«A minha mãe passou anos a dizer que eu era
egoísta, descuidada, irresponsável, etc. Muitas vezes, irritava-se. E quando eu
queria responder, tapava os ouvidos com as mãos. Fez tudo o que pôde para
mudar-me, mas os anos passavam e eu não mudava, ou, se mudava, nunca tinha a
certeza de ter mudado, porque nunca houve um momento em que a minha mãe
dissesse: “Deixaste de ser egoísta, descuidada, irresponsável, etc.” Agora sou
eu que me digo: “Porque é que não és capaz de pensar primeiro nos outros?
Porque não prestas atenção ao que estás a fazer? Porque não te lembras do que
tens de fazer?” Irrito-me. Concordo com a minha mãe. Sou um caso tão difícil!
Mas não lho posso dizer, a ela — porque, no momento em que lho quero dizer,
estou aqui ao telefone com ela, a ouvi-la e preparada para me defender.»
[Lydia Davis, «Um Caso Tão Difícil», de Contos Completos]
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