«PERPENA
Não sei o que tenho, Áufide, nem por que razão
A minha palavra não se impõe ao coração?
O horror que, contra vontade, a traição me inspira
Faz-me pensar o contrário do que ambiciono.
E dessa grandeza alicerçada sobre o crime,
Cuja ideia até hoje tanto me fez sonhar,
A imagem repugnante, na altura da execução,
Já não tem em mim um braço para a realizar.
Em vão a ambição que anima a minha coragem,
Com um falso brilho de honra adorna o seu negro lavor;
Em vão para me submeter aos seus cobardes esforços,
A minha alma sacudiu o jugo de mil remorsos:
Essa alma, contra si própria de súbito dividida,
Reergue desses remorsos a grilheta não rompida;
E de Sertório a surpreendente fortuna
Segura um braço prestes a furar-lhe o coração.» [p. 19]
Sertório, de Corneille (trad. Nuno Júdice) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/sertorio/
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