31.3.15

A chegar às livrarias: De Que Falamos quando Falamos de Amor, de Raymond Carver





Estes contos retratam a vida de homens e mulheres do Noroeste dos EUA — pessoas solitárias que gostam de beber, pescar e jogar às cartas para passar o tempo.
Raymond Carver, com a sua escrita sucinta e coloquial, aliada a uma percepção perspicaz do modo como as pessoas comunicam, fez com que esta colecção de contos se tornasse uma das mais influentes da moderna literatura.

«O mestre que deu forma ao moderno conto americano.» [Daily Telegraph]


«A América de Raymond Carver é-nos pintada como um local de dor e sonhos quebrados. Mas na verdade não é tão frágil como aparenta. É um lugar de sobreviventes e de histórias… Carver fez o que a maioria dos escritores mais talentosos não conseguiu: criou o seu próprio país, semelhante apenas a si mesmo — como referiu Wordsworth —, e que é o mundo para todos nós. [Michael Wood, The New York Times Book Review]

A chegar às livrarias: Cidades da Planície, de Cormac McCarthy (trad. de Paulo Faria)





Em Cidades da Planície, duas personagens já conhecidas de Belos Cavalos e A Travessia encontram-se. Entre os seus intensos passados e incertos futuros, deparam agora com um país em constante mudança.
No outono de 1952, John Grady Cole e Billy Parham são cowboys num rancho do Novo México que havia sido invadido a norte pelos militares. No horizonte a sul estão as montanhas do México, para onde um deles é constantemente arrastado.
Cidades da Planície, o último volume da Trilogia da Fronteira, é uma história de amizade, paixão e de um amor tão perigoso como inevitável.


«Esta trilogia é um marco na literatura americana.» [Guardian]


«Numa paisagem de beleza natural e perda iminente, tão acolhedora como terrível, encontramos John Grady, um jovem cowboy da velha guarda, e uma jovem e frágil mulher, cuja salvação se torna a sua obsessão… McCarthy torna as arrebatadoras planícies um milagre.» [Scotsman]

A chegar às livrarias: Mirleos, de João Miguel Fernandes Jorge



Em Coimbra, Mirleos correspondeu ao antigo fórum romano, espaço onde se reconstruiu em 1087 a Igreja de S. João, sucedânea de anterior igreja. Sobre todas estas ruínas, englobando muitas delas, está hoje o Museu Nacional de Machado de Castro.
É sobre o recheio deste museu que João Miguel Fernandes Jorge constrói o seu novo livro de poemas.

30.3.15

Sobre Não Posso nem Quero, de Lydia Davis







«O conto mais extraordinário do volume é “As Focas”, meditação sobre a morte das pessoas de família a quem não dávamos a devida importância, mas cuja ausência, sublinhada pelo fetichismo do tempo que passa, nos causa desgosto e desconsolo. (…) Apesar do pathos dos contos mais longos, e de algumas miniaturas perturbadoras, Lydia Davis escreve especialmente bem sobre “o sentimento de já não estar dentro da minha própria vida”, um sentimento que atenua com a surpresa e a imprevisibilidade. Quando se diz de alguém que ela sabe em Chicago mas ainda não percebeu que está no Illinois, isso não se refere decerto a um desconhecimento geográfico, mas a uma associação de memórias (traumáticas?) com “Illinois”, que ainda não aconteceu, mas que está iminente, mal acabe o conto.» [Pedro Mexia, E, Expresso, 28-3-2015]

26.3.15

Sobre Vida após Vida, de Kate Atkinson






«Vida após Vida pode ser lido como um livro sobre a escrita (muito actual) e sobre o modo como o autor, que tem todas as cartas na mão, pode manipular as personagens. Para o provar, Kate Atkinson dá a muitas das suas personagens uma segunda oportunidade. Assim, o livro começa com Ursula Todd, a protagonista, a assassinar Hitler em 1930, num café de Munique, com o revólver usado pelo seu pai na Primeira Guerra Mundial.» [Justin Cartwright, The Guardian, 14-1-2014]

25.3.15

A chegar às livrarias: Terra dos Homens, de Antoine de Saint-Exupéry (trad. de Júlia Ferreira e José Cláudio)





«É inexplicável como ainda estamos vivos. Com a lanterna eléctrica na mão, sigo os traços do avião no solo. A duzentos e cinquenta metros do ponto onde ficou imobilizado, encontramos já ferros torcidos e chapas de metal que, durante o percurso, se foram espalhando pela areia. Quando nascer o dia, ficaremos a saber que embatemos quase tangencialmente numa encosta suave, no cimo de um planalto deserto.»

Terra dos Homens foi publicado em 1939 em França. Saiu nesse mesmo ano nos Estados Unidos, com o título Wind, Sand and Stars, tendo recebido o National Book Award, que era então o mais prestigiado prémio literário norte-americano.

A chegar às livrarias: A Analfabeta Que Era Um Génio dos Números, de Jonas Jonasson





Com a sua fecunda imaginação e o seu sentido de humor irreverente, Jonas Jonasson imaginou uma história que ilumina a face oculta da história oficial.
A improvável heroína do romance tem a sua origem no bairro do Soweto, o tristemente célebre gueto de Joanesburgo. Correm os anos setenta, em pleno auge do apartheid, quando Nombeko Mayeki, condenada a uma vida de infortúnio e com altas probabilidades de que esta acabe numa idade prematura ante a indiferença dos que a rodeiam, encontra uma brecha para fugir do seu infausto futuro. Dotada de um intelecto fora de série, e impulsionada pela força de um destino que executa as mais estranhas piruetas, o acaso projeta Nombeko para longe do seu meio de miséria e leva-a numa assombrosa viagem na qual encontrará personagens de toda a espécie, desde um falso especialista em física nuclear e dois agentes da Mossad, até um rei da Suécia com um rosto humano e uma jovem antissistema em permanente estado de ebulição. Assim, a genial Nombeko percorrerá um insólito itinerário, até descobrir o seu lugar no mundo nas frias terras escandinavas, um lugar com que nunca se teria atrevido a sonhar.

«Jonasson conseguiu outra vez […]. Muito engraçado, brilhante, com fundo político. E loucamente divertido.» [Östgöta Correspondenten]

«Jonasson conta magnificamente histórias improváveis […], com um humor malicioso à maneira de Cândido de Voltaire. Sem dúvida, conquistará de novo o aplauso dos leitores.» [Lire]

«A Analfabeta Que Era Um Génio dos Números não deixa de lado algumas reflexões geopolíticas e, ao contrário de O Centenário Que Fugiu pela Janela e Desapareceu, não procura apenas a sedução imediata. É mais profundo.» [Livres Hebdo]


«Já comecei a lê-lo pela segunda vez.» [Värnamo Nyheter]

24.3.15

Dept. of Speculation, de Jenny Offill, finalista do Folio Prize e do Pen/Faulkner Award





Dept. of Speculation, de Jenny Offill, narra o casamento de uma escritora casada com um locutor de rádio através de mordazes e belos fragmentos de prosa, o que colocou a autora na lista dos finalistas do Folio Prize 2015, atribuído a Family Life, de Akhil Sharma.
Com este romance, a escritora está também nomeada para o Pen/Faulkner Award, ao lado de escritores como Atticus Lish, Jennifer Clement, Emily St. John Mandel e Jeffery Renard Allen, cujo vencedor será anunciado em Maio.
Dept. of Speculation foi considerado um dos 10 livros de 2014 pelo New York Times e será em breve publicado pela Relógio D’Água, com tradução de José Miguel Silva.


«Um romance terrivelmente difícil de catalogar, porque segue muitas direcções ao mesmo tempo, e brilha com diferentes cores emocionais. É um relato sofrido de um casamento em sofrimento, e também um poema em louvor de se ser casado. (…) Por vezes lembra os textos curtos de Lydia Davis… O breve livro de Offill afasta-se do esplendor óbvio… segue o pessoal, doméstico e local, um espaço interior atormentado. Concentra perspicazmente a sua matéria, com rara e dolorosa precisão.» [James Wood, The New Yorker]

Sobre Da Natureza das Coisas, de Lucrécio



Joana Emídio Marques escreve no «Observador» um artigo que se destaca das referências que têm sido feitas à tradução de Luís Miguel Gaspar Cerqueira de «De Rerum Natura»

 

 

«Quando morreu o seu irmão Thoby, Virginia Woolf escreveu num dos diários: “e agora refugio-me na escrita consolatória de Lucrécio.” Em Portugal, não é fácil encontrar escritores e poetas que reclamem para si ou para as suas obras a herança dos textos clássicos, especialmente entre as novas gerações. Em parte porque as modas passam hoje por evocar os escritores anglo-saxónicos, em parte porque no nosso país faltam boas traduções destes textos fundadores da cultura ocidental. Mais uma vez, é pela mão da editora Relógio D’Água que podemos rejubilar: temos novamente disponível o poema filosófico Da Natureza das Coisas, de Tito Lucrécio Caro (94 a. C. – 50 ou 51 a. C.), traduzido directamente do latim por Luís Manuel Gaspar Cerqueira.

Da Natureza das Coisas ou De Rerum Natura, que tanto influenciou escritores como Virginia Woolf, Michel Houellebecq ou Italo Calvino, foi escrito há mais de dois mil anos e permaneceu desconhecido durante cerca de um milénio e meio – uma história feita de acasos e incidentes que o próprio Lucrécio haveria de usar para reforçar as suas teorias. Contra a ditadura da morte e do esquecimento, o texto está ainda aqui, ao alcance das nossas mãos, dos nossos sentidos e do nosso deslumbramento.» [Joana Emídio Marques, Observador, 21-3-2015]

23.3.15

A chegar às livrarias: Presa Comum, de Frederico Pedreira






Frederico Pedreira nasceu em Lisboa em 1983. Publicou Breve passagem pelo fogo (Artefacto, 2011), O artista está sozinho (edição do autor, 2013), Doze passos atrás (Artefacto, 2013) e Um bárbaro em casa (Língua Morta, 2014). Colaborou na secção de cultura de alguns periódicos nacionais. Está a terminar a sua tese de doutoramento, intitulada Uma aproximação à ideia de estranheza

19.3.15

A chegar às livrarias: A Última Palavra, o mais recente romance de Hanif Kureishi





O novo romance de Hanif Kureishi conta-nos uma história inteligente e repleta de humor sobre sexo, mentiras, arte e tudo o que define uma vida.
Mamoon é um escritor indiano muito promissor que fez carreira em Inglaterra. Mas, agora que faz setenta anos, a sua reputação começa a esmorecer, a venda dos livros a cair, e a sua jovem esposa tem gostos dispendiosos.
Harry, um jovem escritor, é contratado para escrever uma biografia de Mamoon, com o intuito de revitalizar a sua imagem e conta bancária. Harry tem enorme admiração pelo trabalho de Mamoon e pretende desmistificar a sua vida de forma justa. Mas a editora de Harry procura algo diferente: a verdade nua e escandalosa — uma história devassa e impudica, envolta em sexo e escândalo, que gere cabeçalhos e aumente as vendas de forma exponencial. Enquanto isso, o próprio Mamoon aproveita para tentar refazer a verdade sobre o que foi a sua vida.

Harry e Mamoon encontram-se assim numa batalha de vontades. Qual deles terá a última palavra?

A chegar às livrarias: O Buda dos Subúrbios, de Hanif Kureishi - Vencedor do Prémio Whitbread para Melhor Primeiro Romance






O herói do primeiro romance de Hanif Kureishi é Karim, um adolescente desesperado por abandonar os subúrbios do Sul de Londres e experimentar os frutos proibidos que a década de 1970 tem para oferecer. Quando uma oportunidade improvável surge, Karim começa a ter a atenção por que lutou — apesar de os resultados serem ásperos e violentos.

«Altamente irreverente, mas também genuinamente emocionante e verdadeiro. E muito, muito divertido.» [Salman Rushdie]

«Um romance maravilhoso. Duvido que vá ler um com mais humor, ou com mais coração, este ano, ou mesmo possivelmente nesta década.» [Angela Carter, Guardian]

«Um romance perversamente divertido.» [New York Times]

«Um dos melhores romances cómicos sobre o que é crescer, e uma das sátiras mais acutilantes sobre as relações entre as raças neste país.»
[Independent on Sunday]

«Genialmente divertido. Um romance revigorante, anárquico e deliciosamente livre.»
[Sunday Times]

«Uma voz distinta e talentosa — jovial, inteligente, viva e pungente.»
[Hermione Lee, Independent]

Fotografia do Autor: Francesco Guidicini

Sobre A Estalagem do Nevoeiro, de Ana Teresa Pereira





No programa Livro do Dia de 10 de Março de 2015, na TSF, Carlos Vaz Marques falou sobre A Estalagem do Nevoeiro, de Ana Teresa Pereira.

O programa pode ser ouvido aqui.

16.3.15

Hanif Kureishi entrevistado no Diário de Notícias





«A edição do seu mais recente romance, e a reedição de um dos seus primeiros grandes livros, concede ao leitor duas boas oportunidades para revisitar em A Última Palavra o seu gosto pela provocação e em O Buda dos Subúrbios a homenagem que faz à Londres que adora e que fixou para a posteridade. Uma narrativa que precede a atual capacidade cosmopolita e um perfeito caldeirão étnico que encaminha a entrevista para o tema do islão.»



«P. Afirmou que o escritor deve exigir confronto e que os artistas devem ser terroristas. É uma metáfora?

R. Para se ser escritor na China, no Paquistão ou em qualquer parte, é preciso sê-lo de uma forma perigosa. É muito importante o escritor sair do bom caminho e ser um terrorista, fazer provocações e viver em perigo.» [Diário de Notícias, entrevista de João Céu e Silva a Hanif Kureishi, 15-3-2015]

José Gil entrevistado no jornal i




O jornal i de sábado publica uma entrevista com o filósofo José Gil, de quem a Relógio D’Água irá publicar em breve um novo ensaio – Poderes da Pintura.
José Gil aborda vários assuntos, desde a importância do pensamento que escapa ao pensamento único, ao conceito de força, à reduzida vocação dos portugueses para a acção, e aborda também as questões do desejo e do medo e o seu particular conceito de felicidade.
José Gil considera que «temos de pensar numa nova teoria do poder, uma nova organização que repense a democracia» e afirma que «os nossos políticos, com duas ou três excepções, não pertencem à elite. São homens normais».
José Gil aborda também as características da nossa classe dirigente, considerando que «os políticos falam de tudo como se fossem tudo. Isso leva-nos a uma promiscuidade nefasta.»
Sobre a felicidade, considera que «temos de limpar o terreno conceptual em que se construiu a ideia de felicidade. Felicidade não é, como nos diz uma tradição de pensamento dominante, uma combinação sábia de prazer. Entendo a felicidade como um terreno que permite todos os prazeres vividos com a maior intensidade.» [14-3-2015]

13.3.15

Sobre Morte Aparente no Pensamento, de Peter Sloterdijk





«Estas páginas são de uma clareza só possível a quem faz do conhecimento um modo de vida. Por isso, nelas convivem a história do “fenómeno ainda virulento nos dias de hoje a que chamamos ‘filosofia’”; mas também a explicitação das correntes filosóficas em causa; a evolução das concepções de filosofia e de ciência; e as transformações por que passaram as figuras responsáveis por estas actividades intelectuais. Não é objectivo de Sloterdijk cumprir apenas cada um destes propósitos, mas ir bastante mais além, tomando-os como instrumentos da sua investigação. Assim, um dos aspectos fundamentais deste trabalho é aquilo que o autor chama “sistemas de prática”. Isto é, algo que Sloterdijk assume ser extremamente invulgar: a “ciência como prática”.» [Hugo Pinto Santos, Time Out, 11-3-2015]

12.3.15

O Principezinho em capa dura e edição de bolso






Depois da edição brochada, a Relógio D’Água está agora a editar em capa dura e em edição de bolso O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry, sempre com as aguarelas originais do autor e com tradução de Francisco Vale.


11.3.15

A chegar às livrarias: A Senda Estreita para o Norte Profundo, de Richard Flanagan (trad. Miguel Serras Pereira)




Vencedor do MAN BOOKER PRIZE 2014

Centenas de milhares de prisioneiros de guerra, entre eles numerosos australianos, são forçados pelos japoneses a um trabalho escravo nas selvas da Indochina durante a Segunda Guerra Mundial. O objectivo é construir, num prazo inverosímil e sem maquinaria adequada, uma via-férrea de 450 quilómetros ligando o Sião à Birmânia, o que permitiria atacar a Índia. Até à conclusão da linha em 1943, morreram dezenas de milhares de homens, incluindo um terço dos 22 mil prisioneiros de guerra australianos. Executores fanáticos das ordens imperiais, alguns oficiais japoneses chegavam a recitar haikai antes de torturar ou decapitar os prisioneiros.
É neste clima de desespero que o cirurgião Dorrigo Evans, prisioneiro neste campo de guerra japonês na Ferrovia da Morte, se vê assombrado pela relação amorosa que manteve com a jovem esposa do seu tio dois anos atrás, enquanto tenta evitar que os homens sob o seu comando morram de fome, de doença, ou sejam simplesmente espancados.
O romance de Richard Flanagan aborda as diferentes formas que o amor, a morte, a guerra e a verdade podem assumir, à medida que um homem envelhece e tem consciência de tudo o que perdeu.

«Uma obra-prima… um livro extraordinário.»
[Michael Williams, Guardian]

«Não é apenas um grande romance, mas um livro importante, pelo modo como consegue olhar para coisas horríveis e criar algo tão belo. Deveria ser lido por toda a gente.»
[Evie Wyld, GRANTA Best of Young British Novelists]

«Um dos romancistas vivos mais empolgantes. Ponto final.»
[The Age]


A chegar às livrarias: Tratado sobre a Tolerância , de Voltaire




Os acontecimentos que levaram Voltaire a escrever o seu Tratado sobre a Tolerância poderiam ter passado quase despercebidos aos seus contemporâneos. Tratava-se de um abuso judicial de uma extrema crueldade, mas nada de muito estranho aos hábitos da monarquia absoluta do Século das Luzes. Há um jovem huguenote que se suicida e uma multidão que se dispõe a linchar o pai, que acusa de ter assassinado o filho porque este se tornara católico. Não há provas nem indícios nesse sentido. Pelo contrário, Jean Calas é considerado um bom pai e tolerante em relação à orientação religiosa do filho.
Mas o poder judicial cede ao fanatismo popular e Jean Calas é executado. O génio  de Voltaire consegue extrair do episódio ilações cuja validade permanece até aos nossos dias.


«Os povos de que a História nos transmitiu alguns esparsos conhecimentos olharam todos eles para as diferentes religiões como laços que os uniam uns aos outros: era uma espécie de associação do género humano. Havia como que uma espécie de direito de hospitalidade tanto entre os deuses, como entre os homens. Um estranho que chegava a uma cidade começava por adorar os deuses do país. Nunca se deixava de venerar os deuses dos próprios inimigos. (…)
Vede, peço-vos, as consequências terríveis do direito da intolerância. Se fosse permitido espoliar dos seus bens, atirar para uma masmorra, matar um cidadão que, num determinado grau de latitude, não professasse a religião admitida nesse grau, que excepção isentaria as principais figuras do Estado dessas mesmas penas? (…)
Não é preciso uma grande arte, uma eloquência muito rebuscada, para demonstrar que os cristãos se devem tolerar mutuamente. Vou mais longe: digo-vos que é preciso encarar todos os homens como nossos irmãos. O quê! Meu irmão, o turco? Meu irmão, o chinês? O judeu? O siamês? Sim, sem hesitação; não somos todos nós filhos do mesmo pai, e criaturas do mesmo Deus?»

9.3.15

Sobre Os Pescadores, de Raul Brandão





«A nova e excelente edição de Os Pescadores lançada pela Relógio d'Água passou a ser a melhor versão do clássico de Raul Brandão disponível nas livrarias. A preferir absolutamente.» [Observador]

4.3.15

Sobre Fogo Pálido, de Vladimir Nabokov





«Fogo Pálido, o romance, é o “simulacro de um romance”, um romance da autoria, da interpretação, do misreading. E dos duplos, também, das mistificações. Porque Shade pode ter sido inventado por Kinbote, tal como Kinbote pode ser uma fantasia de Shade, é impossível sabermos. O certo é que Kinbote é um crítico pouco confiável, obcecado, rancoroso, tresloucado, que se apropria do poema, se arvora em autor autêntico e considera o poema em questão um fogo pálido, uma “pálida fosforescência” daquele outro, genial, que ele tem na cabeça.» [Pedro Mexia, Expresso, E, 28-2-2015]

3.3.15

Sobre Da Natureza das Coisas, de Lucrécio




«Da Natureza das Coisas (De Rerum Natura) é um dos poemas latinos essenciais. Há mesmo quem o considere o mais importante, portanto acima das obras-primas de Virgílio e Horácio, dois poetas a quem Lucrécio parece ter influenciado. Neste campeonato das eminências, e a este nível, nada se pode dizer que valha a pena. Mas não é de mais notar a obra genial que escreveu este romano sobre o qual sabemos praticamente zero. Terá sido um aristocrata, conhecido de Cícero, a quem aliás se chegou a atribuir a edição do texto. A única informação biográfica, pouco ou nada fiável, vem de São Jerónimo, um padre da Igreja que no século IV descreveu Lucrécio como alguém a quem uma poção afrodisíaca terá levado à loucura e ao suicídio; versão bastante conveniente para descredibilizar um filósofo identificado com o ateísmo.» [Luís M. Faria, Expresso, E, 28-2-2015]

2.3.15

Sobre Diários, de Franz Kafka





«A edição dos Diários de Kafka, pela Relógio D’Água, traduzidos com enorme competência por Isabel Castro Silva, é um acontecimento editorial que tem de ser salientado. É certo que já em 1986 a Difel tinha publicado os Diários do escritor checo (numa tradução de Maria Amélia Silva Melo), mas essa edição não era integral. Devemos ter em conta que os Diários completos, mesmo na edição alemã, só surgiram no plano da edição da Obra Completa de Kafka, iniciada em 1982. Até aí, o que se conhecia era o que Max Brod tinha editado, com cortes e omissões.» [António Guerreiro, Público, ípsilon, 27-2-2015]

 

De Kafka, a Relógio D’Água tem publicados O Castelo, O Desaparecido, Contos (com selecção e prólogo de Jorge Luis Borges), Carta ao Pai e A Metamorfose (prefácio de Vladimir Nabokov).

Sobre Persusão, de Jane Austen




«Esta é uma nova Persuasão. O leitor ficará absolutamente persuadido (passe o trocadilho) pela tradução de Rogério Casanova, que empresta o conhecido brilhantismo à versão do grande clássico de Jane Austen. (…)

Persuasão integra e conclui a fase final, a mais maturamente consumada, da ficção de Jane Austen. Esta zona da sua obra atingiu um fulgor sóbrio, plenamente adulto. Juntamente com Emma e Mansfield Park, o derradeiro romance da autora encerra uma produção assombrosa que, em escassas décadas, foi capaz de se tornar um ramo notável na árvore genealógica do romance.» [Hugo Pinto Santos, Público, ípsilon, 27-2-2015]

De Jane Austen, a Relógio D’Água tem também publicados Orgulho e Preconceito e Lady Susan.

A chegar às livrarias: A Carta de Lorde Chandos, de Hugo von Hofmannsthal (trad. de Carlos Leite)





A Carta de Lorde Chandos, publicada em 1902, é uma missiva ficcionada a Francis Bacon, em que Lorde Chandos, atravessando uma crise literária e filosófica, explica porque não é capaz de continuar a escrever.
O texto corresponde a uma crise do seu autor. Em 1901, Hofmannsthal renunciara à carreira universitária, reviu a sua obra poética, casou com Gerty Schlesinger e foi viver para uma pequena povoação próximo de Viena. Debate-se com a falta de sentido da expressão poética e literária e com o absurdo dos conceitos abstractos, e pensa que um novo começo só pode surgir de uma atitude, a decência de ficar calado.


«Lorde Chandos, um jovem da nobreza rural da época isabelina, em quem no entanto se pode sem dificuldade pressentir o homem culto, formado em Oxford, e o cavalheiro esteta dos nossos dias, escreve ao seu amigo paterno, o LordeChanceler Bacon, o pensador mais vigoroso da sua época, e descreve, é certo que com a reserva e o mutismo a seu respeito impostos pela sua educação e pela sua natureza, uma experiência extremamente terrível. A unidade intuitiva mística do Eu, da expressão e da coisa perdeuse para ele de uma só vez, de tal forma que o seu Eu é brutalmente conduzido ao isolamento mais hermético, isolado num mundo rico ao qual deixou de ter acesso e cujas coisas nada lhe querem dizer, nem sequer os respectivos nomes.» [Da Introdução de Hermann Broch]