1.10.21

De Sertório, de Corneille

 



«PERPENA

Não sei o que tenho, Áufide, nem por que razão

A minha palavra não se impõe ao coração?

O horror que, contra vontade, a traição me inspira 

Faz-me pensar o contrário do que ambiciono.

E dessa grandeza alicerçada sobre o crime,

Cuja ideia até hoje tanto me fez sonhar,

A imagem repugnante, na altura da execução,

Já não tem em mim um braço para a realizar.

Em vão a ambição que anima a minha coragem,

Com um falso brilho de honra adorna o seu negro lavor;

Em vão para me submeter aos seus cobardes esforços,

A minha alma sacudiu o jugo de mil remorsos:

Essa alma, contra si própria de súbito dividida,

Reergue desses remorsos a grilheta não rompida;

E de Sertório a surpreendente fortuna

Segura um braço prestes a furar-lhe o coração.» [p. 19]


Sertório, de Corneille (trad. Nuno Júdice) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/sertorio/

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