal, de irremediavelmente à beira do
abismo, como se cada livro fosse o último, aquele em que se joga tudo.
Reivindicava também, citando Borges, que quando se está em perfeita sintonia
com o livro, a realidade começa a ceder. Referia-se também ao ato de escrever
como a um jogo de cartas, e justificava o facto de repetir, de livro para
livro, referências, cenários e personagens no sentido em que todo escritor
comprometido teria «uma mão de cartas», e que seria com elas «que joga
eternamente». Assim, multiplicando, vestida de cada um dos atores a quem
distribui papéis e palcos diferentes, confessa que cada livro é o seu filme,
onde encena espaço, tempo e identidade e só consegue fazê-lo parque transporta
a consistência das suas personagens sob a mesma capa identitária, abstendo-se
de separar vida e literatura. (…) Também o palco dos seus livros sedimentou
confortavelmente nos lugares de Enid Blyton, Jane Austen, Daphne du Maurier e
Conan Doyle, resultando num mundo em que as ruas e as casas têm os mesmos nomes
ingleses da ficção, dos policiais, dos westerns, dos livros e dos filmes em que
construiu a sua imagética.(…)»
Sem comentários:
Enviar um comentário