31.3.16

Sobre História da Menina Perdida, de Elena Ferrante




«A História da Menina Perdida [é] o quarto e último título da série napolitana. Depois da infância, adolescência e primeiros anos da idade adulta, estamos na maturidade de Elena Greco — Lenù — a narradora, e de Raffaella Cerullo — Lila ou Lina —, a amiga por quem sente tanta admiração e afecto, ciúme e rivalidade, uma amizade “magnífica e tenebrosa” e que um dia desapareceu, querendo apagar qualquer traço da sua própria existência. O cenário de tudo isso é Nápoles, um barro pobre de Nápoles que funcionava como uma mordaça, uma amarra. Mesmo que Lenù tenha saído, fugindo de um destino tido como natural, mas que via como condenação, instigada a ter sucesso pela amiga Lila que tanto a elogia como a humilha. Lila era a rapariga de quem se esperava tudo. Astuta, inteligente, aventureira, sem objectivo. Lenù, a estudiosa, metódica, insegura, decidida a ser escritora. Lila nunca quis ir. Lenù nunca quis outra coisa. Saiu, voltou com sucesso, mas foi-se definindo tanto em oposição a Nápoles como a Lila, num processo de permanente atracção e repulsa, dividida entre a escrita e a maternidade, entre a ambição individual e o que se espera de uma mulher. Ou entre querer ser alguém e nunca conseguir separar-se do laço umbilical face ao bairro, a Lila. Escreve sobre um e sobre outra e vai-se definindo. E esta saga será essa escrita, fantasia e realidade num jogo que ultrapassa a própria literatura, mas que na literatura surge assim: “Eu própria não consigo acreditar. Terminei esta história que me parecia que nunca mais terminava. Terminei-a e reli-a pacientemente, não tanto para melhorar a qualidade da escrita, como para verificar se pelo menos numa ou noutra linha era possível encontrar a prova de que Lila entrara no meu texto e resolvera dar o seu contributo para a sua redenção.”» [Isabel Lucas, Público, ípsilon, 25-3-2016]

30.3.16

Lançamento de A Economia como Desporto de Combate






O mais recente livro de Ricardo Paes Mamede, A Economia como Desporto de Combate, vai ser lançado no próximo dia 7 de Abril, às 18h00, na Sociedade de Geografia de Lisboa, na Rua das Portas de Santo Antão, n.º 100, em Lisboa.
A obra será apresentada por Sandra Monteiro e Pedro Nuno Santos.
Ricardo Paes Mamede doutorou-se em Economia pela Universidade Luigi Bocconi (Milão) e licenciou-se em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, onde obteve também o grau de mestre em Economia e Gestão de Ciência e Tecnologia.
Actualmente é professor de Economia Política do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, onde lecciona desde 1999 nas áreas da Economia e Integração Europeia, da Economia Sectorial e da Inovação, e das Políticas Públicas. É também investigador do Dinâmia'CET, Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território.
É co-autor de A Crise, a Troika e as Alternativas Urgentes (Tinta-da-China, 2013), co-organizador do livro Structural Change, Competitiveness and Industrial Policy: Painful Lessons from the European Periphery (Routledge, 2014) e autor de O Que Fazer Com Este País (Marcador, 2015). Escreve no blogue Ladrões de Bicicletas.

Sobre A Carta de Lord Chandos, de Hugo von Hofmannsthal





«Publicada em 1902, esta carta fictícia em que Lorde Chandos se dirige a Francis Bacon, explicando-lhe a razão de já não conseguir escrever, é uma das mais poderosas reflexões sobre os limites da linguagem. Num subtil jogo de espelhos, Hofmannsthal projeta do aristocrata do século XVII as suas próprias angústias e dúvidas sobre o poder da literatura. Na sua extraordinária concisão, este texto é uma obra-prima absoluta.» [Expresso, E, 26-3-2016]

29.3.16

A Economia como Desporto de Combate, de Ricardo Paes Mamede






A Economia como Desporto de Combate reúne uma seleção de textos publicados pelo autor no blogue Ladrões de Bicicletas, entre abril de 2007 e dezembro de 2015. O início deste período coincide com a emergência da “crise do subprime” nos EUA. Aquilo que parecia inicialmente ser um problema circunscrito a um segmento do mercado americano de crédito à habitação cedo se transfigurou numa recessão mundial de grandes proporções. Seguiu-se a crise de financiamento dos Estados nas periferias da UE, com impactos sociais profundos e duradouros em Portugal. A recente desaceleração ou mesmo inversão do crescimento das chamadas economias emergentes revela que o ciclo de crises ainda não terminou.
À medida que os eventos se sucediam, teve lugar um debate alargado e fundamental sobre as suas causas e consequências – e sobre como lhes reagir. Os textos reunidos no livro dão conta desse debate partindo de uma perspetiva crítica das ideias económicas dominantes, tendo bem presentes as suas implicações para o futuro de Portugal, da União Europeia e da economia global.

A chegar às livrarias: Sobre os Espelhos e Outros Ensaios, de Umberto Eco




Sobre os Espelhos e Outros Ensaios é uma antologia de textos ocasionais, escritos entre 1972 e 1985. Começaram por ser conferências, prefácios e debates, tendo em comum a questão da representação, da ilusão e da imagem.
Umberto Eco considera a representação nas suas variadas formas — o espelho, o teatro, a escrita, o sonho — e é a partir daí que aborda o problema da representação na arte, desde a ficção científica ao mundo imaginário da prosa narrativa e da poesia. As suas análises desembocam em questões mais gerais, como o método nas ciências humanas, na filosofia do jogo e nas teorias da comunicação.
«(…) Não tento», escreve Eco na Nota Introdutória, «apresentar estes textos como capítulos, rigorosamente coordenados, de um discurso coerente. Penso é que podem ser encarados como uma galáxia de observações não totalmente desconexas, entre as quais o leitor poderá estabelecer as ligações que lhe parecerem oportunas.»

28.3.16

A chegar às livrarias: Cinco Escritos Morais, de Umberto Eco (trad. José Colaço Barreiros)






Este livro reúne cinco ensaios em que Umberto Eco reflete sobre questões candentes do nosso tempo.
Como afirma o próprio autor, são ensaios «de caráter ético, ou seja, dizem respeito ao que seria conveniente fazer-se, ao que não se deveria fazer e ao que não se pode fazer sob pretexto algum».
«Pensar a Guerra» analisa as diferenças entre as guerras atuais e as do passado.
«O Fascismo Eterno» chama a atenção para as aparências por vezes inócuas que as ideologias de tipo fascista assumem nos nossos dias.
«Sobre a Imprensa» é uma abordagem dos atuais problemas da informação escrita, muitas vezes a reboque de outros meios mais sofisticados, como a televisão.
Em «Quando Entra em Cena o Outro», discute-se o livre-arbítrio, vendo de que modo a crença na vida eterna condiciona os comportamentos humanos.
O últimos dos ensaios, «Migrações, Tolerância e Intolerável», aborda os problemas do crescimento, do racismo, da xenofobia e da intolerância. E também neste caso Eco abala os lugares-comuns, ao considerar que a intolerância mais terrível é a dos mais pobres, que são as primeiras vítimas da diferença, de que pouco ou nada sofrem os ricos. E a verdade é que os intelectuais têm dificuldade em combater a intolerância selvagem, pois, diante da pura animalidade sem pensamento, encontram-se desarmados.

22.3.16

Sobre A Crisálida, de Rui Nunes





«A escrita de Rui Nunes tem-se aproximado de limites que vão desde a sumária abolição dos géneros literários à mais extrema violência verbal, sem que nada exista de gratuito nesta contida irreverência. Decidir se A Crisálida é um poema descontínuo, um relato descontente ou uma acusação política torna-se, portanto, uma questão ociosa. É tudo isso e muito mais. Ou muito menos: “Nem merda somos. A merda é ainda um sinal de vida.” (…)
Rui Nunes é, entre nós, um dos poucos sismógrafos de um “vazio [que] não para de crescer”. E faz-nos perceber que a poesia não é um modo de redenção, ainda que a concebamos nos moldes de Celan: “Nem um vaso, nem uma cadeira, nem uma rosa de ninguém.” A haver um plano de salvação ou danação, ele passa por “perseguir as palavras até não poderem respirar”.» [Manuel de Freitas, Expresso, E, 19-3-2016]

21.3.16

Almodóvar inspira-se em contos de Alice Munro



[fotografia de Manolo Pavón]
 

Julieta, o próximo filme do realizador espanhol Pedro Almodóvar, inspira-se em três contos de Alice Munro, Acaso, Em Breve e Silêncio [in Fugas]. Com este filme, o vigésimo que realiza, Almodóvar volta ao universo feminino para nos falar de mulheres a braços com a dor, a alegria e a tristeza, mas sem «a épica do melodrama».
O cineasta adquiriu os direitos dos contos em 2009, logo após tê-los lido. «Começo por agradecer a Alice Munro o enorme prazer que me dá como leitor.»
«Apesar de haver uma protagonista comum, os textos não configuravam uma sequência. Não era fácil conferir-lhes unidade, mas fascinaram-me de tal modo que comecei a escrever. A minha primeira ideia foi fazer um filme em inglês e com actrizes de língua inglesa; queria realizá-lo no Canadá, nos lugares de que Munro falava.»
Mas depois de visitar os locais das filmagens, Almodóvar considerou as «paisagens reais absolutamente desoladoras e tristes».
Foi há dois anos que Almodóvar decidiu situar a história não nos Estados Unidos, mas em Espanha.

No Dia Mundial da Poesia




«11

Vinte e oito rapazes tomam banho na praia,
Vinte e oito rapazes e todos muito amigos;
Vinte e oito anos de vida feminina e todos tão sós.

Ela tem uma linda casa junto à colina da margem,
Esconde-se, bela e ricamente vestida, por detrás dos estores.

Qual desses rapazes é que ela prefere?
Ah, o mais rústico de todos parece-lhe belo.

Para onde vais, senhora? pois estou a ver-te,
Chapinhas ali na água, mas estás imóvel no teu quarto.

A dançar e a rir ao longo da praia apareceu a vigésima nona banhista,
Os outros não a viram, mas ela viu-os e amou-os.

As barbas dos jovens reluziam e a água escorria-lhes pelos longos cabelos,
Pequenos jorros escorriam dos seus corpos.

Uma mão invisível deslizou pelos seus corpos,
Desceu trémula pelas fontes e pelos membros.

Os rapazes flutuam de costas com os seus ventres brancos protuberantes ao sol, não
perguntam quem se agarra a eles com tanta firmeza,
Não sabem quem respira e se inclina curvando-se como um arco,
Não pensam quem salpicam com a espuma.
(…)»

 
[Walt Whitman, Folhas de Erva, Tradução de Maria de Lourdes Guimarães]

 

18.3.16

Hélia Correia na Feira do Livro de Leipzig





Hélia Correia será uma das participantes de Portugal na Feira do Livro de Leipzig.
Hoje, 18 de Março, às 14h, no Forum International und Übersetzerzentrum, participará com Christiane Lange e Michael Kegler na leitura da obra Vinte Degraus e Outros Contos, que venceu o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco.
Amanhã, 19 de Março, às 11h30, a autora participa com Ingo Drzecnik numa leitura de Luís de Camões, no pavilhão da Embaixada de Portugal.
Hélia Correia recebeu, em 2015, o Prémio Camões, o mais prestigiado prémio atribuído no espaço da língua portuguesa.

17.3.16

Relógio D’Água publica obra inédita de Umberto Eco




 

A Relógio D’Água vai publicar a obra que Umberto Eco deixou inédita, Pape Satàn Aleppe, que tem o subtítulo Crónicas de uma sociedade líquida.
A tradução será de Jorge Vaz de Carvalho, que traduziu já diversas obras de Umberto Eco, nomeadamente a sua última novela, Número Zero.



Depois de ter já publicado Sobre Literatura e Apocalípticos e Integrados, a Relógio D’Água acaba de editar Cinco Escritos Morais.
Até final do ano sairão ainda Sobre os Espelhos e Outros Ensaios, O Super-Homem das Massas e Obra Aberta.

16.3.16

Sobre a colecção Artes de Mesa





«No espaço de dois meses, a Relógio D’Água publicou dois livros que remetem para uma história da gastronomia, área onde se edita praticamente nada em Portugal, excepção feita à bibliografia extraordinária da solitária Colares Editora. A colecção chama-se Artes de Mesa e tem como coordenadora Inês de Ornellas e Castro, estudiosa há muito destas coisas e ela própria autora de O Livro de Cozinha de Apício.
 
 
 
O outro título, Do Comer e do Falar… Tudo Vai do Começar, é um dicionário gastronómico escrito a quatro mãos. Duas mãos pertencem a Ana Marques Pereira, a pessoa que mais sabe sobre o que se comia antigamente (e como se comia; talheres, louça usada, hábitos, etc.) nas cortes dos reis portuguses, com obra publicada sobre o assunto. As outras duas são de Maria da Graça Pericão, filóloga e co-autora da edição actualizada da Arte de Cozinha, de Domingos Rodrigues, do século XVII, o primeiro manual português do género conhecido.
Ambos os livros ajudam a recuperar a origem da nossa culinária – palavras, receitas, técnicas – e a que tenhamos consciência de que muito do que é aparentemente novo na indústria da cozinha é só evolução ou reciclagem ou impostura.» [Ricardo Dias Felner, Time Out, 9-3-16]

15.3.16

Sobre Os Irmãos Wright, de David McCullough





«Antes de os irmãos Wright inventarem o avião, passavam horas a olhar o voo das aves. Era como observar um mágico e tentar perceber como fazia, explicou um deles. Uma ótima comparação, pois o que fazem as aeronaves continua a ter algo de mágico. (…)
David McCullough, repetente do Prémio Pulitzer, autor de nove livros anteriores de História popular, conta neste décimo a saga de dois irmãos que, além de brilhantes, eram extremamente persistentes e corajosos. Wilbur e Orville identificaram as questões principais por resolver – em especial, como controlar o aparelho em voo – e , sem serem engenheiros, conceberam as soluções necessárias. Passavam longos períodos, não raro em condições difíceis, em Kitty Hawk (Carolina do Norte), um local remoto com ventos adequados. Dedicaram-se inteiramente, arriscando a vida centenas de vezes. Por fim, foram recompensados, não sem antes jornais e governos terem ignorado o seu feito durante anos.» [Luís M. Faria, Expresso, E, 12-3-16]

Sobre Aquário, de David Vann (trad. José Lima)




«A sexualidade de Caitlin virá a ser essencial no epílogo. É um dos momentos mais bem conseguidos do romance. A transformação é violenta. A acção revela o que estava escondido. Como os peixes, o ser humano é ligeiramente diferente do seu semelhante, mas não foge de um padrão. O fim do calvário de uns é o começo da procura do perdão por outros.
Aquário mantém a excepcional qualidade de David Vann. A história é inquietante. As personagens mantêm-se no imaginário do leitor muito para lá da última página do livro.» [Mário Rufino, Sábado]

14.3.16

Sobre Gratidão, de Oliver Sacks




 

«Os textos de Gratidão, todos eles publicados no The New York Times (e partilhados na internet, onde se tornaram virais), são uma espécie de coda em que Sacks, mais do que consciente da morte próxima, se despede com uma dignidade e uma delicadeza extraordinárias. Grato por tudo o que pôde ver, sentir, experimentar, ele faz deste adeus um hino à vida, uma celebração do privilégio de conhecer o mundo, aproveitando a existência até ao tutano.» [José Mário Silva, Expresso, E, 12-3-2016]

11.3.16

Sobre A Casa em Paris, de Elizabeth Bowen




«Hoje na Sábado escrevo sobre A Casa em Paris, de Elizabeth Bowen (1899-1973), autora de uma obra extensa, que inclui ficção e ensaio, mas que não cativou os editores nacionais. A Casa em Paris, agora traduzido, resgata a obra de um silêncio apenas interrompido pelas reedições de A Morte do Coração. É provável que o conservadorismo político tenha pesado no desinteresse. O romance começa e termina no dia da chegada de Henrietta a Paris, durante a Primeira Grande Guerra. Henrietta tem onze anos, nunca antes havia saído de Inglaterra, e está em trânsito para casa da avó, no Sul da França. Apesar do cansaço da viagem, a noite inteira metida num comboio, tem a noção de como a sua vida vai mudar. A história está dividida em três partes, correspondendo a do meio a um flashback de dez anos que serve de guia para factos que dizem respeito às origens de Leopold, o amiguinho mais novo que espera conhecer a mãe que nunca viu. Por mero acaso, Henrietta e Leopold partilham o dia em casa da senhora Fisher. A fórmula fora já utilizada em Friends and Relations, um romance anterior de Bowen. É muito interessante verificar como esse capítulo de intervalo, espécie de monólogo interior, em grande medida construído pela imaginação, serve de cimento à estrutura romanesca. Não por acaso, a última frase da primeira parte — «A tua mãe não vem; não pode vir» — é a mesma que abre a terceira. Sem necessidade de recurso a tiradas enfáticas, Bowen é letal na dissecação da sociedade britânica da primeira metade do século XX. Esta mulher discreta, que privou com os bloomsberries e teve amantes de ambos os sexos, escreveu um romance admirável sobre identidade, solidão e maturidade precoce.» [Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito de crítica na revista Sábado, 10-3-2016]

História da Menina Perdida de Elena Ferrante na lista do Man Booker International




 



O último volume da tetralogia A Amiga Genial, de Elena Ferrante, faz parte da longlist do prémio Man Booker International (The Story of the Lost Child, com tradução de Ann Goldstein). Entre os outros nomeados, estão Yan Lianke, Han Kang e José Eduardo Agualusa.
A shortlist será conhecida no dia 14 de Abril e o vencedor será anunciado a 16 de Maio.

10.3.16

Hélia Correia na Feira do Livro de Leipzig




Hélia Correia será uma das participantes de Portugal na Feira do Livro de Leipzig.
No dia 18 de Março, às 14h, no Forum International und Übersetzerzentrum, participará com Christiane Lange e Michael Kegler na leitura da obra Vinte Degraus e Outros Contos, que venceu o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco.
Hélia Correia recebeu, em 2015, o Prémio Camões, o mais prestigiado prémio atribuído no espaço da língua portuguesa.

8.3.16

A chegar às livrarias: Elogio da Sombra, de Junichirō Tanizaki [Livros de Bolso]



 

Elogio da Sombra é uma das principais obras de Tanizaki (1886-1965) e um dos mais fascinantes ensaios sobre as diferenças entre o Ocidente e o Oriente.
Para os Ocidentais, o mais importante aliado da beleza foi sempre a luz, a ausência de sombras. Para a estética tradicional japonesa, do rosto das mulheres às salas dos templos, o essencial está na sombra e nos seus efeitos.
Neste ensaio de 1933, Tanizaki fala-nos da cor das lacas, dos atores de , das paredes dos corredores, dos beirais das casas, da luz que há na sombra, para nos prevenir contra tudo o que brilha.
Revela-nos o que sentia ao olhar o papel dos shōji, a visão de um universo ambíguo onde luz e sombra se confundem numa impressão de eternidade.

A chegar às livrarias: Cinco Conferências sobre Psicanálise, de Sigmund Freud [Livros de Bolso]




A 27 de agosto de 1909, Freud desembarca nos Estados Unidos. É a primeira e última vez que pisa solo americano. Tem 53 anos e viaja a bordo do George Washington na companhia do seu estimado Ferenzci e de Jung, de quem se afastaria mais tarde. A Clark University, para onde se dirigiam e que celebrava o seu 20.º aniversário, situa-se na Nova Inglaterra, em Worcester.
As cinco conferências decorrem em setembro, em alemão e de improviso.
No auditório de médicos, psicólogos e professores, em geral céticos em relação à psicanálise, destacam-se o antropólogo Boas, Adolf Meyer, que se tornará um importante psiquiatra, o neurologista Putnam, o experimentalista Titchener e William James, que se encontrava doente, mas que queria «ver como era Freud».

Sobre Departamento de Especulações, de Jenny Offill




«Departamento de Especulações, de Jenny Offill, uma pérola.»

[Francisco José Viegas, Correio da Manhã, 21-9-2015]

7.3.16

Sobre Artes de Mesa



No último número do ípsilon, Alexandra Prado Coelho fala de duas obras, O Livro de Cozinha de Apício, de Inês de Ornellas e Castro, e Do Comer e do Falar… Tudo Vai do Começar, de Ana Marques Pereira e Maria da Graça Pericão, que iniciaram a colecção Artes de Mesa da Relógio D’Água. Alexandra Prado Coelho falou com duas das autoras.

 


«Estamos rodeadas de milhares de livros e objectos ligados à culinária e gastronomia renidos ao longo do tempo por Ana Marques Pereira. E a conversa começa por aí. É fácil fazer investigação nesta área? Num mercado editorial dominado pelos livros de receitas, há lugar para uma colecção como esta?
“É preciso perceber que a alimentação é uma dimensão importantíssima da nossa existência”, afirma Inês de Ornellas e Castro. “O acto de comer é um acto civilizacional, tem a ver com o enquadramento, a cultura, o espaço, a memória.” Veja-se o tratado de cozinha de Apício. “Está feito própria percebermos não só as receitas mas toda a sociedade que viveu daquela forma. Comemos o que nos falta mas também o que simbolicamente está associado ao nosso universo. Há sempre um lado simbólico e ideológico ligado à alimentação. Num prato está uma civilização. Foi isso que eu quis apresentar às pessoas.”
Para isso, é preciso olhar para o prato, mas também para o que se passa à volta. “Que como sentado ou reclinado tem uma forma de estar muito diferente”, frisa. A própria roupa pode ter um significado e a história do guardanapo é um bom exemplo. “Os guardanapos são muito importantes porque vêm proteger aquilo que antes era o fato de comer. Inicialmente eram usados para proteger o cochim do anfitrião e não a pessoa, mas depois o guardanapo vai mudar de lugar e passar a proteger os comensais. Os primeiros conhecidos eram uns pedacinhos de massa que se usavam assim [demonstra enrolando à volta dos dedos].



O estudo dos objectos é, portanto, essencial. Ana Marques Pereira sabe bem disso, até pelos trabalhos que publicou anteriormente. (…) Médica de formação, tornou-se investigadora nesta área por paixão. E garante: “A vantagem de Portugal é que está tudo por explorar. Ao contrário do que acontece noutros países, onde há nas livrarias uma zona só para a história da alimentação, aqui não têm noção da diferença entre a culinária e a gastronomia ou a história da alimentação. Chamam a tudo gastronomia.”» [ípsilon, 4-3-16]

4.3.16

Sobre Carol ou O Preço do Sal, de Patricia Highsmith



 
«Por vezes, um escritor torna-se conhecido em todo o mundo pela adaptação ao cinema de um livro seu, e com Highsmith foi logo com o primeiro, Strangers on a Train (1950), um dos thrillers mais populares do século XX, a partir do qual Hitchcock realizou o clássico que conhecemos por O Desconhecido do Norte Expresso. Sucede o mesmo com O Preço do Sal (1952), que agora lemos como Carol. No posfácio, Ana Luísa Amaral, tradutora da obra, lembra que o livro, tratando a relação amorosa entre duas mulheres, foi publicado sob o pseudónimo de Claire Morgan, assim se mantendo durante mais de três décadas. (…) Nunca tendo escondido a condição lésbica, Patricia Highsmith não era activista gay. Mesmo da forma elegante como desenvolve a intriga, compreende-se que nos anos 1950, no auge do McCarthismo, não fosse fácil tratar a história de amor entre Carol e Therese sem lhe associar conotação pejorativa e sanção moral. Highsmith, que se tornaria um ícone da literatura policial (não esquecer que foi a criadora de Mr. Ripley), inspirou-se na figura de uma antiga amante, Virginia K. Catherwood, uma mulher casada da alta sociedade de Filadélfia, para compor a personagem de Carol, também casada e mãe. Ao comprar uma boneca para a filha, Carol conhece Therese, então com 19 anos, a trabalhar em part-time num armazém de Manhattan. Foi esse o duplo detonador do romance, isto é, da relação entre ambas e da escrita do livro. (…) Seria pleonástico sublinhar a destreza com que Highsmith nos envolve na trama psicológica.»
 
[Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito de crítica sua publicada na revista Sábado de 3 de Março]

A chegar às livrarias: Gratidão, de Oliver Sacks (trad. de Miguel Serras Pereira)






Durante os últimos meses de vida, Oliver Sacks escreveu um conjunto de ensaios em que explora, de forma comovente, os seus sentimentos sobre o momento de completar uma vida e aceitar a morte.
«É o destino de cada ser humano», escreveu Sacks, «ser um indivíduo único, descobrir o seu próprio caminho, viver a sua própria vida, morrer a sua própria morte.»
Estes quatro ensaios são uma ode à singularidade de cada ser humano e à gratidão pela vida que nos é concedida.

«O meu sentimento predominante é de gratidão. Amei e fui amado; recebi muito, e dei alguma coisa. Acima de tudo fui um ser senciente, um animal pensante, neste belo planeta, e isso foi, por si só, um enorme privilégio e aventura» 

«Oliver Sacks foi um clínico e escritor ímpar. Era atraído pela casa dos pacientes, pelas instituições dos mais frágeis e debilitados, pela companhia dos mais estranhos e “incomuns”. O que o movia era ver a humanidade em todas as suas variantes, e fazê-lo pelos seus próprios meios, quase sempre de forma anacrónica — frente a frente, fora de horas, longe da aparelhagem de computadores e algoritmos. E, através dos seus livros, mostrou-nos o que viu.» [Atul Gawande, autor de Ser Mortal]

3.3.16

Katrina Dodson vence Prémio PEN de Tradução




 

Katrina Dodson, tradutora de Complete Stories, de Clarice Lispector, venceu o Prémio PEN de Tradução. O júri considerou tratar-se de «uma tradução extraordinária de uma autora excepcional».
A obra, com organização de Benjamin Moser, biógrafo de Clarice Lispector, reúne todos os contos da escritora e será em breve publicada em Portugal pela Relógio D’Água.

2.3.16

Reportagem de Karl Ove Knausgård sobre cirurgia de Henry Marsh





[fotografia de Paolo Pellegrin]
 

O último número da revista E do Expresso publicou uma extensa reportagem do escritor norueguês Karl Ove Knausgård, que viajou até à capital da Albânia para assistir às operações realizadas pelo neurocirurgião britânico Henry Marsh. O médico inglês foi o inventor de um novo tipo de operações para remover tumores cerebrais em doentes que se devem manter conscientes.
Karl Ove Knausgård assistiu às operações realizadas num pedreiro e numa estudante de Medicina albaneses. Fala-nos tanto da sensação de uma operação ao cérebro como das atitudes e reacções de Marsh e dos seus colegas médicos.

«Numa noite de domingo, pelo fim de agosto, cheguei a Tirana (Albânia), num voo proveniente de Istambul. O sol tinha-se posto quando o avião ia a meio caminho, e, ao aterrarmos no escuro, imagens da luz a desvanecer-se ainda me enchiam a mente. O homem junto a mim, um jovem americano ruivo com um chapéu de palha, perguntou-me se sabia ir do aeroporto para a cidade. Abanei a cabeça, pus o livro que estaba a ler na mochila, levantei-me, tirei a minha mala do compartimento em cima e fiquei no corredor à espera que a porta se abrisse.
O livro era a razão da minha vinda. Chamava-se Do no Harm [Não Faças Mal] e era escrito pelo neurocirurgião britânico Henry Marsh. O trabalho dele é cortar o cérebro, a estrutura mais complexa que conhecemos no Universo e que contém tudo o que nos faz humanos. O contraste entre o extremamente sofisticado e o extremamente primitivo – todo aquele trabalho com bisturis, brocas e serras – fascinava-me bastante. Tinha enviado a Marsh um e-mail a perguntar se podia encontrar-me com ele em Londres para o ver operar. Ele escreveu uma resposta cordial a dizer que agora era raro trabalhar lá, mas tinha a certeza de que se podia arranjar algo. De passagem, mencionava que estaria a operar na Albânia em agosto e no Nepal em setembro, e eu perguntei se poderia ir ter com ele à Albânia.» [Tradução de Luís M. Faria]


De Karl Ove Knausgård a Relógio D’Água publicará o quarto volume de A Minha Luta e o livro de ensaios No Outono.

Sobre O Náugrafo, de Thomas Bernhard




«É a história de três pianistas, um deles mundialmente famoso, os outros dois personagens de ficção. Glenn Gould, Wertheimer e o narrador do romance estudaram juntos em Salzburgo na década de 50. Todos eram óptimos pianistas, mas apenas um dos três era um génio. Depois de se separarem, mantendo uma amizade distante e à distância, os dois homens que não são Glenn Gould debatem-se com essa catástrofe: não serem Glenn Gould. Amargurados, abdicam da vida artística, escrevem, teorizam,exilam-se. Comportam-se talvez como indivíduos competitivos, invejosos, mas na verdade são gente seriíssima que acredita que a arte digna desse nome não admite os bons e os muito bons mas apenas os melhores de todos. Um “virtuoso” é um diletante, não um artista autêntico. Glenn Gould, “o mais lúcido de todos os loucos”, sabia isso. Era o melhor de todos, mas nem assim estava contente, porque desprezava o público, sentia que abastardava a música se vivesse para agradar ao público. Gould chamava a Wertheimer “o naúfrago” e ao narrador “o filósofo”, e é isso que os vemos fazer, um a naufragar, o outro a filosofar, num solilóquio ininterrupto que é também uma partitura musical de repetições e reiterações.» [Pedro Mexia, E, Expresso, 27-02-2016]

1.3.16

A chegar às livrarias: O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald (trad. de Ana Luísa Faria)







«O Grande Gatsby talvez seja, como alguns afirmaram, o único romance perfeito. Ao relê-lo, espantamo-nos sempre com a sua brevidade: não é muito mais longo do que um conto de Henry James. T. S. Eliot julgou-o o único grande passo no romance americano desde a morte de James. Não deu origem a uma tradição americana. O livro mal delineado, com calão e que alcança grande sucesso é corretamente considerado o típico contributo americano para a arte do romance. Os leitores americanos do Saturday Evening Post, que admiravam as histórias de Fitzgerald sobre a época do jazz, não o conheciam como autor de um grande livro. A notoriedade popular de Fitzgerald desde a sua morte baseou-se mais na vida do que na obra — o «crack-up», o alcoolismo, a loucura da sua mulher Zelda. A sua arte era demasiado sofisticada e a sua ironia demasiado subtil para uma audiência ampla.» [Anthony Burgess]
 

«Não sou minimamente influenciado pela observação que faz sobre mim, quando digo que me interessou e estimulou mais do que qualquer novo romance, inglês ou americano, dos últimos anos.» [T. S. Eliot]

Vinte Degraus e Outros Contos no Grupo de Leitura do Palácio Fronteira




Vinte Degraus e Outros Contos , o último livro de contos de Hélia Correia, que recebeu o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, é a obra em discussão no Grupo de Leitura do Palácio Fronteira. A sessão ocorre amanhã, dia 2 de Março, pelas 19h00.

Sobre A Crisálida, de Rui Nunes




«A obra de Rui Nunes tem criado uma barreira invisível a partir da qual as palavras são forçadas a deixar a bagagem (ou babugem) desnecessária, aquilo que as traz transidas do ritmo usual das coisas, essa espécie de alegria atarantada. Um discurso demasiado fluido é algo de intolerável para este autor. A sua escrita aprendeu a silabar o mundo, a importá-lo para o observar interiormente. Nela o movimento descritivo radicaliza-se, assumindo um valor crítico. O plano contínuo da realidade é estilhaçado, as palavras tomam o lugar das coisas, decifrando-as. A linguagem deixa de legendar, mas, ao lado do mundo, toma-lhe o peso e acaba por sobrepor-se-lhe. A Crisálida é um texto de profundo mal-estar, reagindo às imagens de um homem degolado no ecrã da televisão. Não há em momento algum o compadecimento com uma cultura e identidade que tem gostado de se vitimizar, nem tão-pouco com os bonecos que encenam o ultraje, com as denúncias e o horror comportado que cabe na moldura televisiva e serve o teatrinho mediático.» [Diogo Vaz Pinto, i, 27-02-2016]