13.8.10

Stendhal no Público


«O autor então escreve o que poderia ser o lema da primeira parte de Do Amor, em 1818: "Faço todos os esforços possíveis para ser 'seco'. Quero impor silêncio ao meu coração que julga ter muito para dizer." E tem, e é nos interstícios desse balançar que mais nos comove. Não correspondido, tudo nesse amor será patética e prosaicamente escalpelizado, feito até um périplo geográfico pelos costumes, de França aos EUA, passando pela Arábia, na tentativa de forjar uma ciência, uma "ideologia" que devolvesse racionalmente ao espírito o informe, dissecando-o ponto por ponto mas sem sucesso.»



«Voltemos a O Vermelho e o Negro, livro para férias e para sempre, talvez a obra-prima de Stendhal: quem poderá esquecer a paixão extrema de Madame de Rênal e de Mademoiselle Mathilde La Molle por Julien Sorel, os seus meandros, psicológicos e epocais, essa cartografia algo shakespeareana do amor, da ambição e da morte como única forma de expiação.»

[Maria Conceição Caleiro, Ípsilon, 13AGO2010]

11.8.10

Entrevista a José Gil





[LL] O que é ser professor de filosofia?
[JG] É fazer com que aquele acontecimento que não se sabe o que é, e que Platão classfiicou como o «espanto» diante de existir, se prolongue em pensamento. Fazer filosofia é pensar. É aprender a pensar, ensinar a pensar, mas ensinar aprendendo, porque o professor de filosofia é, como dizia Husserl, sempre um principiante.

[LL] Reformou-se. O que vai fazer agora?
[JG] Tanta coisa! Por exemplo, gostava de reunir uma série de conceitos filosóficos que forjei e que estão dispersos. Gostava de encadeá-los num plano único.

[LL] José Sócrates é o protótipo de uma certa forma de ser portuguesa?
[JG] Para mim, ele representa a possibilidade de um autoritarismo encapotado, de que desconhecemos a natureza. Estou convencido que, num contexto adequado, a pulsão autoritária de Sócrates se expandiria e floresceria.

[Entrevista conduzida por Luciana Leiderfarb, Atual, 7AGO2010]

Recensão ao último livro de Maria Andresen no JL


«Poderíamos ler este livro como se constituído por apontamentos; uma espécie de roteiro intimista onde descrição e lirismo convivem de forma fluída como se uma voz, sempre desafiadora dos limites dos géneros literários, soubesse como reduzir e ao mesmo tempo ampliar significação do mundo através do texto.»

[António Carlos Cortez, JL, 28JUL]

9.8.10

António Barreto em entrevista sobre os Ensaios da Fundação


[JM] As edições da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) apostam em tiragens de dezenas de milhares de exemplares, preços inferiores a cinco euros e disponibilidade em estações de correios, bombas de gasolina ou grandes superfícies. Fale-me um pouco sobre a filosofia editorial da colecção.

[AB] Pretendemos convidar os portugueses a ler ensaios, que são verdadeiros instrumentos de informação, aprendizagem, formação e reflexão. Planeámos publicações para os próximos dois ou três anos, de modo a abordar grande número de questões actuais e relevantes da sociedade. Como sabemos que muitas pessoas não frequentam livrarias, queremos levar os livros até onde as pessoas estão: centros comerciais, supermercados, quiosques, etc. Desejamos por outro lado ter a certeza de que o custo não é um obstáculo à leitura: daí os preços muito acessíveis. Finalmente, não nos dirigimos apenas às chamadas elites: queremos escrever e editar para toda a gente. Donde as grandes tiragens. Temos ainda a preocupação de pedir aos autores uma escrita clara e adequada a ser compreendida por todos os profissionais, não apenas por especialistas.

[Entrevista conduzida por João Morales, Revista Os Meus Livros, AGO2010]

6.8.10

«O Ensino do Português» no Ípsilon


«O Ensino do Português sintetiza o discurso estóico sobre a natureza do ensino, um dos que têm ocupado a cena pública desde que o Estado Novo ruiu sem deixar herança viável para o seu modelo de escola.
A palavra-chave da pedagogia estóica é a "exigência" e o seu inimigo é a "facilidade" e o "lúdico". Há uma superioridade evidente no estoicismo pedagógico sobre o seu adversário: o poder crítico, praticamente nulo nos defensores da escola "fácil". Com base nessa superioridade, Maria do Carmo Vieira consegue produzir uma imagem do que se faz (ou se espera que se faça) hoje em muitas aulas de português, que é verdadeiramente aterradora.»

[Gustavo Rubim, Ípsilon, 6AGO2010]

2.8.10

Rui Catalão sobre «Nudez» de Agamben


«Giorgio Agamben reflecte sobre o belo, a nudez e a identidade e mergulha o ser contemporâneo nas suas origens sagradas.(...)

"Nudez" é o texto central desta recolha de dez ensaios. As suas fulgurantes 35 páginas traduzem um pensamento laborioso, que se vai cerzindo com um olhar sobre manifestações da arte contemporânea e uma minuciosa leitura de textos teológicos (antigos e modernos) em redor do "Génesis", do tema da graça e do pecado original.»

[Rui Catalão, Ípsilon, 30JUL2010]