Dalton
Trevisan, o escritor brasileiro, talvez devêssemos dizer curitibano,
acaba de receber o Prémio Camões.
A
editora Relógio D’Água publicou em 1984 o seu único livro saido
em Portugal, Cemitério de Elefantes, com prefácio de
Fernando Assis Pacheco e capa de João Botelho.
Destacamos
em seguida dois fragmentos desse prefácio:
«Otto
Lara Resende diz que “ninguém sabe quem é Dalton Trevisan. Deus
mesmo não sabe e nem por isso se impacienta”. Ele faz vida de
“severo anacoreta” na Rua Emiliano Perneta, em Curitiba, de onde
regularmente envia ao seu editor algum novo original. Há vinte e
cinco anos mandava folhetos de cordel aos amigos.
Nesse
tempo Curitiba teria talvez metade da população que tem em 1984 e
os bêbados eram levados por um tropismo indecifrável para o lugar
de espera e torpor que Dalton Trevisan classifica como cemitério
de elefantes. Com toda a probabilidade o cemitério continua onde
estava, só os bêbados duplicaram de número. Curitiba passou o
milhão de habitantes. (…)
E para
nos dar esta Curitiba povoada por estes curitibanos tragicómicos, a
um pêlo do pícaro, Dalton Trevisan foi-se à eloquênica e
cravou-lhe a faca. Ironia, elipse, nenhuma cedência ao romantismo
nem ao realismo mágico, aí estão outras armas brancas do escritor,
afiadas à secretária-mesa-de-cela-monacal. Uma busca pela
vivissecção?»
Para quando a reedição?
ResponderEliminar