Na sua crónica do Atual, suplemento do Expresso
de 9 de Junho, Pedro Mexia escreve sobre O Naufrágio do Titanic, de
Joseph Conrad, um dos últimos lançamentos da Relógio D’Água: «Quando o Titanic
foi ao fundo, Conrad percebeu que tinha de algum modo “antecipado” aqueles
acontecimentos. (…) Homem céptico e pessimista, Conrad abominava o conceito do Titanic,
que achava um “Ritz marítimo”, um exemplo de gigantismo fátuo e de ostentação.
O navio possuía todas as comodidades exigidas pelos seus ricos passageiros, mas
de que vale ter cafés temáticos e centenas de empregados solícitos, quando não
há suficientes botes e suficiente disciplina? E que dizer da ideia grotesca de
um navio “inafundável”? Todos os navios podem ir ao fundo, e ainda mais quando
se trata de um hotel flutuante, um ferry monstruoso, ao serviço do lucro
e do luxo, do comercialismo e da publicidade. Para o escritor, o Titanic
representava o “progresso” no seu aspecto mais contestável, que é a capacidade
de criar uma sensação eufórica de “falsa segurança”.»
No mesmo Atual, Hugo Pinto Santos escreve sobre Música
de Câmara, de James Joyce: «A dimensão musical, aliás, está longe de ser um
aspeto subsidiário neste livro de estreia, que persegue a melopeia do vocábulo
breve e aberto, a assonância e a ressonância fónico-verbal. Poucas vezes, como
neste trabalho de João Almeida Flor, traduzir terá sido, com tal fulgor e arte,
recriação do poema, reconstrução do que poderia chamar-se “estado poético” da
linguagem. Mais do que fidelidade, há uma descida ao inferno do sentido e uma
superação do suplício.»
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