31.1.19

Sobre As Partículas Elementares, de Michel Houellebecq




Michel, investigador em biologia, gere o declínio da sua sexualidade recorrendo ao trabalho e aos tranquilizantes. Um ano sabático permite uma viragem nas suas descobertas que pode subverter as bases da sociedade.
Por sua vez, Bruno, seu meio-irmão, procura desesperadamente o prazer sexual. No Lugar da Mudança, um parque de campismo de tendência New Age, pensa ter chegado o momento de alterar a sua vida. Uma tarde, no jacúzi, uma audaciosa desconhecida fá-lo entrever a possibilidade prática da felicidade que procura.

Através dos seus percursos familiares e sentimentais caóticos, os dois protagonistas ilustram de modo exemplar a crise afetiva e sexual da sociedade ocidental ao mesmo tempo que indicam sinais de uma possível mudança.

30.1.19

Sobre Vidas Escritas, de Javier Marías




Francisco Vale falou com Luís Caetano sobre Vidas Escritas, de Javier Marías, no programa Última Edição, da Antena 2, de 21 de Janeiro de 2019. O programa pode ser ouvido aqui.

Sobre O Que os Cegos Estão Sonhando?, de Noemi Jaffe




Em abril de 1945, cerca de um ano após ser presa pelos nazis e enviada como prisioneira para Auschwitz, Lili Jaffe (cujo nome de solteira era Lili Stern) foi salva pela Cruz Vermelha e levada à Suécia. Lá, anotou num diário os principais acontecimentos por que havia passado: a captura pelos alemães, o quotidiano no campo, as transferências para outros locais de trabalho, mas também a experiência da libertação, a saudade dos pais e a redescoberta da feminilidade.
Esse diário — hoje depositado no Museu do Holocausto em Jerusalém e que, traduzido diretamente do sérvio, tem aqui a sua primeira publicação mundial — foi o ponto de partida para este livro absolutamente incomum, escrito e organizado por Noemi Jaffe. Em O Que os Cegos Estão Sonhando?, três gerações de mulheres da mesma família que se debruçam sobre o horror de Auschwitz, no impulso — tão imprescindível quanto vão — de, como observa Jeanne Marie Gagnebin, erguer uma defesa “contra a brutalidade do real”.

A chegar às livrarias: Tchékhov na Vida, de Ígor Sukihkh (trad. Nina Guerra e Filipe Guerra)




Tchékhov disse um dia que «sete anos depois da sua morte — bom, sete anos e meio», já ninguém o leria.
Na realidade, as suas obras, tal como as de autores russos como Tolstói, Dostoiévski e Turguénev, continuam a ser lidas em todo o mundo. Além disso, Tchékhov é considerado uma das personalidades mais íntegras de toda a história da literatura.
Nesta obra, Ígor Sukhikh propõe uma montagem biográfica em que os documentos falam do autor de «O Beijo», «A Senhora do Cãozinho» e Três Irmãs. Cartas, fragmentos de textos literários e passagens das memórias dos seus amigos e familiares compõem um fresco de variadas opiniões e testemunhos, por vezes contraditórios e constantemente corrigidos pela palavra do próprio Tchékhov.
O início é a infância em Taganrog, em seguida a adolescente deslocação para Moscovo com uma bolsa de estudos e as primeiras colaborações com revistas satíricas, que lhe vão permitir ajudar os pais e os cinco irmãos.
Mesmo depois de se tornar médico, conhecido pela generosidade com que cuidava os camponeses, Tchékhov prosseguiu a carreira literária, obtendo o Prémio Púchkin, relacionando-se com escritores como Tolstói, Górki e Búnin, e vendo as suas peças serem representadas.

Pela mão de Ígor Sukhikh, ficamos a conhecer a vida quotidiana de Tchékhov, os seus métodos de trabalho, as fontes de inspiração e o seu relacionamento com os amigos, o erotismo, o amor, o dinheiro, a religião e a própria doença.

A chegar às livrarias: Filosofia da Aventura e Outros Textos, de Georg Simmel (trad. do alemão de Helena Topa)





Muitas vezes, um acontecimento vulgar transforma-se numa aventura devido à intensidade das tensões e emoções que o acompanham. É apenas um fragmento da vida entre outros, mas pertence a formas que, para lá da contingência dos conteúdos, possuem a força secreta que permite sentir por instantes uma condensação da vida nelas acumulada.

29.1.19

Sobre Byung-Chul Han




Carlos Vasconcelos, da Relógio D’Água, falou sobre Byung-Chul Han com Luís Caetano, no programa Última Edição, da Antena 2, de 9 de Janeiro de 2019. O programa pode ser ouvido aqui:

Os livros de Byung-Chul Han podem ser adquiridos aqui: https://relogiodagua.pt/autor/byung-chul-han/

Sobre A Luz da Guerra, de Michael Ondaatje




Carlos Vaz Marques falou sobre A Luz da Guerra, de Michael Ondaatje, no programa Livro do Dia de 18 de Janeiro, na TSF. O programa pode ser ouvido aqui.

Sobre Contos X, de Tchékhov




«— Ivan Ivánitch, conte alguma coisa de meter medo!
Ivan Ivánitch torceu o bigode, tossiu, estalou os lábios e, acomodando-se mais perto das meninas, começou: 
— O meu conto começa do mesmo modo que, em geral, todas as melhores histórias russas: eu estava com os copos, confesso... Festejei a passagem do ano em casa de um velho amigo e emborrachei-me como um sapateiro. Para me justificar, direi que não foi por alegria que bebi. A alegria por motivo tão insignificante como a passagem do ano é, no meu entender, absurda e indigna da razão humana. O ano novo é tão ruim como o velho, com a única diferença de que o velho foi mau e o novo é sempre pior... A meu ver, na passagem do ano, em vez de se rejubilar é preciso sofrer, chorar e tentar suicidar-se. Não esqueçamos que o ano, quanto mais novo, mais perto nos põe da morte, mais vasta é a calvície, mais sinuosas são as rugas, mais velha é a nossa mulher, mais filhos nos nascem, menos dinheiro temos…»

Sobre Marca de Água, de Joseph Brodsky




Em Marca de Água, Joseph Brodsky apresenta-nos um gracioso, inteligente e variado retrato de Veneza.
Observando os mais diversos aspetos da cidade, os canais, as ruas, a arquitetura, as pessoas e a gastronomia, Brodsky capta a magnificência, a fragilidade e a beleza da cidade.

Ao mesmo tempo, desfilam as próprias memórias que Brodsky tem de Veneza, que foi a sua morada de muitos invernos, dos seus amigos, inimigos e amantes. O livro reflete, com enorme força poética, sobre o modo como a passagem do tempo afeta Veneza, alterando a relação entre a água e a terra, a luz e a escuridão, a vida e a morte.

28.1.19

A chegar às livrarias: Tess dos D’Urbervilles — Uma Mulher Pura, de Thomas Hardy (trad. Frederico Pedreira)




“E como poderia eu sabê-lo? Não passava de uma criança quando há quatro meses deixei esta casa. Porque é que a mãe não me disse que eu poderia correr perigo? Porque é que não me avisou?”

Quando Tess Durbeyfield, instigada pela pobreza, se dirige à abastada família D’Urbervilles, o encontro com o seu “primo” Alec revela-se um momento perigoso. Um homem, Angel Clare, oferece-lhe o que parece ser amor e salvação, e Tess tem de decidir se revela o seu passado ou se mantém o silêncio, na esperança de um futuro melhor. 
Tendo como personagem uma Tess crítica e vítima das convenções sociais, este é um dos romances mais comoventes de Thomas Hardy.

“E é quando consideramos a capacidade de Hardy para criar homens e mulheres que tomamos realmente consciência das profundas diferenças que o distinguem dos seus pares. Olhamos de novo para várias das suas personagens e perguntamo-nos qual o motivo que nos fez recordá-las. Lembramo-nos das suas paixões. Lembramo-nos de como se amaram profundamente umas às outras e quantas vezes com que trágicos resultados.” [Virginia Woolf]

De Thomas Hardy a Relógio D’Água editou também O Pregador Atormentado e O Mayor de Casterbridge.

Sobre Juro não Dizer nunca a Verdade, de Javier Marías




«Não raras vezes virulentos e até desmedidos, o que estes artigos nos mostram é um intelectual inconformado, muito distante da imagem ensimesmada que se cola aos autores de hoje. Em vários destes textos, Marías indigna-se com o que considera ser a imbecilização em curso das sociedades contemporâneas, agravada pelos efeitos das novas tecnologias e redes sociais, que fizeram da simples fruição uma doce e distante memória.» [Sérgio Almeida, JN, 4/1/2019]

De Javier Marías, a Relógio D’Água publicou também «Quando os Tontos Mandam» (crónicas), «Vidas Escritas» e «Veneza — Um Interior».

Sobre Diários, de Virginia Woolf




«O que nos diz o Diário da pessoa de Virginia Woolf que nos permita conhecê-la melhor? O aspecto mais impressionante, creio ser a evidência de uma mulher extremamente contraditória. Desde logo, as alterações radicais dos estados de espírito, a dramática inconstância dos terrores e euforias vivenciais, de um dia “tão divinamente feliz” e de outro exausta e deprimida. Igualmente a dicotomia entre a necessidade de “estar na vertigem das coisas” (o prazer que diz incomparável de jantares e festas, das visitas, das bisbilhotices) e o isolamento com os livros, a escrita, o jardim, a lareira, Leonard. Deseja a animação, os estímulos que põem a mente à prova, os mexericos fervilhantes, e logo se farta da afluência das visitas, despreza os convivas enfadonhos e banais, acusa o desgaste das frioleiras, a perda de tempo com ninharias, anseia beber uma boa “dose de silêncio”.» [Do Prefácio]

Sobre Sanditon, de Jane Austen




«Quando morreu em 1817, aos 41 anos, Jane Austen deixou dois romances que viriam a ser publicados postumamente: “Persuasão” e “A Abadia de Northanger”, ambos em 1818. O livro em que trabalhava nos últimos meses de vida, esse, ficou incompleto e só foi dado à estampa (como se de uma novela curta se tratasse) em 1925. Lendo os 12 capítulos sobreviventes de “Sanditon”, muitíssimo bem traduzidos por Alda Rodrigues, é inevitável lamentar que a doença não tenha permitido à autora de “Orgulho e Preconceito” o tempo necessário para concluir esta obra em que reconhecemos muitos dos atributos do seu estilo: da caracterização minuciosa das personagens, sobretudo as femininas, à agilidade narrativa e a um notável sentido do ritmo, passando pela ironia ácida com que desmonta hipocrisias morais e hierarquias sociais.» [José Mário Silva, E, Expresso, 26/1/2019]

25.1.19

Sobre As Variedades da Experiência Religiosa, de William James




«O mote de William James nunca é, como se imaginaria, o de procurar justificar a fé em Deus através de um qualquer impulso biológico ou de uma concepção primária e simplista do mundo, mas antes o de, a partir de uma abordagem pragmática e empirista, procurar analisar um fenómeno ao qual não consegue aceder e que tem dificuldade em entender. Em nenhum momento, o estudo de James diminui ou menospreza a importância do fenómeno religioso. James rejeita liminarmente que explicar a origem de um fenómeno sirva para justificar o seu significado, atacando aqueles que acreditam que emoções religiosas são apenas simples variações de emoções sexuais, ou que Lutero avançou para a reforma protestante apenas para poder casar com uma freira, quando os efeitos destes ímpetos são infinitamente mais amplos do que as suas alegadas causas. Ainda que, para James, os fenómenos religiosos nasçam no nosso corpo e tenham uma justificação subconsciente, em nenhum momento propõe que esta teoria exclua a possibilidade da existência de Deus.» [João Pedro Vala, Observador, 13/1/2019. O texto completo pode ser lido aqui: https://observador.pt/2019/01/13/william-james-os-genios-religiosos-e-a-igreja/ ]

Sobre Viver, de Yu Hua




«No livro “China em Dez Palavras”, colectânea de textos ensaístico-memorialísticos escritos em 2009 — o primeiro dos quais tem sido publicado em The New York Times para assinalar os vinte anos transcorridos sobre o massacre de Tiananmen —, Yu Hua (n. 1960) comenta assim o encontro que tivera no ano anterior com um enviado daquele jornal norte-americano a Pequim para entrevistá-lo: “Parecíamos dois pescadores de memórias, sentados junto ao rio do tempo à espera de que o passado se prendesse no anzol.” A imagem é bastante apropriada para descrever a estrutura, de uma simplicidade estonteante, de “Viver”, o primeiro romance publicado pelo escritor chinês,e m 1993. O narrador começa por explicar-nos que ouvira, dez anos antes, a história que nos vai ser contada. Havia arranjado “um trabalho muito agradável, em que tinha a função de percorrer os campos e as aldeias para recolher canções populares” (p. 7) — e não podemos deixar de recordar como, no volume de memórias e ensaios acima referido, o autor alude à inveja que sentia da vida folgada dos “funcionários do departamento cultural” da pequena vila do sul da China em cujo hospital passou cinco anos a arrancar dentes, antes de se tornar escritor a tempo inteiro. Sentado à sombra de uma árvore, numa certa tarde, o narrador observa um velho camponês incitando um boi a trabalhar a terra. Interpela-o. O velho, chamado Fugi, contra-lhe a sua história. A história que iremos ler, na primeira pessoa do singular.» [Mário Santos, ípsilon, Público, 25/1/19]

Sobre Ensaios — Antologia, de Montaigne




«Para celebrar o seu retiro da magistratura, a fim de se consagrar à actividade literária, Montaigne fez, em sua célebre torre, pintar no gabinete adjunto à sua biblioteca uma inscrição em latim: (…) “No ano de Cristo 1571, com a idade de 38 anos, na véspera das calendas de Março, seu aniversário natalício, Michel de Montaigne, desde há muito desgostado da servidão áulica e dos cargos públicos, sentindo-se ainda vigoroso, retirou-se para o seio das doutas virgens, onde, calmo e sem se inquietar com a mais pequena coisa, passará o que lhe resta de uma vida já muito avançada.» [Do Prefácio]

Sobre Arte e Infinitude, de Bernardo Pinto de Almeida




«As notícias da morte da arte são um manifesto exagero, mas não há como negar que o paradigma do artista sofreu uma verdadeira revolução nas últimas décadas. Esta é uma das teses defendidas por Bernardo Pinto de Almeida no seu ensaio “Arte e Infinitude” (Relógio d’Água), em que sustenta que o contemporâneo recorre tanto ao tecnológico como ao arcaico.» [Sérgio Almeida, JN, 21/1/2019]

O livro pode ser adquirido aqui.

24.1.19

A chegar às livrarias: O Susto, de Agustina Bessa-Luís, com prefácio de António M. Feijó




«Uma das obras mais notáveis de Agustina Bessa-Luís, O Susto é um roman à clef, um romance cujas personagens são modeladas em pessoas reais. O protagonista, José Midões, é o poeta Teixeira de Pascoaes. Agustina Bessa-Luís descreve-o como uma figura excepcional, acima de todos os contemporâneos, e não esconde o fascínio que Pascoaes lhe inspira. (…)
Se todos os livros têm o seu destino, o deste romance é duplo. A sua recepção por leitores e pares, e as consequências dessa acidentada recepção, tiveram efeitos consideráveis na carreira da autora, que merecem ser descritos. Quanto ao romance em si mesmo, a descrição que nele é feita da relação entre Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa, crucial para ambos, em particular para o segundo, que aparece no romance como personagem nada fugaz (Álvaro Carmo), parece ter passado inapercebida pela generalidade da crítica, não obstante ser a mais arguta análise dessa relação alguma vez publicada.» [Do Prefácio]

Disponível no site da Relógio D’Água em https://relogiodagua.pt/produto/o-susto/

Sobre A Chama, de Leonard Cohen



Em entrevista ao The Guardian, Adam Cohen fala sobre os últimos poemas do pai, Leonard Cohen, reunidos em A Chama, que a Relógio D’Água editará em breve com tradução de Inês Dias. [28/9/2018]

Sobre Contos, de Edith Wharton




Edith Wharton é uma das melhores escritoras do século XX. Mais conhecida por romances como A Idade da Inocência, adaptado ao cinema por Martin Scorsese, e Ethan Frome, foi também uma excelente contista. Os contos publicados neste livro ilustram a qualidade e variedade das suas histórias, que vão do trágico ao satírico.

«A combinação da severidade de grand-dame com uma forte consciência moral e narrativa faz das suas histórias, longas e curtas, uma leitura irresistível. » [The Spectator]

Sobre Arte e Infinitude, de Bernardo Pinto de Almeida




Bernardo Pinto de Almeida em entrevista a Sérgio Almeida, do JN, a propósito do seu último livro, Arte e Infinitude. [23/1/2019]

23.1.19

Sobre You Know You Want This, de Kristen Roupenian




Crítica no The New York Times a “You Know You Want This”, de Kristen Roupenian, que a Relógio D’Água publicará em Março


«Tive o privilégio de ler os doze contos da estreia de Roupenian, “You Know You Want This”, praticamente inconsciente da existência peculiar de “Cat Person”, e livre de preconceitos ou expectativas. Fui verdadeiramente surpreendida pelo que li — por este volume ser tão entusiasmante, inteligente, perspicaz, estranha e negro.» [Lauren Holmes, 22/1/2019. Texto completo aqui. ]

Sobre Assimetria, de Lisa Halliday




Carlos Vaz Marques falou sobre Assimetria, de Lisa Halliday, no programa Livro do Dia de 23 de Janeiro, na TSF. 
O programa pode ser ouvido aqui.



Sobre Poesia Romântica Inglesa, de Byron, Shelley e Keats




«Para a opinião pública, os “românticos”, admirados e execrados, foram Byron, que o mundo tomou como imagem mítica da personalidade romântica, Shelley e Keats — três dos maiores poetas de qualquer literatura.» [Jorge de Sena]

«Byron, Shelley e Keats são os poetas que melhor representam a segunda geração romântica. A brevidade da sua vida — dramaticamente interrompida logo no início dos anos 20, morrendo Byron, o mais velho, apenas com 36 anos, enquanto Coleridge e, sobretudo, Wordsworth lhes sobreviveriam — foi compensada ardorosamente pela intensidade com que esses “anjos ineficazes”, para usarmos uma expressão de Matthew Arnold, se entregaram à aventura da poesia.» [Do Prefácio]

22.1.19

Sobre As Variedades da Experiência Religiosa, de William James




«William James, irmão do famoso romancista Henry James, foi um dos mais importantes filósofos americanos e também um dos fundadores da psicologia. “As Variedades da Experiência Religiosa”, embora se situe formalmente na segunda área — James propõe-se falar da religião enquanto experiência humana, não tratando questões de validade última — possui bastante de filosófico. Mesmo quando surge o que parece uma mera descrição de estados mentais, há sempre algo que vai mais além. Veja-se esta passagem: “A nossa consciência em estado normal de vigília, a que chamamos consciência racional, não é senão um tipo particular de consciência, enquanto em seu redor, separadas por uma finíssima tela, se encontram formas potenciais de consciência totalmente distintas.”» [Luís M. Faria, E, Expresso, 19/1/2019]

Sobre Impressões de África, de Raymond Roussel




Nesta obra o leitor é transportado para a Praça dos Troféus, situada no centro de Ejur, capital de Ponukelé, onde a população se prepara para a sagração do imperador Talu VII.
Descobrimos inscrições inesperadas e estranhas máquinas, no meio das quais homens e mulheres de raça branca e negra se dedicam a exercícios complicados ou insignificantes, trágicos ou ridículos.
Só alguns capítulos depois se desvenda a implacável lógica de um tal cenário.

Sobre Mrs. Osmond, de John Banville




«Hoje na Sábado escrevo sobre Mrs. Osmond, de John Banville (n. 1945), o irlandês que é actualmente um dos mais importantes autores vivos de língua inglesa. Só um autor como ele podia, sem cair no ridículo, escrever a sequela de Retrato de Uma Senhora, de Henry James. Fez isso neste seu romance mais recente, prolongamento das aventuras de Isabel Archer, a americana rica que se deixou seduzir por um europeu arrivista. O romance de 1881 é um clássico. Quem não leu James, viu com certeza o filme que Jane Campion fez em 1996, com Nicole Kidman e John Malkovich nos papéis de Isabel e Gilbert Osmond. Mrs. Osmond é um pastiche, com a vantagem suplementar de ‘responder’ ao livro de James, que tem um final ambíguo, coisa que agora não acontece. É provável que alguns jamesianos prefiram a história suspensa. Para muitos deles, é indiferente saber se Isabel volta para Gilbert. Mas esse detalhe hermenêutico vê-se ultrapassado pelo brilho estilístico de Banville, que resgata a intriga das incertezas e equívocos da obra-prima de James, fazendo a transição do romance vitoriano para a narrativa modernista. Isabel continua na Europa, em trânsito pela Inglaterra, França e Itália, porém ligada ao repelente marido. Banville cria novas personagens, sem excluir as de James: o primo Ralph, madame Merle (amante de Gilbert), Henrietta Stackpole e outras. A mais-valia radica no fôlego da escrita, quer se trate de descrições de viagens, factos triviais ou estados de alma: «Além disso, não estava na sua natureza esquivar-se ao dever e às coisas que reclamavam a sua intervenção. Na sua conceção de si mesma, sempre predominara a ideia de que na vida uma pessoa só consegue preservar o que resta da sua honra ao encarar cabalmente as suas más ações e a sua cumplicidade no mal…» O leitor talvez considere excessivo o uso de pronomes possessivos, que têm no texto original um peso diferente daquele que adquirem na língua de chegada, mas a prosódia tem exigências. No confronto com James, Banville dialoga de igual para igual, sobrepondo o virtuosismo da prosa à engrenagem do plot. O resultado é surpreendente.» [Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito de crítica publicada na Sábado, 17/1/2019]

21.1.19

Sobre A Saga de Selma Lagerlöf, de Cristina Carvalho



Na próxima sexta-feira, dia 25, às 18:00, Cristina Carvalho estará na Livraria Arquivo para conversar sobre A Saga de Selma Lagerlöf.


Sobre A Luz da Guerra, de Michael Ondaatje




«Escrevo ainda sobre A Luz da Guerra, de Michael Ondaatje (n. 1943), poeta consagrado e romancista laureado, conhecido em todo o mundo desde que Anthony Minghella adaptou ao cinema O Paciente Inglês, provavelmente o melhor romance deste canadense nascido no Sri Lanka. A obra mais recente confirma a solidez de uma escrita convencional, porém sedutora. Estamos na ressaca da Blitz londrina, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. A primeira frase dá o tom: «Os nossos pais foram-se embora, deixando-nos ao cuidado de dois homens que podiam muito bem ser criminosos.» O motivo da inesperada partida para Singapura foi um mistério para Nathaniel e Rachel. Por que razão a mãe não levou consigo a mala de porão? Qual a natureza do trabalho que precipitou a partida? Serviços secretos? Fuga a segredos indizíveis? Como de regra, Ondaatje é minucioso nos detalhes da recriação de ambientes, mesmo (como aqui) em registo dickensiano. Do seu lugar de narrador autodiegético, Nathaniel conta como foi. Tudo aconteceu num tempo que a memória filtrou, sem os holofotes do presente. Música de câmara perfeita.» [Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito de crítica publicada na Sábado, 17/1/2019]

Sobre O Corvo, de Edgar Allan Poe




«O Corvo» de Edgar Allan Poe (1809-1849) foi publicado pela primeira vez em livro em 1845, pela editora norte-americana Lorimer Graham, numa versão que integrava correcções do autor. Poucos anos depois era já um dos mais conhecidos poemas da literatura norte-americana, sendo considerado um desafio por diversos tradutores, entre os quais se contaram Charles Baudelaire e, no caso da língua portuguesa, Fernando Pessoa e Machado de Assis.
Um dos problemas específicos do texto está no facto de o corvo, que certa noite visita o narrador mergulhado em livros de um «saber esquecido», emitir apenas a palavra Nevermore, que é enunciada no final de cada estrofe adquirindo de cada vez um sentido diverso.

Leituras Encenadas de obras de Agustina Bessa-Luís




A Câmara Municipal do Porto, em colaboração com o Círculo Literário Agustina Bessa-Luís, organizou um Ciclo de Leituras Encenadas, a partir de excertos de obras de Agustina Bessa-Luís. 
A encenação é do actor Rui Osório e os actores Romi Soares, Rui Osório, Rita Brandão, Hugo Lima Araújo e Sandra Ribeiro lêem os textos, com acompanhamento musical de Cristina Bacelar e Armando Ribeiro. 
As leituras terão lugar na Biblioteca Pública Municipal do Porto, entre os meses de Janeiro e Junho de 2019 às 19h.



No passado dia 18 de Janeiro, teve lugar a leitura encenada de Dentes de Rato.

Entre outras actividades, no próximo dia 15 de Fevereiro, haverá a leitura encenada de As Estações da Vida.

Estreia de Maigret na FOX Crime




Estreou ontem na FOX Crime a série Maigret, baseada nas obras de Georges Simenon e protagonizada pelo actor Rowan Atkinson. O primeiro episódio da série é a adaptação do livro Maigret Arma Uma Ratoeira, publicado pela Relógio D’Água.
De Georges Simenon a Relógio D'Água publicou também Maigret e o Seu Morto, Os Três Crimes dos Meus Amigos, O Quarto Azul, O Santinho, O Testamento Donadieu, Os Clientes de Avrenos e O Homem Que Via Passar os Comboios.

18.1.19

A chegar às livrarias: Léxico Familiar, de Natalia Ginzburg (trad. Miguel Serras Pereira)




Léxico Familiar é o principal livro de Natalia Ginzburg e um clássico da literatura italiana contemporânea.
A narrativa acompanha a vida dos Levi, que viveram em Turim entre 1930 e 1950, período em que se assiste à ascensão do fascismo, à Segunda Guerra Mundial e aos acontecimentos que se lhe seguiram.
Natalia, uma das filhas do professor Levi, foi testemunha dos momentos íntimos da família e dessa conversa entre pais e irmãos que se converteu num idioma secreto.
Nesta narrativa de pendor autobiográfico, os acontecimentos quotidianos misturam-se com reflexões que mantêm toda a atualidade. 
O livro venceu em 1963 o Prémio Strega.


«A sua simplicidade é um feito, bem conseguida e admirável, e bem-vinda a um mundo literário em que o manto da omnisciência é tão prontamente envergado.» [The New York Times Book Review]

Hélia Correia entrevistada por Paulo Serra, no Cultura Sul, a propósito do seu mais recente livro, Um Bailarino na Batalha





«— Nas suas outras obras são as mulheres que irradiam um brilho dourado e imbuídas de magia. Mas neste texto, em que durante a migração as personagens se vão transformando, temos homens que sofrem uma metamorfose e ganham capacidades.
(Risos) Não faço a mínima ideia, nem sequer me tinha apercebido disso… Há uma quase simbiose com o animal, o velho que se transforma em águia, o Tariq que se transforma em serpente e o Erend é o que cria luz.
É muito engraçado porque o ponto de vista feminista e de literatura de género receberam os meus livros como algo muito significante do ponto de vista que lhes interessa. As figuras das mulheres muito fortes e os homens fracos. Os ambientes femininos. Certas correntes interpretativas tentam juntar isso ao biografismo e à história de vida da mulher. É muito engraçado porque eu não tive experiência nenhuma de vida feminina. As grandes figuras da minha vida são masculinas. Eu nunca fiz parte de alguma forma de gineceu, dos grupos de mulheres a contar as suas histórias, aquele lugar comum que se atribui à experiência de vida de uma pessoa do sexo feminino que escreve. Não tive educação sexista, não fui nada educada como rapariga para ser mulher. Tive uma educação progressista, laicíssima, pró-científica. E, no entanto, pelos vistos, os livros transmitem esse universo feminino que nada tem a ver comigo. Acontece, mas não sei como é, os textos para lá vão, mas a minha experiência biográfica é absolutamente estranha a tais ambientes.

Agora, se são os homens os mais fortes neste livro, trata-se de algo que também aconteceu no texto. Não houve nenhuma intenção da minha parte, nada pensei sobre isso, no furor da escrita, naquela ânsia de chegar a um sítio e libertar-me daquele escrever que é uma compulsão, uma obsessão que eu só me quero que termine porque estou presa durante o tempo da escrita. Provavelmente foram os nomes deles que lhes deram essa força… Sei que fiquei muito feliz quando vi que havia nas personagens um elemento animal forte porque isso para mim, na minha vida pessoal, é muito importante. O entrosamento com o animal e com o vegetal. A não-separação dos ditos reinos da natureza. E quando vi isso acontecer fiquei muito feliz e lembro-me desses momentos como se uma dádiva especial. Quanto ao menino com a visão não sei… Realmente eu não sou uma dialogante fácil quanto ao que escrevo. Quando saímos desse assunto e passamos a conceitos sociais e culturais, creio que me torno boa conversadora…» [Paulo Serra, Cultura Sul, 18/1/2019. Entrevista completa aqui.]

Sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis




«Machado de Assis, o mais destacado discípulo de Laurence Sterne no Novo Mundo, escreveu a sua obra-prima em 1880 num Brasil esclavagista, sendo ele próprio neto de libertos. Mas Machado, génio da ironia, nunca ataca directamente a sua sociedade, antes se propondo atingi-la com uma comédia maliciosa e um niilismo embotado. O seu Brás Cubas é maravilhosamente estimável e magnificamente alienado: nunca sofre e por isso nunca sofremos com ele. E, no entanto, das suas Memórias Póstumas emana uma tranquilidade quase sobrenatural, uma atmosfera tão original, que não posso compará-la com nenhuma outra narrativa, apesar da influência de Sterne.
O verdadeiro tema de Machado é a nossa comum mortalidade. Um tema que é difícil considerar com despreocupação e ironia, mas que nos obriga nas Memórias Póstumas de Brás Cubas a adoptar uma perspectiva ao mesmo tempo distanciada e irónica.» [Harold Bloom, Génio]

Agustina Bessa-Luís, Hélia Correia, José Cardoso Pires e Vitorino Nemésio em debate na Academia das Ciências de Lisboa




No ciclo de conferências 100 anos de Prosa, que decorrerá entre 14 de Janeiro e 19 de Março, pelas 17:00, na Academia das Ciências de Lisboa, estarão em discussão vários escritores portugueses, alguns dos quais com obras publicadas pela Relógio D’Água.
No dia 4 de Fevereiro, Luiz Fagundes Duarte falará sobre Vitorino Nemésio, numa conferência intitulada “Por ter cumprido a palavra”
No dia 18 de Fevereiro, Isabel Ponce de Leão falará sobre “Agustina: diálogos intertextuais”.
No dia 19 de Fevereiro, Marco Neves falará sobre “José Cardoso Pires e as Vozes da Cidade”.

No dia 12 de Março, Sandra Sousa falará sobre “Da tradição à reinvenção: representações do feminino na obra de Hélia Correia”.

17.1.19

Sobre A Campânula de Vidro, de Sylvia Plath




«The Bell Jar veio pela primeira vez a público em Inglaterra, no dia 14 de janeiro de 1963, editado pela Heinemann, com autoria atribuída a Victoria Lucas.
O motivo que terá levado Sylvia Plath a recorrer a um pseudónimo, prende-se com a óbvia coincidência existente entre personagens, eventos e lugares ali descritos, e a realidade biográfica da autora. Essa confusão entre realidade e ficção tem servido, ao longo dos anos, a uma vasta panóplia de equívocos que mais não fizeram do que dissimular o lugar da sua obra poética e narrativa na literatura anglo-americana contemporânea.» [Do Posfácio]

16.1.19

Sobre Infância, Adolescência e Juventude, de Lev Tolstói




«A obra literária de Lev Tolstói tem sido descrita como «um enorme diário mantido ao longo de mais de cinquenta anos». Esse diário tem início com Infância, o primeiro livro que Tolstói publicou, quando tinha apenas vinte e três anos. É uma obra semi-autobiográfica que relata a infância de Nikolai Irteniev aos dez anos de idade, recriando pessoas, locais e acontecimentos com a vivacidade de uma criança, enriquecida pela irónica compreensão retrospectiva de um adulto. Pouco tempo depois, seguiram-se Adolescência e Juventude, e Tolstoi lançou-se numa carreira literária que lhe viria a dar a imortalidade.
Esta trilogia constitui uma introdução indispensável ao método literário de Tolstói e às suas principais preocupações — amor, moralidade e não-violência. A sua mestria como contador de histórias sobrevive não só à tradução, como à passagem do tempo, deleitando os leitores actuais de todos os tipos e idades.» [No blogue literário da Bertrand, «Somos Livros», sobre «6 livros essenciais de Tolstói», 20/11/18]

Sobre VALIS, de Philip K. Dick




«Envolto em mistério e dúvidas, PKD explora a nossa própria condição humana, como vemos o nosso mundo e o quanto a nossa realidade foi criada por pormenores aos quais nem sempre damos valor ou importância, mas que tiveram e ainda têm um impacto enorme na nossa sociedade.» [Luís Pinto, no blogue Ler y criticar, 17/12/2018]

15.1.19

Sobre Dentes de Rato, de Agustina Bessa-Luís




No âmbito da iniciativa Ano Agustina, mensalmente, ao longo de 2018, a Comunidade Cultura e Arte publicou uma crítica a um dos livros de Agustina Bessa-Luís, do catálogo reeditado pela Relógio D’Água.
No dia 4 de Janeiro, foi publicado o texto de Sofia Trovisco sobre «Dentes de Rato»:

«Dentes de Rato é um conto infantil da autoria de Agustina Bessa-Luís, uma nota autobiográfica ficcional, cuja escrita simples e fluida viaja através da narrativa de histórias, lugares e pessoas que marcam o universo infantil de Lourença. Um conto que evidencia os traços mais marcantes da infância da autora, os quais são explorados em inúmeras obras literárias de Agustina – as inúmeras mudanças de casa e de localidade, devido ao emprego do pai; a ligação íntima com o campo e com o norte de Portugal, lugares esses que cultivaram para sempre o seu imaginário; e a convivência com os costumes e tradições do século XX, fomentando o seu espírito crítico face ao papel da mulher na sociedade e o seu gosto pela moda.
Lourença – uma menina de seis anos e a mais nova de quatro irmãos – é conhecida no seio familiar por Dentes de Rato, por ‘uma mania que ninguém podia explicar’: mordia todos os frutos que estavam na fruteira, ficavam com ‘duas dentadinhas já secas e onde a pele mirrara’, denunciando assim a sua presença. 
(…)
É possível encontrar, de novo, Lourença e o início do seu amor pela escrita na obra Vento, Areia e Amoras Bravas; Agustina presenteia-nos, assim, com a oportunidade de a conhecer pelas palavras da própria.» [Texto completo aqui.]

A Relógio D’Água publicará «Vento, Areia e Amoras Bravas» no primeiro semestre de 2019.

Sobre Normal People, de Sally Rooney



Como o romance Normal People, de Sally Rooney, se tornou o fenómeno literário da década: para ler no The Guardian.

14.1.19

Assimetria, de Lisa Halliday, na lista de finalistas do Prémio Literário JQ Wingate





Lisa Halliday acaba de ser nomeada finalista do Prémio Literário JQ Wingate com o seu romance Assimetria, publicado em Portugal pela Relógio D’Água.
Os outros finalistas do prémio, que distingue uma obra de ficção ou não ficção que transmite a ideia do judaísmo aos leitores, são Chloe Benjamin  (The Immortalists), Françoise Frenkel (No Place To Lay One’s Head), Dara Horn (Eternal Life), Raphael Jerusalmy (Evacuation) e Mark Sarvas (Memento Park).
O prémio, no valor de 4000 libras, será anunciado no dia 25 de Fevereiro.

Sobre Alice no País das Maravilhas e Alice do Outro Lado do Espelho, de Lewis Carroll




«Deixem-me acrescentar, pois sinto que me deixei divagar num tom demasiado sério para um prefácio de um conto de fadas, a deliciosa e ingénua observação de uma menina a quem quero muito, quando lhe perguntei, depois de a conhecer há dois ou três dias, se ela lera As Aventuras de Alice e o Do Outro Lado do Espelho. “Sim, sim”, respondeu ela prontamente, “li os dois! E acho…” (disse ela mais devagar, como se pensasse no assunto), “acho que o Do Outro Lado do Espelho é mais estúpido do que As Aventuras de Alice. Não lhe parece?” Mas eu achei que não seria de bom-tom entrar nessa discussão.» [Prefácio de Lewis Carroll, Dezembro 1886]