27.7.15

É Complicado, de danah boyd, na revista E, do Expresso


Na revista E, do Expresso, Luís M. Faria escreve sobre É Complicado, de danah boyd, que acaba de ser lançado.

«Consta de oito capítulos que se ocupam de outras tantas questões cheias de risco e promessa: identidade, privacidade, dependência, perigo (predadores sexuais), bullying, desigualdade, literacia, procura de lugares próprios. A tese de Danah Boyd (ela escreve em minúsculas o seu nome; coisa de afirmação, talvez) é que os jovens americanos procuram hoje aquilo que sempre procuraram. Basicamente, estar com os amigos e fazer a sua vida. A diferença é que agora estão sujeitos a uma tal quantidade de restrições que na prática a internet é o único espaço onde podem ser eles próprios. Não se trata de serem viciados em telefones e tablets, mas de esses aparelhos constituírem o meio de acesso àquilo que lhes interessa; em particular, os amigos. Quanto aos riscos alegadamente à espreita, existem, mas em grau muitíssimo menor do que os alarmes públicos fazem supor.» [Luís M. Faria, revista E, de 25-07-2015]



24.7.15

A chegar às livrarias: História do Novo Nome, de Elena Ferrante (trad. de Margarida Periquito)





Este romance continua a história de Lila e Elena, tendo como pano de fundo a cidade de Nápoles e a Itália do século XX.
Lila, filha de um sapateiro, escolhe o caminho de ascensão social no próprio bairro e, no final de A Amiga Genial, vemo-la casada com um comerciante. Elena, pelo contrário, dedica-se aos estudos.
Ambas têm agora 17 anos e sentem-se num beco sem saída. Ao assumir o nome do marido, Lila tem a sensação de ter perdido a identidade. Elena, estudante modelo, descobre que não se sente bem no bairro nem fora dele.
No início, vemos Elena a abrir um caderno de notas onde Lila fala sobre a vida com o seu marido e as complicadas relações com a Mafia e os grupos neofascistas, que invadem os bairros com as suas proclamações.
Lila e Elena hesitam entre a tendência para a conformidade e a obstinação em tomar nas suas mãos o seu destino, numa relação conflitual, inseparável mistura de dependência e vontade de autoafirmação, em que o amor é um sentimento «molesto» que se alimenta do desequilíbrio até nos momentos mais felizes.

Do Prefácio de Nuno Markl a Uma Conspiração de Estúpidos, de John Kennedy Toole





«Descobri Uma Conspiração de Estúpidos numa livraria de Nova Iorque, em 1999. É provável que não precisasse de referir o enquadramento em que descobri o livro. Porque o fiz? Talvez para me armar em snob e parecer muito mais importante e sofisticado do que, na verdade, sou (fui para lá em turística, graças a uma promoção em que o voo e o hotel me saíram extremamente baratos). Já tinha ouvido falar e lido algumas referências sobre este clássico da literatura americana, mas nunca me ocorrera lê-lo; a aparente importância da minha frase inicial morre aqui também, pois o que me levou a comprar o livro foi ele estar em saldos e eu precisar de uma obra para ler na viagem de volta a Portugal.
Mal eu sabia que tinha nas mãos um dos meus futuros livros preferidos de sempre e um que me complicaria a apreciação de alguns bons livros que li a seguir («Pronto, é bom mas não é Uma Conspiração de Estúpidos!»). A viagem Nova Iorque — Lisboa passou num instante, com a saga do balofo e arrogante Ignatius e a sua caótica busca por um emprego (e, no fundo, pelo sentido da vida) a ser lida com uma voracidade só interrompida pela ideia de que, mal aterrasse, teria de me dedicar a caçar as outras obras de John Kennedy Toole. Pensamento que depressa esmoreceu ao recordar-me das palavras do escritor Walker Percy no prefácio da minha edição do livro, narrando a triste — mas por fim vitoriosa — saga de Uma Conspiração de Estúpidos. Toole escrevera apenas dois livros — para além deste, A Bíblia de Néon — e suicidara-se em 1969, vítima de uma depressão profunda, alimentada por anos de rejeição do seu trabalho por vários editores. Se o mundo tem hoje esta preciosidade que é Uma Conspiração de Estúpidos, isso deve-se ao comovente e inabalável empenho da mãe do autor, Thelma Toole, e do próprio Walker Percy, que abriu as portas do mundo literário à obra de John Kennedy Toole. O autor morreria longe de imaginar que o seu livro ganharia um Pulitzer e acabaria por tornar-se uma das obras maiores da literatura americana.» [Do Prefácio de Nuno Markl]

Sobre Debate sobre a Desigualdade e o Futuro da Economia, de Paul Krugman, Thomas Piketty e Joseph Stiglitz





«Nas 60 páginas que correm antes desta conclusão, debate-se a desigualdade enquanto fenómeno geopolítico, mas também enquanto contradição interna do mundo desenvolvido. Fala-se de desemprego, da reprodução da desigualdade através do ensino e do seu reflexo no acesso à saúde, da incapacidade das instituições para inverter estes fenómenos e da forma como tudo isso assume razões e expressões diversas consoante falamos dos Estados Unidos, da Europa ou do resto do mundo.» [João Pedro Oliveira, Time Out, 22-07-2015]

23.7.15

Sobre José Cardoso Pires




«A obra de José Cardoso Pires está de regresso. Para celebrar o acontecimento, Mário Santos traçou um itinerário da cidade a partir das referências que o autor semeou na sua obra. Um passeio por quatro livros, entre Alvalade e o Cais do Sodré.
(…)

E eis-nos chegados a “Entre Chiado-e-Cais-do-Sodré”, região demarcada, demarcadíssima, onde se cruzam e se sobrepõem tantas muitas andanças da biografia e da ficção do Escritor; terreiro das marialvices “freudulentas” do último Palma Bravo, o delfim da Casa da Lagoa, tão magnificamente contado pelo narrador-caçador Cardoso Pires. E este é outro dos grandes-romances-grandes do Escritor (com filme de Fernando Lopes que não o desmerece, não senhor!). Desço a Rua do Alecrim. Ao fundo, vejo sulcar o Tejo um automóvel “rápido como o pensamento” numa tarde de Abril. Leva um anjo ancorado no lugar do morto e dirige-se para a costa de Peniche. Há-de voltar depressa (e bem), que a viagem é curta. Que farei amanhã? “Não sei. E você?”» [Time Out, 22-7-2015, fotografia de Eduardo Gageiro]

A chegar às livrarias: Uma Conspiração de Estúpidos, de John Kennedy Toole, com prefácio de Nuno Markl




O protagonista deste romance é uma das personagens mais memoráveis da literatura norte-americana.
Aos 30 anos, Ignatius J. Reilly vive com a mãe, ocupado a escrever uma demolidora denúncia do século XX, uma perturbante alegação contra uma sociedade perturbada. Devido a uma inesperada necessidade de dinheiro, vê-se catapultado para a febre da existência contemporânea, febre que, por sua vez, contribui para aumentar em alguns graus.

«Um romance extremamente divertido. É um daqueles livros de onde sempre iremos fazer citações.» [Anthony Burgess]

«Um romance disparatado e burlesco, rabelaisiano e surpreendente, que rompe com os hábitos da narrativa norte-americana atual. Uma tragicomédia cósmica, cuja leitura faz com que se alterne entre a gargalhada e a angústia.» [El País]

«Irresistivelmente divertido, uma comédia épica na grande tradição de Cervantes e Fielding.» [Monroe K. Spears]


«Este livro teve resenhas por todo o lado e entusiasmou todos os críticos. Por uma vez todos tinham razão.» [Greil Marcus, Rolling Stone]

20.7.15

Sobre Um Bom Homem É Difícil de Encontrar e Outras Histórias, de Flannery O’Connor




No último número da revista E, vários críticos do Expresso recomendam livros para a época estival. Entre eles figuram 3 obras que a Relógio D’Água publicou.

Pedro Mexia recomenda Um Bom Homem É Difícil de Encontrar e Outras Histórias, de Flannery O’Connor, em nova tradução de Paulo Faria: «Uma nova edição do primeiro livro de contos (1955) da americana Flannery O’Connor, cuja obra ficcional, escassa, está integralmente traduzida em português. As histórias, violentas, conjugam as paisagens e as tonalidades sulistas, ditas “grotescas”, e as hipóteses teológicas, sempre paradoxais, às vezes ínvias.»

Sobre Tolstoi ou Dostoievski, de George Steiner




«George Steiner gosta de génios, e em Tolstoi ou Dostoievski, o seu primeiro livro (originalmente editado em 1960), escolheu logo os dois génios russos oitocentistas, autores cujos admiradores não se confundem e que no entanto partilham pressupostos metafísicos, adaptando a tradição épica ou trágica às suas idiossincrasias cristãs.» [Pedro Mexia recomenda Tolstoi ou Dostoievski, de George Steiner, trad. de Jorge Vaz de Carvalho, nas sugestões de Verão 2015, Expresso, 18-7-15]

Sobre Tratado sobre a Tolerância, de Voltaire





«Em tempos conturbados, regidos pela tecnocracia e finança, um texto de uma das figuras europeias mais ilustres que logo associados ao Iluminismo, movimento que está na raiz do melhor que a Europa terá gerado até hoje. Um erro judicial leva à morte de um homem. Voltaire desmonta-o, servindo-nos um impagável libelo.» [Ana Cristina Leonardo recomenda Tratado sobre a Tolerância, de Voltaire, nas sugestões de Verão 2015, Expresso, 18-7-15]

Debate sobre a Desigualdade e o Futuro da Economia, de Paul Krugman, Thomas Piketty e Joseph Stiglitz na secção Culturas/Obrigatório do Expresso





 
«Num momento em que os aspetos económicos da crise global estão na ordem do dia (veja-se o caso da Grécia), é essencial convocar os melhores espíritos do nosso tempo para refletir sobre o que está a acontecer. Este livro faz isso mesmo, ao reproduzir um debate recente (março de 2015) com dois Nobel de Economia e o influente autor de O Capital no Século XXI.» [Expresso, revista E, 18-7-15]

17.7.15

Ípsilon entrevista Elena Ferrante




 No último número do ípsilon (17/7/15) que lhe dedica a capa, é publicada uma entrevista feita por Isabel Lucas à escritora Elena Ferrante.
É a primeira entrevista concedida pela autora a um órgão de comunicação português e uma das raras que concedeu a nível mundial, até porque tem mantido um persistente anonimato. A entrevista surge na altura em que a Relógio D’Água publica o romance História do Novo Nome, segundo volume da tetralogia A Amiga Genial (título que surge depois da edição de Crónicas do Mal de Amor em Maio de 2014).

«Há uma imagem que permanece depois desta entrevista, tão forte e tão clara como as que povoam as suas histórias. “Uma pessoa que trata da vida de todos os dias transportando sempre um livro e um bloco de notas na mala de mão.” Elena Ferrante é essa pessoa. Continua sem rosto para os leitores que a seguem um pouco por todo o mundo e vêem nela uma das mais poderosas escritoras da actualidade, capaz de descrever o que de mais íntimo, reservado, ambíguo e explosivo existe no acto de viver. É um íntimo com uma paisagem definida. As personagens carregam o ambiente onde se fizeram. E as de Ferrante, como ela, construíram-se em Nápoles, a cidade que ama e odeia, mas sem a qual não vive.»

«Numa entrevista sobre as razões do seu anonimato, respondeu: “Escrever sabendo que não vou aparecer produz um espaço de absoluta liberdade criativa.” Acha que a sua escrita seria diferente se não tivesse escolhido não se revelar?
Tenho a certeza disso. Divulgar a própria pessoa ao mesmo tempo que o livro, segundo o costume da indústria cultural, é completamente diferente de nos escondermos no texto e de não sairmos dele a não ser graças às capacidades imaginativas dos leitores.»


«Quais são os seus autores de referência, os que a influenciaram e influenciam?
Muitas vezes os escritores atribuem-se antepassados literários de grande relevo, cujo eco, porém, é inconsistente nas suas obras. Por isso, é melhor não referir nomes excelsos, que só assinalam o grau da nossa soberba. Prefiro enunciar um método: uma vez que somos mais influenciados por aquilo que os especialistas dizem dos grandes livros do que pela sua leitura, é preferível ler os textos, quer sejam grandes ou pequenos, para os subtrair ao perímetro em que os encerraram e procurar as páginas que, aqui e agora, nos ajudam a fugir ao óbvio.»

16.7.15

A chegar às livrarias: Departamento de Especulações, de Jenny Offill (trad. José Miguel Silva)





Departamento de Especulações fala-nos de um casamento, sendo uma sedutora contemplação dos mistérios da intimidade, confiança, fé, conhecimento, e da condição universal de fracasso que nos une.
A heroína de Jenny Offill, «a esposa», trocou cartas de amor com o marido, carimbadas como «Departamento de Especulações» — nome de código para todas as incertezas inerentes à vida e para os contornos estranhamente definidos de uma relação prolongada. À medida que enfrenta alguma catástrofes vulgares — um bebé com cólicas, um casamento hesitante e ambições estagnadas —, analisa a sua difícil situação, invocando tudo, desde Keats e Kafka, passando pelas duras experiências dos estoicos, e terminando em lições de cosmonautas russos.
A autora reflete sobre a experiência do amor maternal e sobre a quase completa destruição do «eu» que dele surge, confrontando a fricção da vida doméstica com as seduções e exigências da arte.


«Um romance maravilhosamente difícil de definir, porque aponta simultaneamente para várias direções, brilhando com diferentes tons de emoção. Se é uma descrição angustiante de um casamento em perigo, é também um poema em louvor do matrimónio.» [James Wood, The New Yorker]


«Departamento de Especulações, de Jenny Offill, não se assemelha a nenhum outro livro que tenha lido. Se vos disser que é divertido, tocante e verdadeiro; que é tão compacto e misterioso como um neutrão, que nos conta uma profunda história sobre amor e paternidade, e que para isso invoca (entre outros) Keats, Kafka, Einstein, cosmonautas russos e conselhos para as domésticas de 1896, serão capazes de acreditar em mim, e lê-lo?» [Michael Cunningham]

15.7.15

Retrato de Rapaz vence Grande Prémio de Romance e Novela APE e Impunidade é o segundo mais votado






A Associação Portuguesa de Escritores acaba de atribuir o Grande Prémio de Romance e Novela – 2014 a Retrato de Rapaz, de Mário Cláudio. O segundo romance mais votado foi Impunidade, de H. G. Cancela, publicado na Relógio D’Água .
O júri foi constituído por Ana Paula Arnaut, Miguel Miranda e Miguel Real, que votaram em Retrato de Rapaz, e por Isabel Cristina Mateus e Maria João Cantinho, que escolheram Impunidade.
Foi a segunda vez que Mário Cláudio venceu este prémio, sendo os outros romances finalistas Os Memoráveis, de Lídia Jorge, Cláudio e Constantino, de Luísa Costa Gomes, e No Céu não Há Limões, de Sandro William Junqueira. Inicialmente haviam sido admitidas a concurso 86 obras.
Num artigo publicado no dia 14 de Julho no seu blogue, Maria João Cantinho escreveu:

 
«O narrador aparece, vindo não se sabe de onde, como uma personagem errática. Instala-se num hotel, em Sevilha. Não sabemos como nem por que razão chega a um apartamento, um oitavo andar, em Sevilha, onde vivem duas crianças pequenas, um rapaz de nove anos e uma menina de quatro, numa situação de abandono. É com estupefacção e com horror que o rapaz reconhece o pai, que mal havia visto: “Ele, com a boca fechada e os maxilares comprimidos, dir-se-ia diante da materialização de um terror nocturno.”
É este o tom que dá início à entrada do narrador na acção. Um pai que vem procurar dois filhos que vivem sós, sujeitos à irregular chegada de uma estranha empregada com um filho inquietante, Amir, que passa muito tempo junto das crianças. O filho é “o rapaz” e a menina chama-se Laura. Não é ao acaso que o filho é “sem nome”, como uma presença profundamente perturbadora, ao longo de toda a história. Se, no início, a sua presença nos aparece inocente, atento à irmã, que mal se compreende (aliás, a falta de inteligibilidade do discurso de ambos e a confusão das línguas é uma constante, na relação com os pais, como um sinal de um obscuro mal, não-partilhável), no entanto, ela transforma-se numa hedionda cumplicidade com Amir.
As grandes e metafísicas obsessões deste autor são o mal e a culpa, uma culpa arcaica e que pesa sobre todas as personagens, transformando-as em estranhos seres, incapazes de fala e de alegria e apenas Laura (a vítima sacrificial) é capaz de alguma alegria, não obstante todos os sinais de violência sobre o seu pequeno corpo, em crescendo. Sim, poderíamos dizê-lo: em tudo se assemelham a anjos caídos, mas isso não se aplicará a Amir, o rapaz que é meio espanhol e meio marroquino, como se o seu próprio corpo simbolizasse uma irredutível terra de ninguém, incapaz de amor e de respeito, avesso a todas as regras.
Sobre essa extraordinária personagem, Amir, muito poderia dizer-se. É a verdadeira figura do mal, irredutível nas suas pulsões instintivas e animalescas, incapaz de amor,  dilacerado na sua identidade.»
 
O texto completo pode ser lido em http://mjcantinho.com/2015/07/14/no-esplendor-das-coisas-ameacadas/

As Aventuras de Alice no País das Maravilhas publicado pela primeira vez há 150 anos





Charles Lutwidge Dodgson acreditava que as melhores narrativas têm crianças como personagens principais.
Alice no País das Maravilhas inspira-se numa criança real, Alice Liddell, e começou a ser escrito num dia de Verão em Oxford, em 1863, tendo a primeira edição em 1865.
As palavras de Lewis Carroll e as ilustrações de John Tenniel fizeram da história de Alice um clássico da literatura infanto-juvenil, traduzido em pelo menos 176 línguas.
De Lewis Carroll, a Relógio D’Água publicou As Aventuras de Alice no País das Maravilhas e Alice do Outro Lado do Espelho, Sylvie e Bruno, e o volume Obras Escolhidas, que reúne As Aventuras de Alice no País das Maravilhas e Alice do Outro Lado do Espelho, Sylvie e Bruno, A Caça ao Snark e Correspondência.

14.7.15

A chegar às livrarias: O Separar das Águas e Outras Novelas, de Hélia Correia





Este livro reúne três novelas de Hélia Correia.
Saído em 1981, O Separar das Águas foi o primeiro livro publicado pela autora. Villa Celeste foi editado em 1985. Com Soma, de 1987, Hélia Correia aproximou-se de um meio social diferente, mais jovem e de linguagem urbana.
Hélia Correia nasceu em Lisboa em 1949 e passou a infância e a juventude em Mafra, terra da família materna, onde frequentou o ensino primário e liceal. Terminou os estudos liceais já em Lisboa, onde frequentou a Faculdade de Letras e se licenciou em Filologia Românica. Foi professora do ensino secundário. Já em 2002 tirou o mestrado em Teatro da Antiguidade Clássica.
A escrita de Hélia Correia tem-se diversificado pelo romance, o conto, a poesia e a literatura infanto-juvenil.

O Prémio Camões foi-lhe atribuído em 2015, reconhecendo a imaginação, o poder de criação de personagens e o invulgar modo de trabalhar a língua portuguesa que Hélia Correia tem revelado.

A chegar às livrarias: Psicopolítica, de Byung-Chul Han




Este livro começa com uma análise da liberdade como projeto e desenvolve-se como olhar crítico sobre as novas técnicas de poder do capitalismo, que influenciam a vida psíquica, convertendo-a na sua principal força de produção.
Para Byung-Chul Han, a psicopolítica configura uma técnica de dominação que, em vez dos antigos métodos opressores, recorre a um poder sedutor e inteligente, que consegue que as mulheres e os homens se submetam por si próprios às forças de dominação.
Num tal sistema, o sujeito que se submete não tem consciência da sua submissão. A eficácia do psicopoder baseia-se no facto de o indivíduo se pensar livre, quando na realidade o sistema explora a sua liberdade.
A psicopolítica serve-se do Big Data, que, como se fosse um Big Brother digital, se apropria e utiliza os dados que os indivíduos lhe entregam de modo voluntário e até efusivo. Os elementos assim recolhidos permitem prever comportamentos e condicioná-los em níveis subconscientes.
É desse modo que a liberdade de expressão e a hipercomunicação, que se difundem nas diferentes redes sociais, se convertem em controlo e vigilância, conduzindo a uma autêntica crise da liberdade.
Mas, segundo o filósofo, há uma «arte da vida» capaz de contrariar uma tal tendência.


De Byung-Chul Han, a Relógio D’Água tem também publicados A Sociedade do Cansaço, A Sociedade da Transparência e A Agonia de Eros.

9.7.15

A chegar às livrarias: É Complicado – As Vidas Sociais dos Adolescentes em Rede, de danah boyd




O que há de novo sobre a forma como os jovens comunicam através de plataformas como o Facebook, Twitter ou Instagram? De que modo as redes sociais afetam a sua qualidade de vida?
Neste livro a especialista em cultura jovem e tecnologias danah boyd desmistifica os principais mitos relativos ao uso das redes sociais pelos jovens. A autora explora os temas da identidade, privacidade, segurança, perigo e bullying, argumentando que a sociedade coloca o paternalismo e o protecionismo como obstáculo no caminho dos jovens para se manterem informados e capazes de pensar, o que os tornaria cidadãos ativos através das suas interações online.
Apesar deste ambiente de receio e contenção, boyd revela que os jovens encontram maneira de se manterem conectados e de formarem uma identidade própria.


«Ao explicar o mundo em rede dos jovens, boyd demonstra possuir os conhecimentos de uma socióloga, a atenção de uma repórter e a experiência de uma tecnóloga. Para os pais que estejam a pensar no que estão a fazer os seus filhos online, este é um livro indispensável.»
[Walter Isaacson, CEO do Aspen Institute, autor do livro Steve Jobs]

«Elaboradamente investigado através de entrevistas e estudos de cerca de uma década, o livro de boyd é a análise mais importante da cultura em rede que jamais li.»
[Cory Doctorow, Boing Boing]

«Para quem quer entender os mundos digitais habitados pelos jovens de hoje. Este é o livro a ler.»

[Joward Gardner, coautor de The App Generation]

8.7.15

Hélia Correia celebra a língua portuguesa ao receber Prémio Camões no Palácio Foz






«Não venho aqui como parceira mas como íntima, como alguém mais ligado pelo amor do que por ambições identitárias. Com Luís de Camões passeio em Sintra, enquanto ele espera o jovem rei que anda pelos bosques, enfeitiçado, já um pouco ensandecido. E a ligação aos meus contemporâneos, Sophia e Saramago, Eduardo Lourenço, Maria Velho da Costa, Mia Couto, feita de encantamento e aprendizagem, toca-me infantilmente o coração quando me traz afinidades, uma flor de frangipani que esvoaça num jardim de Maputo, as palavras que não partiram com quem já partiu, uma tão querida voz ao telefone, uma carta enfeitada de papoulas. Estou com eles, não entre eles. E assim estou bem. (…)
O nosso mundo de sobreviventes está seguro por laços muitos finos. Eu vejo os fios que unem os textos nas diversas versões do português, leves fios resistentes e aplicados a construirem uma teia que não rasgue. Quando o angolano Ondjaki dedica um poema ao brasileiro Manoel de Barros, quando Mia Couto reconhece a influência que teve Guimarães Rosa na sua escrita transfiguradora e transfigurada pelas africanas narrativas do seu povo; quando a portuguesa Maria Gabriela Llansol considera Lispector «uma irmã inteiramente dispersa no nevoeiro», vemos a língua portuguesa a ocupar – não como o invasor ocupa a terra, mas como o sangue ocupa o coração – um espaço livre, um sítio para viver, uma comunidade de diferenças elástica, simbiótica e altiva. Esta é a ditosa língua, minha amada.
Eu dedico este prémio a uma entidade que é para mim pessoalíssima, à Grécia, cuja voz ainda paira sobre as nossas mais preciosas palavras, entre as quais, quase intacta, a poesia. Dedico à Grécia, sem a qual não teríamos aprendido a beleza, sem a qual não teríamos nada ou, no dizer da Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, “não seríamos nada”.
ζουν Ελλάδα, zoun Elláda, viva a Grécia.» [7 de Julho de 2015]

Carlos Fiolhais recomenda Debate entre Krugman, Piketty e Stiglitz



 


O Debate sobre a Desigualdade e o Futuro da Economia, de Paul Krugman, Thomas Piketty e Joseph Stiglitz, que a Relógio D’Água acabou de publicar, é um dos 10 livros recomendados por Carlos Fiolhais para as férias, até porque, segundo diz, «não está provado que o cérebro humano perca qualidades sob a acção do calor».
«Lê-se num pisco esta conversa muito fluida entre dois Nobel da Economia e o autor de O Capital do Século XXI.» [Público, 8-7-2015]

6.7.15

Sobre O Anjo Ancorado, de José Cardoso Pires




Pedro Mexia escreveu sobre O Anjo Ancorado, de José Cardoso Pires (prefácio de Mário de Carvalho), que a Relógio editou recentemente, a par de A Balada da Praia dos Cães (pref. António Lobo Antunes), O Delfim (pref. Gonçalo M. Tavares) e De Profundis, Valsa Lenta (pref. João Lobo Antunes).

 


«Além do mais, Guida e João estão fora do seu território, aquela comunidade vê-os como intrusos, inimigos de classe até, há uma desconfiança e um “medo que se fez hábito”. De modo que Peniche deixa de ser uma coordenada geográfica para se tornar uma sugestão carcerária. Cardoso Pires aglutina e depois quebra os acontecimentos, escassos, em fragmentos visuais e episódios simbólicos mas subtis, como uma aventura de caça submarina ou a venda de um passarinho. Cada curto capítulo sugere um clima, uma incapacidade. E a prosa, muito fluente porque muito burilada, é de um despojamento e de um rigor inatacáveis.» [Pedro Mexia, Expresso, E, 4-7-2015]

Entrevista a Richard Flanagan, autor de A Senda Estreita para o Norte Profundo




A jornalista Isabel Lucas entrevistou Richard Flanagan, autor de A Senda Estreita para o Norte Profundo, vencedor do Man Booker Prize 2014.


 

«“Cresci a pensar que era a mais bela das histórias”, conta Richard Flanagan numa conversa ao telefone a partir da Tasmânia, a ilha onde nasceu e onde vive, meses após ter vencido o Man Booker Prize com o romance A Senda Estreita para o Norte Profundo. O prémio, diz, tornou possível a continuação da sua vida literária.

Naquela tarde, Flanagan entrou a seguir num bar e escreveu durante horas tudo o que aquela história lhe sugeria, “a importância das escolhas e a sua capacidade destrutiva ou salvadora, o efeito surpresa e o quanto, nesse momento, a vida exige de nós”, continua, também agora num fim de tarde, a partir da sua casa na ilha da Tasmânia, onde nasceu em 1961. Estava encontrada a base do romance que ele não sabia bem o que iria ser, mas que falava de um australiano feito prisioneiro de guerra pelos japoneses na II Guerra Mundial, um dos 60 mil que iriam construir os 450 quilómetros de caminho-de-ferro entre o Norte de Banguecoque e a Birmânia, em 1943. A "linha da morte", como ficou conhecida, era um projecto central para os japoneses, construído com recurso a mão de obra escrava. O pai de Richard Flanagan fora um desses homens e sobreviveu.

O escritor escolheu falar do trauma colectivo partindo do trauma pessoal e decidiu fazê-lo sem julgamento. “Uma das melhores coisas na cultura japonesa é a literatura e, nela, Matsuo Basho [poeta do período Edo, 1644 e 1694]. Queria usar o que há de melhor na cultura japonesa para falar do que houve de mais baixo e que esteve naquela guerra imperial em que foram cometidos crimes hediondos. Quanto melhor eu usasse essa relação mais seriam as hipóteses de ter um bom livro, que não julgasse. Queria olhar para aqueles homens. Pensei que se pudesse ter um história de amor no centro de um livro sobre um prisioneiro de guerra que achou ter perdido o amor da sua vida teria o necessário para que o romance funcionasse”, conta Flanagan, explicando também o título, réplica de uma frase de Basho, o poeta que dois responsáveis pelo exército imperial japonês citam nos intervalos do horror que promovem. Basho, dizem eles no romance, é um dos exemplos do “dom supremo do Japão”, o dom de “retratar tão concisa e maravilhosamente a vida”. Na interpretação daqueles militares, no ano de 1943 esse dom materializa-se no “objectivo supremo”: a construção do caminho-de-ferro.» [Público, ípsilon, 3-7-2015]

2.7.15

Exposição de fotografias de António Barreto sobre o Douro em Peso da Régua




 

Será inaugurada no próximo dia 10 de Julho pelas 17h no Museu do Douro em Peso da Régua a exposição de fotografias de António Barreto intitulada «Douro, lugar de um encontro feliz».
A exposição é comissariada por Ângela Camila Castelo-Branco e prolonga-se até 28 de Setembro de 2015, entrando depois em itinerância pela Região Demarcada do Douro.
O projecto teve como parceiros a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e a Liga dos Amigos do Douro Património Mundial.
A exposição consta de 55 fotografias a cores e a preto-e-branco mostrando a diversidade de pontos de vista e de impressões proporcionada pela Região, com particular foco nas vinhas, no vinho, no rio e nos socalcos e encostas dos vales do Douro e seus afluentes. Nesta região, ocorreu, há séculos, um encontro feliz entre trabalhadores, lavradores e comerciantes, entre portugueses e estrangeiros (ingleses, escoceses, holandeses…), de que resultou um grande vinho e uma paisagem única. Esta última, de excepcional beleza, é o resultado de um enorme esforço humano de trabalho, cuidado e disciplina. Assim como é testemunho de capítulos importantes da história de Portugal e do seu comércio.

Hélia Correia no JL e no Expresso




 

Maria Leonor Nunes entrevistou Hélia Correia para o último número do JL a propósito do Prémio Camões.


«Que significado tem para si este Prémio Camões?

Hélia Correia: É uma dádiva bonita, que recebo com gratidão. Mas sinto-me envergonhada, como uma menina que fosse chamada à tribuna e tivesse de atravessar uma sala com toda a gente a olhar para ela… (risos) E sinceramente muito deslocada.


Porquê?

Porque não sinto que tenha uma obra consistente. A minha vida é feita livro a livro, sem visão de conjunto, enquanto há outros grandes escritores vivos de língua portuguesa com aquilo a que se pode chamar “uma obra”. Isso deixou-me muito aflita. Mas pessoas importantes na minha vida não acharam graça nenhuma ao modo como reagi à notícia do prémio, quando disse isso mesmo, e têm ralhado comigo. Até acham que fui indelicada para os membros do júri, a última coisa que queria, porque conheço e admiro muito alguns deles, como o Mia Couto e o Pedro Mexia. Sou uma pessoa sem inteligência social. Instintivamente não sei lidar com a sociedade, nunca aprendi, nem quis…


Em compensação, tem uma grande inteligência emocional?

A minha vida é 100% determinada pelo afeto, a todos os níveis, o que em algumas circunstâncias pode ser desastroso. Deviam dar-me algum tempo para que essas pessoas amigas me ensinassem como reagir a um grande prémio como este.» [JL, 24-6-2015]

O jornal divulgou ainda quatro sonetos gregos inéditos de Hélia Correia. Além disso, o jornal publicou um ensaio de Rita Taborda Duarte:

«O universo literário de Hélia Correia é densamente reflexivo e humanista e nele reconhece-se uma sabedoria antiga. (…) Aliás, não tivesse um dia Hélia Correia afirmado [em entrevista a Ana Marques Gastão] que a “escrita é feita para derrubar o anjo e levantar o humano, é um elevador para a arrogância. A arrogância é o que dá luz aos mortais. Os próprios deuses aprenderam a escrever pela mão dos profetas, admitindo que lhes faltava aquela competência» [JL, 24-6-2015]


Na revista E do Expresso de 27 de Junho, Hélia Correia foi escolhida para a rubrica «Oito da Manhã»:

«“Acordar às oito horas? Mas eu não pertenço a esse planeta! Não me levanto antes do meio-dia. A noite é vivida até muito tarde…” O tempo é algo de relativo. Reage: “Nem relativo. É completamente exterior em mim.” Quando é que começou essa prática de dispensar as “matinas”? “Na escola primária só ia às aulas após o intervalo da manhã, nunca mais cedo. A professora era extraordinária e como eu já sabia escrever e ler bem, facilitou, condescendente.” De Hélia, apesar de aqui fotografada em Lisboa, é fácil lembrarmo-nos quase como de uma fada no meio do bosque, esse sim, o “seu planeta”. Ali fluem a natureza e seus sortilégios. “Há outro tempo, não o dos relógios, mas o que é concebido para que determinados fenómenos aconteçam naquele momento.”»

1.7.15

Impunidade entre os finalistas do Grande Prémio de Romance e Novela da APE



 

Impunidade, de H. G. Cancela, foi um dos 5 escolhidos pelo júri, entre 86 obras consideradas, como finalistas do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores.

H. G. Cancela nasceu em 1967, é doutorado em Filosofia Contemporânea e professor auxiliar da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, responsável pelas cadeiras de Estética e de Crítica de Arte. É autor de de re rustica, Novembro e Anunciação, e também de obras ensaísticas.

Os outros 4 finalistas são Luísa Costa Gomes, Lídia Jorge, Mário Cláudio e Sandro William Junqueira.

O júri é constituído por José Correia Tavares, Ana Paula Arnaut, Isabel Cristina Mateus, Maria João Cantinho, Miguel Miranda e Miguel Real.

A chegar às livrarias: Apocalípticos e Integrados, de Umberto Eco





Quando foi publicada a primeira edição deste livro, em 1964, Apocalípticos e Integrados era apenas um título algo insólito.
Desde então tornou-se uma expressão de uso corrente, uma oposição muitas vezes usada para caracterizar a relação que se tem com os media.
No início dos anos 60, era quase escandaloso aplicar os instrumentos de uma investigação rigorosa às canções, às narrativas populares e à televisão. Hoje já ninguém duvida de que a enorme difusão dos meios de comunicação de massas transformou a nossa sociedade e que os termos «apocalíptico» e «integrado», que usamos em relação a eles, fazem parte do pensamento e da linguagem quotidianos.

Muitas das ideias expressas por Umberto Eco nesta obra, mesmo que impregnadas pelo ambiente da época, fazem agora parte das aquisições do pensamento contemporâneo.