17.10.12

A chegar às livrarias





James Joyce encontrou Nora Barnacle em 1904 em Dublin quando ela era ainda uma jovem de cabelos ruivos e ondulados e andar altivo. Joyce era então um jovem tímido que passeava as suas ambições literárias em longos passeios solitários pela cidade.
Estas cartas de Joyce tornaram-se famosas há duas décadas pela crua descrição das suas fantasias sexuais, mas são muito mais do que isso.
Nora desempenhou um papel essencial na vida de Joyce e na criação das personagens femininas. O próprio Joyce reconhece numa das cartas que o corpo «musical e estranho e perfumado» de Gretta Conroy em «Os Mortos» é inspirado em Nora, que reaparece na Bertha de Exílios, na Molly Bloom de Ulisses, e até na Anna Livia de Finnegans Wake.
As cartas a Nora concentram-se em dois grandes períodos. O primeiro é em 1904, ano do seu encontro. É a emocionante crónica do surgimento de uma paixão amorosa, ao mesmo tempo romântica e erótica, atravessada pelas dúvidas e os ciúmes de Joyce.
Outro período tem começo em Julho de 1909, quando Joyce está em Dublin com o filho e Nora permanece em Trieste, onde o casal se havia fixado. Esta separação e a provável intriga de um amigo do escritor vão provocar uma profunda crise em Joyce, cujos ciúmes se intensificam. É neste período que as cartas oscilam entre o céu e o inferno, o ciúme e a entrega, o romântico e o obsceno.






«Por vezes fixo uma data, talvez até ao fim da minha vida. E quando chegar um dia antes desse dia, posso lembrar-me sempre de um facto que se lhe prende. Não importa que seja um aniversário. Pode não passar de um gesto, de um rosto que para sempre ficou perdido na distância não só do tempo como de uma rua, de uma sala de museu, de uma loja. Durou segundos, mas traz o traço, a sombra, a luminosidade capaz de se prender pelo que houver de longo na minha vida. Irrompe no exacto dia do aniversário da sua aparição, ou andará próximo desse instante. Nem sempre é um rosto, um corpo, ou um melro morto à beira de um passeio. Um objecto pode ser o senhor desse domínio festivo. Mesmo a morte de um melro ou de alguém amado transporta consigo um sentido de festa, de coisa que se comemora no mais secreto. Neste dia assalta-me sempre o tapete de Samarcanda. Como se descesse no meu pátio vindo dos céus do Uzbequistão.» [ 8 de outubro de 2003]


O Próximo Outono é um diário escrito ao longo de um ano que terminou em outubro de 2004.

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