Prefácio e Tradução de
Maria Gabriela Llansol
PVP €20
«Mas Pierre Louÿs viu apenas esta [imagem] – um pé-de-libido a nascer de um sexo. Esboçou-se na sandália que atirou à água.
As ancas rodaram em torno do ventre.
Foi como acenar com uma gota a um líquido dormente. Um pé desembaraçou-se da outra sandália. Purificada a planta dos pés, o busto livrou-se da contrariedade do vestido. E, nu, o pé-de-libido deitou-se à água.
E mais não viu. Os seios não voltaram para quebrar a limpidez das águas, nem o corpo flutuou à sua superfície.
Não era Vénus nem Ofélia. Nem sereia anfíbia. Viu, sem saber, uma matéria figural irradiante e enigmática. Uma folha de água caindo às águas. E, como linguagem, um vazio iluminado pelo encantamento – quem é o sexo?»
[Do Prefácio de Maria Gabriela Llansol]
Pierre Louÿs nasceu em Gante, Bélgica, em 10 de Dezembro de 1870, e morreu em Paris em Junho de 1925. Estudou em Paris onde se tornou amigo de André Gide. Ainda na sua juventude interessou-se pelo parnasianismo, cujo autor principal foi Leconte de Lisle, e mais tarde estabeleceu contactos com os poetas simbolistas.
O seu primeiro livro de poesia Astarté foi publicado em 1893. No ano seguinte publicou O Sexo de Ler de Bilitis, considerada a sua principal obra. Como é sabido, Louÿs apresentou os seus poemas como se fossem a tradução de uma poetisa grega contemporânea de Safo. Mas o engano não durou muito e, em breve, o tradutor Louÿs foi reconhecido como autor da obra. São poemas em prosa, em que as educações da natureza e cena eróticas são recorrentes. Estes poemas inspiraram Claude Debussy, que os adaptou como canções para voz e piano.
Pierre Louÿs escreveu também romances como Aphrodite (1896) e La femme et la pantin (1898). Em 1916 publicou uma composição libertina, Manuel de civilité pour les petites filles à l’usage des maisons d’éducation. Num período em que era já atingido por dificuldades financeiras, escreveu, em 1917, Isthi, Poëtique e Pervigilium mortis.