31.7.18

«Com Esta Chuva» de Annemarie Schwarzenbach no «Público»


No suplemento Ípsilon, do Público, de 27 de Julho, Mário Santos escreve sobre Com Esta Chuva, de Annemarie Schwarzenbach:

«Escritas em meados da década de 1939, estas narrativas breves são devedoras, na geografia física e cultural e na melancolia do clima emocional que as perpassa, das viagens que por essa época fez a autora ao Médio Oriente, que então prodigalizava escavações arqueológicas, e das quais resultaram livros como Inverno no Próximo Oriente, publicado pela mesma editora no ano passado.
As personagens destas histórias, por vezes só esboçadas, são pessoas em trânsito, estrangeiras em toda a parte, patriotas sentimentais sem pátria (que só existiu no passado e na infância, ou na imaginação). São expatriados, europeus, sobretudo, mas também norte-americanos, de entre as duas guerras, que conversam em terraços de hotéis suspensos “sobre o mar como a coberta de um navio”. Conversam em Beirute, no final de Setembro, como se estivessem em Juan-les-Pins, no Verão, nos bons velhos tempos. Conversam à maneira de Hemingway ou Bowles. Diz uma personagem (do conto “No regresso a casa…”): “[…] devíamos tirar a Europa da cabeça. Essa velha e querida Europa, que vive de sentimentalismo!”»



27.7.18

Sobre Breves Notas sobre Literatura-Bloom, de Gonçalo M. Tavares




«Uma linguagem literária batizada à sombra de um nome tutelar é um jogo coerente para Gonçalo M. Tavares, autor de uma galáxia em perpétua expansão, a que se juntam estas Breves Notas Sobre Literatura-Bloom (Relógio d’Água, 96 págs., €14). Um exercício sobre um fazer da literatura, arrumado em entradas em que se fala da “adiposidade” desnecessária das frases, da “necessidade de um nível de crueldade médio numa frase literária”, de “toda a literatura-Bloom” ser “feita contra os dicionários”, ou do “Sacrilégio”, isto é, “a evidência de frases sucessivas. A beleza onde não existe a mancha. A mancha onde não existe a breve beleza. A frase que pareça terminar”. “A ética Bloom implica tanto o escritor como o leitor”, descreve Borja Bagunyà no posfácio. É “uma declaração de amor radical” que conjura resistência.» [Sílvia Souto Cunha, Visão, 23/7/18]

26.7.18

Rachel Kushner na corrida ao Man Booker Prize 2018




O Quarto de Marte, de Rachel Kushner, recentemente publicado pela Relógio D’Água, é uma das 13 obras seleccionadas na longlist do Man Booker Prize 2018.
Os outros semifinalistas são Belinda Bauer, Anna Burns, Nick Drnaso, Esi Edugyan, Guy Gunaratne, Daisy Johnson, Sophie Mackintosh, Michael Ondaatje, Richard Powers, Robin Robertson, Sally Rooney e Donal Ryan.
O júri é constituído por Kwame Anthony Appiah (presidente); Val McDermid; Leo Robson; Jacqueline Rose; e Leanne Shapton.
A lista de finalistas será anunciada a 20 de Setembro e o vencedor será conhecido dia 16 de Outubro.
O vencedor da última edição do prémio foi George Saunders, com Lincoln no Bardo, também editado pela Relógio D’Água.

24.7.18

Sobre Nesta Grande Época, de Karl Kraus




José Carlos Fernandes recomenda a leitura de Nesta Grande Época para o Verão


«Ouve-se alguém reclamar “Liberdade de escolha!”, mas não há razão para alarme: não se exige democracia, tão-só liberdade de escolha dos tecidos, uma reivindicação que era fácil de satisfazer na Viena de 1910 e é ainda mais fácil hoje. Da vasta produção de Kraus para a revista satírica Die Fackel seleccionaram-se duas dúzias de artigos, que conservam boa parte da pertinência (e toda a acidez) um século depois.» [José Carlos Fernandes, Observador, 15/7/18]

23.7.18

Sobre O Quarto de Marte, de Rachel Kushner




«Romy Leslie Hall tem 29 anos e foi condenada a duas penas perpétuas (“e mais seis anos”: detalhe de um preciosismo cruel) pelo homicídio de um antigo cliente regular, que começou por gastar rios de dinheiro em lap dances, quando ela trabalhava como bailarina e stripper no clube noturno manhoso que dá título ao romance, e acabou a persegui-la de forma obsessiva. Quando Romy encontra Kurt Kennedy, o “Asqueroso Kennedy”, à sua porta, em Los Angeles, para onde se mudara, vinda de San Francisco, decide arrumar o assunto de vez. As circunstâncias do crime ficam nebulosas, nunca chegamos a saber muito bem o que aconteceu, porque isso não interessa. O que interessa é que Romy foi considerada culpada, sem atenuantes, e teve de deixar o filho de cinco anos, Jackson (“o grão de realidade” sempre no centro dos seus pensamentos e angústias), entregue aos cuidados da avó materna, única pessoa no mundo que lhe pode valer. […]
Embora o registo seja diferente daquele que marca os dois romances anteriores (Telex de Cuba e Os Lança-Chamas, ambos publicados pela Relógio D’Água), há uma qualidade plástica da prosa de Kushner que é imediatamente reconhecível. Uma espécie de textura. Uma capacidade de captar o real nos seus cambiantes mais subtis, bem como o humor nas situações mais negra. Uma inventividade verbal que a coloca, sem favor, lado a lado com os maiores escritores americanos contemporâneos.» [José Mário Silva, E, Expresso, 21/7/18]

Sobre Para o Casamento, de John Berger




«Tal como na poesia, este livro divide a nossa atenção entre o conteúdo e a forma. John Berger constrói um romance com linhas simples, elípticas e quase talismânicas. Apesar da aparente narrativa simples — em que as personagens surgem elipticamente para nos contar as suas histórias —, o romance possui uma atmosfera particular e densa, obrigando-nos a parar e a desfrutar deste stimmung particular de Para o Casamento. A história é sobre Ninon e Gino, um jovem casal de apaixonados que irão casar, apesar de Ninon ter sido diagnosticada com uma doença terminal. Ao invés de trágica, a história rejuvenesce o espírito. Trata-se de um romance sobre a transitoriedade da vida, sobre como coisas terríveis acontecem a pessoas inocentes, mas, sobretudo, como tudo por momentos pode ser eclipsado pelo mais singelo dos sentimentos: a ternura.
A história não pertence exclusivamente a Ninon e Gino, sendo que duas outras personagens, em particular, impulsionam a narrativa: Jean e Zdena, o pai e a mãe de Ninon, que viajam separadamente pela Europa para o casamento da filha. Jean, um trabalhador ferroviário francês, decide viajar na sua moto atravessando os Alpes até ao vale do Pó — sítio onde ocorrerá o casamento —, e Zdena, uma cientista, parte da Checoslováquia de comboio. O pai de Ninon dá-nos conta da liberdade que é viajar de moto, da beleza das paisagens e da solidão do percurso que, irremediavelmente, o leva a confrontar os próprios sentimentos. Por outro lado, pelos olhos de Zdena observamos uma mulher agora em profundo sofrimento. Viaja por uma Europa pós-Guerra Fria, que lhe é desconhecida, onde tudo aquilo que ela julgava serem verdades incontestáveis revelam-se agora memórias do passado.» [Joana Graça, Forma de Vida, 18/7/2018. Texto completo em: https://formadevida.org/recensoes/154-john-berger-2018-para-o-casamento-joana-graca ]

De John Berger, a Relógio D’Água acaba de publicar Confabulações.

Jaime Rocha entrevistado por Tiago Alves Costa na revista Palavra Comum




«Afirma que o seu livro “Preparação para a Noite” é um registo poético mais seu, um regresso a um ambiente mais urbano. A cidade possui essa cadência fulgurante e sedutora do real?

O meu livro “Preparação para a Noite“, publicado em 2017, na editora Relógio D’Água, de Lisboa, é um regresso à cidade, após uma tetralogia poética muito particular que atravessou uma década dedicada e inspirada praticamente ao mundo dos pré-rafaelitas ingleses, poetas e pintores do séc. XIX (Dante Gabriel Rossetti, Swinburne, Burne-Jones, William Morris, Millais, Elizabeth Siddal, entre outros). A “Preparação para a Noite” foi o retomar de um registo poético iniciado pelo meu livro “Do Extermínio”, publicado pela primeira vez em 1995. A cidade seduz-me tanto como me perturba e ameaça. É um real muito forte, perigoso, sujo, violento, onde se vive na iminência da morte, dentro de um perigo constante, sem saída, angustiante, que sufoca. Assim eu a vejo, no meio de alguma festa e de uma imensa liberdade, bem como de uma fulgurante beleza. Neste caldeirão urbano, descubro também os textos que dão forma ao meu teatro e aos meus romances (para além do texto narrativo ligado à minha memória de infância de que é exemplo a “Escola de Náufragos“, de 2016), aquilo que sobra da poesia e que é muito.»


Desaparecer na Escuridão, de Michelle McNamara, na shortlist no Prémio Gordon Burn




Michelle McNamara faz parte da shortlist do Prémio Gordon Burn 2018, que distingue “destemidas obras de não-ficção e obras de ficção ousadas, que desafiam a classificação”, na linha dos livros de Gordon Burn.
Desaparecer na Escuridão descreve a investigação que Michelle McNamara levou a cabo na procura do Golden State Killer, e conta com um posfácio do marido da autora, Patton Oswalt, e uma introdução de Gillian Flynn.
Os outros finalistas são Census, de Jesse Ball, H(a)ppy de Nicola Barker, In Our Mad and Furious City, de Guy Gunaratne, Crudo de Olivia Laing, e The Cost of Living de Deborah Levy.
O vencedor será anunciado no dia 11 de Outubro.

João Céu e Silva recomenda Byung-Chul Han a quem apanhar um avião para a China





«Nem sempre quem vai de férias está preocupado com a meditação enquanto prática espiritual para regressar mais puro, mas se levar na bagagem Filosofia do Budismo Zen (Editora Relógio d'Água), de Byung-Chul Han ,pode ser que mude de ideias. O budismo zen caracteriza-se por ser um ensinamento de pouca conversa, pois as lições aprendem-se com o não dizer, razão pela qual este autor não ocupou muito mais de cem páginas para se fazer entender. Entre os vários tópicos está o da amizade, tema bom para o viajante solitário; o da preocupação, ótimo para o leitor stressado; o das questões materiais... Tudo isto com uma mãozinha de filósofos ocidentais como Hegel, Schopenhauer ou Heidegger, nomes que podem assustar mas a forma como a conversa de Han se faz com o leitor facilita a perceção da mensagem. Se gostar do que leu, o autor tem mais nove livros traduzidos em português e com uma clarividência que nos surpreende. É o caso de No Enxame ou Sobre o Poder.» [João Céu e Silva, DN, 19/7/18]

A chegar às livrarias: A Terra de Naumãn, de H. G. Cancela






«Este ano não houve Troca de Ovos. Todos os solstícios da estação seca, durante setenta gerações, as comunidades reuniram­‑se no Planalto de Naumãn. No alto das escarpas de granito, onde arde o fogo, erguem­‑se as muralhas com sete Portas. Éramos seis comunidades. Cada comunidade acedia ao espaço ritual pela sua Porta. A sétima, aprendíamo­‑lo desde a primeira vez que pisávamos o Planalto, era para aqueles que viriam. Uma promessa de posteridade. A garantia de que, depois de cada dia, haveria outro dia, depois de cada ano, haveria outro ano, depois de cada comunidade, haveria outras comunidades. Nós, Naumans de dedos hábeis, respeitamos o passado, mas veneramos o Futuro.
No solstício em que perfazia catorze anos, eu, Alva, da comunidade de Uila, fui com os outros Naumans do mesmo ano conduzida ao Planalto. Enquanto subíamos as rampas que conduziam às Portas, todos levávamos os olhos vendados por uma faixa de sete voltas, tantas quantos os meses em que se divide o ano.»

Em «A Terra de Naumãn», H. G. Cancela conduz-nos através de uma narrativa juvenil e fantástica até uma fábula de contornos apocalípticos.

19.7.18

Sobre Caos e Ritmo, de José Gil




A propósito do recente lançamento de Caos e Ritmo, José Gil foi entrevistado por João Céu e Silva, no DN



«Afirma que o cidadão eleitor aborrece-se em democracia. Não é demasiado radical?

Essa frase aplica-se a todos os países e não só aos portugueses porque a democracia não oferece uma promessa. Já o populismo está sempre a fazê-la às massas e elas entusiasmam-se. Não se pode dizer que a sociedade alemã do hitlerismo se aborrecia, pelo contrário, empolgava-se todos os dias com a propaganda de Hitler. A democracia não é uma ideologia, é um regime político menos mau entre todos - como dizia o outro, Churchill - e só empolga quando se passa de um regime ditatorial para democracia como em Portugal nos primeiros anos após o 25 de Abril de 1974.

Entre os governantes portugueses só o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa monopoliza atenções com os afetos. Enquadra-se no populismo?

Sim, se considerarmos como elemento de propaganda e de adesão política, mas Marcelo não é um líder populista. O afeto, contudo, enquadra-se naquilo que contém o discurso populista no seu pior.

Ultrapassou o fascínio por Mário Soares?

Sim, em muito devido às diferenças entre ambos. Soares conservava a sua soberania acima do povo e descia quando queria. Marcelo faz o caminho inverso e transforma-se ele próprio em homem do povo.

O populismo tem hoje a vida mais facilitada?

É uma realidade mundial inquietante o que se está a passar e o que poderá acontecer nas eleições europeias. Também não se deram conta de quanto Hitler estava a subir, aceitando-o. A tendência de muitos políticos é dizer que temos maneira de enfrentar esta vaga ameaçadora, mas não é bem assim.

A que se deve a complacência do eleitor?

Ao falhanço dos sistemas democráticos e à incapacidade dos políticos responderem às populações. É impressionante ver que nos estudos de politólogos e sociólogos sobre as taxas de voto favorável a Trump não era tanto a questão económica que pesava mas a cultural. Tem que ver com a exclusão, humilhação, fatores morais e éticos, identitários e existência espiritual - e isto é uma revolução.

Trump é o aviso mais sério?

Não sei se é fenómeno passageiro, porque está a perdurar e isso é mau. A maioria das pessoas que se referem a Trump não se dão conta de que se está a forjar um clima nunca visto nos EUA, o do messianismo. Ele aparece como um messias e nenhum dos líderes europeus o consegue.

Nem Macron, que derrotou Marine Le Pen?

Que bem queria aparecer como messias! Ainda não há messianismo na Europa como nos EUA, em que Trump é o imbecil iluminado. Recorde-se que havia também uma imbecilidade estrutural no Hitler.

Em Portugal haverá alguma vez terreno próprio para o populismo?


Por enquanto não, mas Portugal não escapará às condições gerais e culturais da globalização. Por enquanto, Portugal - e Espanha - está imune ao populismo, mas não se pode afirmar que com uma mudança não irá aparecer alguém.» [DN, 13/7/18. A entrevista completa pode ser lida aqui: https://www.dn.pt/1864/interior/jose-gil-o-google-nao-pensa-como-nos-9588657.html . Fotografia de Leonardo Negrão/Globalimagens]

Entre os 39 livros de “romance, poesia e vinho” recomendados pelo Observador em 15 de Julho, encontram-se 6 obras publicadas pela Relógio D’Água.




Joana Emídio Marques sugere “Nesta Grande Época”, de Karl Kraus, e "Dia Alegre, Dia Pensante, Dias Fatais", de Maria Filomena Molder.




Nesta grande época, Portugal ainda mal conhece a obra de Karl Kraus, o locutor do horror do seu tempo, como lhe chamou Elias Canetti. O jornalista que colocou os jornais no banco dos réus ao analisar o papel destes media na 1ª Guerra Mundial, que compreendeu como poucos que pela destruição e manipulação da linguagem todo o tipo de ditaduras seriam possíveis. A sua sátira cabe aos media atuais como uma luva.




Os dias de Maria Filomena Molder são como os seus livros para nós, leitores: alegres, pensantes, fatais. Nos últimos dois anos, a mais ígnea das nossas pensadoras já nos deu Rebuçados Venezianos e agora este Dia Alegre…, em ambos se reúnem ensaios, textos, reflexões, memórias e rememorações, sobre cultura, arte, poesia, uma teia de ligações feita e desfeita num pensamento veloz onde, como em Clarice Lispector, a palavra serve como isco para pescar a entrelinha. Atrevamo-nos a mergulhar nas entrelinhas tantas vezes fatais destes dias.

Entre os 39 livros de “romance, poesia e vinho” recomendados pelo Observador em 15 de Julho, encontram-se 6 obras publicadas pela Relógio D’Água.



Alexandre Borges recomenda George Steiner em The New Yorker, Infidelidades, de Woody Allen, e O Mandarim, de Eça de Queirós.




A propósito do luxo de se ser contemporâneo de figuras de grande dimensão intelectual. Uma selecção de 28 dos mais de 150 artigos que Steiner assinou, ao longo de 30 anos, para a New Yorker. Cultos, longos e densos, exigem leitura demorada e atenta. Uma boa forma de descansar o polegar de tanto fazer scroll ao Instagram.




Um pouco de teatro para exibir o nome bem visível na capa na praia às senhoras e senhores horrorizados. A bandeira vermelha será hasteada, nadadores-salvadores tentarão afastar os mais impressionáveis – enfim, a praia rapidamente se porá num paradisíaco sossego. Não é novo, mas serve para ir renovando a dose anual recomendada de Woody Allen quando os filmes do próprio já não chegarem para tirar as dores.





As pessoas podem até não ler, mas saem cada vez mais livros. Nós próprios somos bem mais rápidos a comprar livros do que a lê-los, quais Lucky Lukes das fnacs da vida. Durante anos, sofremos para agarrar todos os livros potencialmente interessantes que saem, como quem acompanha as estreias do cinema ou as novidades da pop; com a idade, resignamo-nos. Que importa? Vamos ler o que queremos ler. Um Eça por ano, por exemplo, é um projecto bonito. E saudável.

18.7.18

17.7.18

Sobre Maria Filomena Molder




Na revista «Discurso», do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, Pedro Fernandes Galé (Universidade Federal de São Carlos) escreveu sobre «As Nuvens e o Vaso Sagrado» e «Dia Alegre, Dia Pensante, Dias Fatais», de Maria Filomena Molder



«Comecemos por observar que o público de filosofia no Brasil deve celebrar o fato de a obra de Maria Filomena Molder, filósofa e ensaísta portuguesa, ter sido escrita em nossa língua. Embora tenhamos um Atlântico e seus gigantes entre nós, a leitura destes livros, um deles, As nuvens e o vaso sagrado, surgido em 2014, o outro, Dia alegre, dia pensante, dias fatais, de 2017, apresenta-nos como que a essencialidade de nossa língua, em seus obstáculos e suas riquezas, diante de objetos que têm sua origem alhures. É para a nossa língua mãe que Filomena Molder arrasta grandes questões, grandes pensadores, grandes poetas que perambulam no mundo multilíngue. Sob sua pena, a filosofia e a poesia ganham uma verve lusófona, na qual notamos a unidade em meio à variedade. Não se trata de uma germanista, mas de uma irmã em letras e filosofia germânicas (quando o caso) em bom português.» [Pedro Fernandes Galé, «Discurso», v. 48, n.º 1 (2018)]

Sobre Este Lado do Paraíso, de F. Scott Fitzgerald




«Esta obra retrata os anos de universidade do autor, desdobrando-se sobre as consequências morais da Primeira Guerra Mundial, com uma roupagem ficcionada, embora as personagens se associem facilmente àquelas que protagonizaram este percurso da sua vida. O seu registo descontraído e relativamente livre, oscilando entre o drama prosaico e o verso espontâneo onde o lirismo sobressai, chegou às bancas em 1920, vendendo mais de 40 mil cópias.» [Lucas Brandão, Comunidade Cultura e Arte, 9/7/18. O texto completo pode ser lido aqui: 


De F. Scott Fitzgerald, a Relógio D’Água publicou também Sonhos de Inverno e Outros Contos, O Último Magnate, Belos e Malditos, Terna É a Noite, O Grande Gatsby e The Crack-Up e Outros Escritos.

Excerto de «Caos e Ritmo», de José Gil, no JL




«“Caos e Ritmo” é o título do novo livro , editado pela Relógio D’Água, a chegar às livrarias, de um dos mais destacados filósofos e ensaístas portugueses, autor de uma vasta e diversificada obra, que inclui títulos que tiveram tanta repercussão como Portugal, Hoje: O Medo de Existir. Ao longo dos dez capítulos, divididos em até 14 subcapítulos, das 500 páginas do volume, que trata temas muito variados, o autor “procura pensar o que nos acontece, ao nível mais concreto do inconsciente, do sensível e do corpo, bem como ao nível mais abstracto do pensamento e da visão”, “livro sobre a criação, sobre os poderes e impasses”. O último capítulo, de especial atualidade, analisa “o populismo e a catástrofe” […). “ Nunca, como no século XX e no princípio deste século XXI, se levou tão longe o processo de erosão do vínculo social”, salienta o filósofo.» [JL, 4/7/18]

16.7.18

Sobre Obra Completa, de Arthur Rimbaud




«A tradução da Obra Completa de Jean-Arthur Rimbaud, pela Relógio D’Água, constitui um acontecimento de enorme relevo no que respeita à história da tradução de poesia em Portugal. Pela monumentalidade desta edição, com prefácio de Francisco Vale e a tradução a duas mãos de Miguel Serras Pereira e João Moita, reler agora a poesia de Rimbaud, nesta edição bilingue, significa compreender melhor a originalidade do autor de Aprés le Deluge. O enigma do jovem que abandonou a poesia para poder, como diria Hölderlin, habitar poeticamente sobre a terra. Rimbaud: a própria encarnação de algo mais, talvez o furor e mistério de uma verdade, essa de “regressar ao estado primitivo de filho do sol”.
[…]
Esta Obra Completa não deixará de chamar para a poesia leitores ávidos daquilo que, segundo René Char, é o supremo fascínio dessa voz, nele reconhecendo essa dialética do homem que “não cessa de cessar”, como foi o caso de Rimbaud, ansioso de numa vida conter várias vidas. Nele, com efeito, a poesia deixou de ser um género literário e uma competição, para passar a ser a arte total. É, de certo modo, o poder da energia adolescente o que podemos, ao lê-lo, redescobrir. Não se fica o mesmo depois de visionarmos a sua fúria e solaridade, a sua ousadia poética.» [António Carlos Cortez, JL, 4/7/18]

Sobre O Sonho de Bruno, de Iris Murdoch




Bruno tem quase noventa anos. Obcecado com o passado e apaixonado por aranhas, é o centro de uma complexa teia de relações.
Nessa teia estão Danby, o infeliz genro de Bruno; Adelaide, amante de Danby; e Nigel e Will, os irmãos gémeos primos de Adelaide.
Os fios da teia emaranham-se mais ainda quando Bruno insiste em procurar Miles, o filho que o rejeitou e vive com a esposa e a cunhada. 
Pouco demora até que a inquietação que há muito fervilhava venha à superfície, provocando uma vaga de tensão, paixão e violência entre os dois lares…
Em O Sonho de Bruno, o cenário londrino e o ambiente de ameaça são expressos de forma magistral. Este romance, altamente original, mostra-nos Iris Murdoch no apogeu do seu invulgar talento.


De Iris Murdoch a Relógio D’Água publicou também A Máquina do Amor Sagrado e Profano; O Mar, o Mar; O Bom Aprendiz; Um Homem Acidental; O Príncipe Negro; Uma Cabeça Decepada; Sob a Rede e O Sino.

Sobre Breves Notas sobre Literatura-Bloom, o novo livro de Gonçalo M. Tavares




Carlos Vaz Marques falou sobre Breves Notas sobre Literatura-Bloom, o novo livro de Gonçalo M. Tavares, no Livro do Dia, na TSF, de 6 de Julho. O programa pode ser ouvido aqui: https://www.tsf.pt/programa/o-livro-do-dia/emissao/breves-notas-sobre-literatura-bloom---dicionario-literario-de-goncalo-m-tavares-9552298.html?autoplay=true

13.7.18

Celeste Ng falou com Isabel Lucas, a propósito de Pequenos Fogos em Todo o Lado




«Pequenos Fogos em Todo o Lado foi uma das sensações de 2017, está traduzido em 30 línguas e põe em confronto duas famílias ficcionais muito diferentes, os Richardsons e os Warrens, num lugar bem real: Shaker Heights. “Em Shaker Heights havia um plano para tudo. Quando a cidade fora criada em 1912 — uma das primeiras comunidades planeadas da nação —, as escolas tinham sido localizadas de forma que todas as crianças pudessem ir a pé para as aulas sem atravessar nenhuma rua principal; as ruas secundárias iam dar a grandes avenidas, com paragens estrategicamente colocadas ao longo da via-férrea para transportar quem trabalhasse no centro de Cleveland. Aliás, o lema da cidade era (...) ‘A maior parte das comunidades limita-se a acontecer; as melhores são planeadas’: a filosofia era a e que tudo podia — e devia — ser planeado e de que, ao fazê-lo, se evitava o inapropriado, o desagradável e o desastroso.” Celeste Ng cresceu nesse lugar.
[…]

O romance arranca com uma tragédia e um mistério por resolver. A casa onde vivem os Richardsons arde e a família, constituída por um casal e quatro filhos adolescentes, vê comprometido um futuro planeado. O fogo acontece quando outra família, composta por uma mulher e uma filha pré-adolescente, sai da cidade, que passa a ser mais um lugar num percurso feito de permanências fugazes. É a família Warren a viver em permanente itinerância.» [Público, ípsilon, 13/7/18. O texto completo pode ser lido aqui: https://www.publico.pt/2018/07/13/culturaipsilon/noticia/celeste-ng-e-o-tempo-em-que-a-utopia-era-possivel-1835744 ]

Sobre As Pessoas do Drama, de H. G. Cancela




«Ao mesmo tempo que existem estas crises entre as personagens, encontramos neste romance uma descrição constante dos efeitos desgastantes do tempo nos objectos, nos edifícios e nas próprias pessoas: “Vivo em Roma, sei reconhecer a ruína.” (página 250). O tempo serve como uma testemunha da atividade humana, um observador omnipotente das suas ruínas, manchas e obsessões. Ao contrário das tragédias gregas, não temos aqui determinismo estruturante que condena as personagens a um castigo divino e superior. Temos antes, personagens mais modernas, mais cientes de uma limitação profunda da natureza humana, que nunca cedem a considerações divinas ou metafísicas, mas agarram-se a uma simples tentativa de sobrevivência, como que assombrados em relação à sua própria existência. As personagens são descritas como se fossem peões que tentam sobreviver jogada a jogada, privilegiando os seus instintos, sem nunca verdadeiramente tentarem alcançar uma qualquer forma de liberdade.
Uma das razões pela qual a prosa de H.G. Cancela tem um teor de grande densidade e de tensão narrativa deve-se ao facto de as suas personagens andarem em deriva pelo mundo, presas a actos repetitivos, não conseguindo escapar de si mesmas ou do seu passado. Em As Pessoas do Drama está ainda presente uma descrição de uma componente biológica, hereditária, da animalidade presente no ser humano que adensa um sentimento de culpa.» [Jorge Ferreirinha Antunes, Revista Intro, 12/7/18. O texto completo pode ser lido aqui: http://www.intro.pt/as-pessoas-do-drama-h-g-cancela-relogio-dagua-2017/ ]

Sobre Pablo Neruda




«Depois desta obra, a poesia de Neruda cresceu com uma abundância que talvez tenha surpreendido o poeta que demorou cerca de dez anos para escrever estes 56 poemas de Residencia en la tierra, para mim o melhor dos seus livros e uma pedra fundamental da poesia de língua espanhola da primeira metade do século XX.» [Do Prólogo de José Bento a Residência na Terra]

De Pablo Neruda, a Relógio D’Água publicou também Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada e Antologia.

A chegar às livrarias: Confabulações, de John Berger (trad. de Maria Eduarda Cardoso)





«Uma língua falada é um corpo, uma criatura viva […]. E o lugar onde esta criatura reside é tanto o que não se diz quando o que se diz.»
O trabalho de John Berger revolucionou o modo como entendemos a linguagem visual. Neste novo livro, o autor escreve sobre a linguagem em si, e como se relaciona com o pensamento, a arte, a música, a narrativa e o discurso político contemporâneo.
O livro inclui ainda os desenhos, notas, memórias e reflexões de Berger, que vão desde Albert Camus ao capitalismo global. 
Confabulações mostra-nos «o que é verdadeiro, essencial e urgente.»

«Berger ensina-nos a pensar, a sentir. Ensina-nos a olhar para as coisas até conseguirmos ver o que pensámos que não estava lá. Mas, acima de tudo, ensina-nos a amar perante a adversidade. É um mestre do seu ofício.» [Arundhati Roy]

«Um dos intelectuais mais influentes do nosso tempo.» [Observer]

«Um dos maiores pensadores do pós-guerra britânico.» [Guardian]

«Berger lida com o pensamento do mesmo modo que um artista lida com a tinta.» [Jeanette Winterson]


De John Berger, a Relógio D’Água publicou também Para o Casamento.

12.7.18

Sobre Diários, de Virginia Woolf




«O que nos diz o Diário da pessoa de Virginia Woolf que nos permita conhecê-la melhor? O aspecto mais impressionante, creio ser a evidência de uma mulher extremamente contraditória. Desde logo, as alterações radicais dos estados de espírito, a dramática inconstância dos terrores e euforias vivenciais, de um dia “tão divinamente feliz” e de outro exausta e deprimida. Igualmente a dicotomia entre a necessidade de “estar na vertigem das coisas” (o prazer que diz incomparável de jantares e festas, das visitas, das bisbilhotices) e o isolamento com os livros, a escrita, o jardim, a lareira, Leonard. Deseja a animação, os estímulos que põem a mente à prova, os mexericos fervilhantes, e logo se farta da afluência das visitas, despreza os convivas enfadonhos e banais, acusa o desgaste das frioleiras, a perda de tempo com ninharias, anseia beber uma boa “dose de silêncio”.» [Do Prefácio]

Sobre Breves Notas sobre Literatura-Bloom, de Gonçalo M. Tavares




«“Breves Notas sobre Literatura-Bloom” de Gonçalo M. Tavares (Relógio D’Água) é um dicionário literário extravagante, cheio de ironia e xeque-mates, absurdos, maldades ocasionais, cruéis e permanentes. E corajoso.»  [Francisco José Viegas, Correio da Manhã, 5/7/18]

11.7.18

A chegar às livrarias: Desaparecer na Escuridão, de Michelle McNamara (trad. Alda Rodrigues)




Este livro tem o enredo, suspense e intensidade de um policial. Trata-se, no entanto, de um livro de não-ficção. McNamara morreu de forma trágica a meio da investigação que procurava identificar o Golden State Killer, responsável por uma onda de violações e assassinatos na Califórnia que se prolongou por mais de dez anos. A Polícia arquivou o caso. Mas McNamara continuou a investigação pelos seus próprios meios.
“Desaparecer na Escuridão” é o relato de anos de investigação sobre a mente de um criminoso impiedoso. É também o retrato da obsessão de uma mulher pelo fim da impunidade de um assassino. Este livro está destinado a tornar-se um clássico da literatura policial.

«Não consegui parar de ler este livro.» [Stephen King]

«Uma investigação viva e meticulosa de um predador doentio que aterrorizou a população da Califórnia por mais de uma década. Um retrato de uma escritora que se deixou consumir pela perseguição a um criminoso.» [New York Times]

Os direitos de adaptação para série de televisão foram adquiridos pela HBO.

Sobre A Ronda da Noite, de Agustina Bessa-Luís




No âmbito da iniciativa Ano Agustina, mensalmente, ao longo de 2018, a Comunidade Cultura e Arte publicará uma crítica a um dos livros de Agustina Bessa-Luís, do catálogo reeditado pela Relógio D’Água.
No dia 30 de Junho foi publicado o texto de Catarina Fernandes sobre «A Ronda da Noite»:

«Agustina tem essa capacidade de misturar a reflexão, em jeito de ensaio, com o contar de histórias, nunca de maneira estanque mas, aliada à ironia, sempre em jeito de deambulação. Ler Agustina é descobrir que “o que sabem as mulheres dá para arrasar montanhas”, e, sem dúvida, que o que sabe Agustina dá para arrasar até o mais cético dos leitores.» [Texto completo em: https://www.comunidadeculturaearte.com/ano-agustina-a-ronda-da-noite-um-livro-para-se-ler-de-frente-ao-espelho/ ]