31.12.12

Orgulho e Preconceito, de Jane Austen





«Prazer simples e autêntico.»

Em 2013 comemoram-se os 200 anos da primeira edição de Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. Paula Marantz Cohen dá-nos dez razões para a obra bicentenária se ligar tão bem à nossa cultura pós-moderna, aqui.

Críticos do Expresso e do Público fazem balanço do ano literário






Na última edição do Atual de 29 de Dezembro é feito um balanço dos livros editados em Portugal em 2012.
Como em anos anteriores, a Relógio D’Água é a editora com mais obras destacadas (9), entre as dez  seleccionadas por cada crítico do Expresso.


Ana Cristina Leonardo escolhe A Travessia, de Cormac McCarthy, e Contos Completos, de Lydia Davis. José Guardado Moreira selecciona Ada ou Ardor, de Vladimir Nabokov, e A Poesia do Pensamento, de George Steiner. Luís M. Faria escolhe A Travessia, de Cormac McCarthy. Luísa Mellid-Franco destaca Num Lugar Solitário, de Ana Teresa Pereira. E Pedro Mexia escolhe Contos, de Pirandello, Contos Completos, de Lydia Davis, e Novelas nada Exemplares, de Dalton Trevisan.


De notar que a avaliação dos críticos do Expresso é enviesada em relação a uma apreciação em termos absolutos, já que António Guerreiro apenas escolheu livros de poesia, José Mário Silva autores portugueses, o mesmo sucedendo com Luísa Mellid-Franco. Sara Figueiredo Costa seleccionou apenas obras de banda desenhada ou ilustradas.


No ípsilon de 28 de Dezembro, vários críticos do Público tinham feito igualmente as suas escolhas. Entre as 10 primeiras, estão dois livros da Relógio D’Água, a saber: Contos Completos, de Lydia Davis, apresentado por José Riço Direitinho, e Um Sopro de Vida, de Clarice Lispector, afirmando Conceição Caleiro que «Clarice Lispector escreve como ninguém».


Um sintoma da dispersão de gostos, da diferenciação de critérios, é que entre as obras seleccionadas pelo Expresso e pelo Público há apenas dois títulos em comum, que são Contos Completos, de Lydia Davis, e A Piada Infinita, de David Foster Wallace.

Contos Completos, de Lydia Davis





Contos Completos, de Lydia Davis, faz parte do «Best of 2012» de Eduardo Pitta no blogue Da Literatura (28-12-2012).

Sobre Os Cães e os Lobos, de Irène Némirovsky




Na Sábado de 27 de Dezembro, Eduardo Pitta escreve sobre Os Cães e os Lobos, de Irène Némirovsky. No blogue Da Literatura anuncia: «A biografia de Irène Némirovsky é o grande romance da história europeia da primeira metade do século XX. (…) Embora convertida ao catolicismo em 1939, o regime de Vichy recusou-lhe a nacionalidade francesa, impediu-a de publicar e ao marido de exercer a profissão de banqueiro. Presa e deportada em 1942, Irène Némirovsky morreu em Auschwitz ao fim de dois meses (o marido foi executado em Novembro). Os Cães e os Lobos centra-se nos empecilhos da hierarquia social, que a autora descreve com exemplar argúcia.»

26.12.12

Philip Roth regressa à vida


Francisco Vale



«Não quero ler mais ficção, escrever mais ficção, nem mesmo falar mais de ficção. Dediquei a minha vida ao romance: estudei-o, ensinei-o, escrevi-o e li-o. Em detrimento de praticamente tudo mais. Basta! (…) É-me impossível pensar em voltar à escrita.» Em Les Inrockuptibles.

Estas afirmações de Philip Roth foram confirmadas em entrevista ao The New York Times e causaram alvoroço.
Muñoz Molina afirmou que não acredita que um romancista deixe deliberadamente de escrever. E não faltaram os que em tom jocoso condescenderam em que o autor de A Conspiração contra a América tem todo o direito de passar os dias diante do televisor.
Nada indica que as declarações de Roth se destinem a chamar a atenção sobre uma obra que corre o risco de ser esquecida, como sucede com as falsas despedidas das divas, cuja voz esmorece.
Roth tem agora 79 anos. Os seus melhores livros, Pastoral AmericanaCasei com Um Comunista e, sobretudo, o Teatro de Sabbath, foram publicados nos anos noventa do século passado. A sua última grande obra, A Mancha Humana, é de 2000. Os livros mais recentes abundam em descrições de doenças e imagens de cerimónias fúnebres judaicas. Com excepção de O Animal Moribundo, revelam cansaço nos temas e incorrem em repetições. O próprio sexo deixou de ter a urgência subversiva que possuía em O Complexo de Portnoy. Os fantasmas tornaram-se previsíveis, o virtuosismo técnico substituindo a originalidade. «Envelhecer não é uma luta, mas um massacre», como ele próprio escreveu.
A verdade, porém, é que mesmo nos seus melhores tempos Philip Roth publicou obras menores como Our Gang, The Breast Deception. Mas depois foi capaz de escrever o Teatro de Sabbath (1995), que James Wood saudou como a obra-prima que realmente é. E Nemésis, acabado de sair, é superior a alguns dos seus outros livros.
As razões literárias para o abandono da ficção parecem assim faltar.
E, além disso, não será o impulso de escrever incontrolável? Um romancista não é como um jogador de futebol que a dada altura esbarra em dados objectivos, os passes falhados, a incapacidade de aguentar os noventa minutos, assobios em vez de aplausos. Não dependerá um escritor de uma vontade que o transcende, daquilo a que os antigos chamavam musas, Freud, inconsciente, e outros, a inspiração?
É certo haver casos de abandono voluntário da escrita, até precoces, como o de Rimbaud. Muitos criadores escaparam, porém, ao veredicto da idade. Manoel de Oliveira continua a filmar com mais de cem anos e Clint Eastwood promete imitá-lo. Picasso mantinha uma vitalidade de fauno aos 90 anos. Foi um Saramago já fragilizado pela doença que aos 87 anos publicou Caim. Dalton Trevisan continua a recriar o erotismo pícaro brasileiro aos 88 anos. Um Oscar Niemeyer, prestes a fazer 104 anos, discutia no quarto do hospital os seus projectos com engenheiros e arquitectos. Cardoso Pires ficcionou o seu processo de morte em De Profundis — Valsa Lenta. São autores que morrem com a armadura posta, que caem no seu posto de combate como G. T. Ballester disse de Fernando Assis Pacheco, ao saber que este falecera diante de uma livraria.
Mas é possível que Roth não tenha essa têmpera e seja preferível seguir neste caso a máxima de Oscar Wilde para quem só as «pessoas superficiais não julgam pelas aparências». Talvez em Roth tenha despertado o rancor pela ficção, algo semelhante ao odium professionis que acomete os monges após décadas de vida claustral, uma súbita aversão à disciplina que conformou as suas vidas (James Wood designou certa vez Roth por «monge fornicador»).
Que há de mais natural que um homem da sua idade esteja cansado de escrever e até de ler ficção? Que queira escapar à maldição de nunca ter vivido a vida como ela é para quase todos? Que já não queira ver as pessoas com a distância e o desdobramento do observador que em tudo espreita a matéria das suas ficções? Como escreveu Ortega, «a percepção da realidade vivida e a percepção artística são, em princípio, incompatíveis». Uma súbita aversão à escrita ficcional pode ocorrer mesmo num autor de cultura judaica com uma particular relação com o texto, não sendo necessário insistir nos sinais de niilismo que povoam a obra de Roth.
Qualquer passeante da Quinta Avenida poderá encontrar uma destas tardes um despreocupado Roth, a caminho do cinema, de um bar ou de parte alguma.
Já agora um conselho, pois todo o cuidado é pouco com o assalto das musas: que não escute as conversas de quem passa, não responda ao sorriso da arrumadora do cinema, não brinque com os esquilos do Central Park e evite até as doenças. E claro, em caso de insónia, não deixe que a memória tacteie no passado — vá para a sala e prepare uma bebida ao som de uma música qualquer.



24.12.12

Sobre Dalton Trevisan




Esta trintena de contos sugere um autor atentíssimo, que colecciona histórias, um observador aparentemente imparcial de muitas misérias humanas. É uma Curitiba de pedófilos, alcólicos, sádicos, cônjuges abusivos, velhos agonizantes e suicidas, funcionários desolados, loucos manipulados como se fossem cobaias, conquistadores que se enchem de nojo depois da conquista, Penélopes infiéis, lojistas desesperadas, hóspedes a ouvir os ruídos das pensões noite dentro, senhoras casadas que regressam a casa depois de repudiadas pelos amantes, adolescentes enganadas, pais tiranos, filhos pródigos, ciumentos patológicos, mulheres que põem vidro moído na comida dos companheiros. Embora as histórias sejam curtas,  e muitas só em diálogo, Trevisan dá-nos todas as informações de que precisamos, mas em detalhe e com ambiguidades, de modo que só quandos nos afastamos da cena a compreendemos completamente.
As "novelas" não são "exemplares", ao modo cervantino, há uma amoralidade que dispensa contextualizações, discursos políticos, conclusões éticas, a vida mostra-se tal como ela é, embora com um aflitivo enfoque nos aspectos sórdidos, secretos, viscosos. (Pedro Mexia, Atual, Expresso, 22-12-2012)


Sobre O Próximo Outono, de João Miguel Fernandes Jorge e Pedro Calapez





No suplemento Atual do Expresso de 22 de Dezembro, Manuel de Freitas escreve sobre O Próximo Outono: «Em suma, este livro sinuoso, em que J. M. F. J. parte de um diálogo com a arte de P. C., espelha admiravelmente toda a riqueza e complexidade de um dos maiores escritores portugueses vivos. Como se neste “diário” o poeta se tornasse indiscernível do magnífico prosador ou do lúcido ensaísta que, convivendo de perto com o mundo das artes plásticas, tem plena autoridade para dizer que “na poesia é tudo mais pobre”.»

Primeiros parágrafos de A Rapariga sem Carne, de Jaime Rocha





No blogue Bibliotecário de Babel, José Mário Silva transcreve o início de A Rapariga sem Carne, de Jaime Rocha:

«O corpo da mulher rola para dentro de casa como um embrulho, as roupas encardidas pela humidade. O cabelo está de tal modo entrelaçado que nem a água quente o conseguirá desembaraçar com a lavagem. Estende-se no chão da sala, exausta.»
 
Texto completo aqui.

21.12.12

Sobre A Terceira Miséria, de Hélia Correia




 

Na sua crónica «O que dizem os poetas» de 20 de Dezembro de 2012, no Diário de Notícias, Viriato Soromenho-Marques escreve: «Quando daqui a muitos anos alguém fizer a história da crise europeia, um dos registos que sobreviverá à erosão do tempo será o livro de poemas de Hélia Correia, A Terceira Miséria (Relógio D’Água, 2012). Os poetas dizem as coisas improváveis, mas essenciais. Conheci este livro pela mão de Maria de Sousa, uma cientista com quem o país contraiu uma dívida que jamais poderá saldar. Como tudo o que é fundamental, o verdadeiro conhecimento, seja científico ou poético, está para além da “esfera de transacções”. Hélia Correia fala-nos da Grécia e da Alemanha. Do país onde amanheceu o Ocidente. E do país que, no último século, parece condenado à maldição de conduzir a Europa à sucessiva encenação do seu crepúsculo. A poetisa convoca Hölderlin, Nietzsche, a II Guerra Mundial, mas canta-nos sobretudo a espessa vitória do esquecimento sobre essa memória que é a nossa única linha de defesa contra a repetição da barbárie.»

Sobre A Rapariga sem Carne, de Jaime Rocha





No ípsilon de 21 de Dezembro de 2012, Raquel Ribeiro escreve sobre A Rapariga sem Carne, de Jaime Rocha: «Belíssima prosa, límpida e precisa que, apesar da abstracção do lugar e do tempo, é, simultaneamente, um retrato de um Portugal de hoje: a miséria, o depauperamento, o desamparo na velhice, o abandono da cidade, um país (uma sociedade, portanto) cada vez mais decadente, cada vez mais pobre. A pergunta final que fica no ar (transparente, afinal, como o corpo da rapariga): será a loucura a única saída para não sucumbir ao medo? Não querendo induzir o leitor em erro — este pequeno e precioso livro, de apenas 70 páginas, não lhe dá, de todo, uma resposta —, há uma qualquer tranquilidade nessa incerteza. E ainda bem que, na literatura, é assim.»

Sobre Água Viva, de Clarice Lispector






«Clarice,
Li o seu livro de um jato só (Água Viva). Sem parar. É curioso, pois sem nenhum “plot” ele tem um suspense próprio, transmite grande carga de uma ansiedade pelo que de bonito você vai dizer no parágrafo seguinte. Sabemos que não há um desfecho mas corremos até o fim em busca dele. E então é aquele suspiro final.
Acho-o maravilhoso. É um contato com o bonito-puro. E isto dito por mim tão pouco abstrato, tão “operacional” mesmo na minha atividade como escritor, é muito significativo. Você venceu o enredo, libertou-se do incidente, do evento, do acontecimento. Mas mesmo sem estes o livro prende e se enovela porque dentro da abstração há uma série de vivências muito nítidas e muito lindas. A gente vai encontrando a todo instante situações-pensamento e vai se identificando com elas como se o livro tivesse personagens, incidentes, tudo.»
 
[Excerto de carta de Alberto Dines a Clarice Lispector datada de 20 de Julho de 1973]

20.12.12

Contos de Grimm



Comemora-se hoje o bicentenário da edição dos contos dos irmãos Grimm.

Juiz Holden, um dos maiores vilões da literatura [The Telegraph]



 

«Mas qualquer diálogo sobre Meridiano de Sangue está condenado a traçar círculos concêntricos à volta do seu fulcro, o juiz Holden. Harold Bloom chamou-lhe a “mais aterradora criação da literatura americana” e, por uma vez na vida, a sua histeria hierarquizante parece justificada. Como Ahab, o juiz vai anexando lentamente um romance que pertencia a terceiros, submetendo a narrativa a uma espécie muito particular de possessão demoníaca.» [Rogério Casanova, ípsilon]

Breves Notas, de Gonçalo M. Tavares





“Céptico como os cépticos, crente como os crentes.
A metade que avança é crente, a metade que confirma é céptica.
Mas o cientista perfeito é também jardineiro: acredita que a beleza é conhecimento.”
[sobre ciência]
 

“Indecifrável é o homem que, além de permanecer em silêncio e imóvel, se esconde da luz, como o mais velho dos ratos.
Dele — por jamais ter sido visto, mas, acima de tudo, por jamais ter sido entendido — se construirá uma robusta e luminosa estátua no centro dessa cidade que nem sequer se recorda de alguém o ter visto nascer.”
[sobre o medo]


“Lilith atravessou um caixão aberto, correu de um lado ao outro do caixão aberto. Apenas dois metros de comprimento: duas sensações estranhas: correr em espaço tão curto e esse movimento intenso dentro de uma caixa feita para guardar a imobilidade. Um exercício filosófico: correr dentro de um caixão.”
[sobre as ligações]

Estreia de Pela Estrada Fora, de Walter Salles



 

Estreia hoje nas salas de cinema portuguesas a adaptação cinematográfica que o realizador brasileiro Walter Salles fez da obra homónima de Jack Kerouac.
O filme conta com as participações de Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Sam Riley e Kristen Stewart, entre outros actores.
A Relógio D’Água publicou duas edições de Pela Estrada Fora. A primeira é a edição tal como foi publicada em 1957. A segunda, Pela Estrada Fora — O Rolo Original, em tradução de Margarida Vale de Gato, transcreve o rolo em que a obra foi originalmente dactilografada.


«A primeira exploração clara da prosa romântica americana desde Hemingway, cheia de louca comédia sexual, de belas passagens de viagem e longas evocações líricas da infância da América e memórias de adolescência.» [Richard Holmes, The Times (Londres)]

19.12.12

Em busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust




«Talvez a frase inicial de qualquer romance que um maior número de franceses saiba de cor seja “Longtemps je me suis couché de bonne heure”.
Essa é a primeira frase de Em busca do tempo perdido de Marcel Proust, talvez, ao lado de Ulysses, de James Joyce, o mais famoso monumento literário do século XX. (…)»



«O manuscrito reproduzido nessas páginas cobre uma folha de papel que já estava rasgada neste estranho formato quando Proust a usou, para deixar nela a primeiríssima versão do começo de seu romance [“Em busca do tempo perdido”].

Este é, portanto, o primeiríssimo esboço dos primeiros parágrafos do livro, com importantes variantes com relação ao texto impresso, como era comum para Proust, que corrigia e recorrigia até o último minuto, e era considerado o terror dos tipógrafos. O desenvolvimento da ideia é bastante semelhante, mas é aqui um jornal, e não um livro, que o narrador solta ao adormecer. Mas o que chama a atenção é a ausência da frase inicial.» [Pedro Corrêa do Lago no blogue Questões Manuscritas. Texto completo aqui.]

Sobre As Aventuras de Pinóquio, de Carlo Collodi





«A superioridade do original de Collodi sobre a adaptação da Disney está na sua relutância em tornar explícitas as motivações internas da história… Não menos do que a obra de Proust em busca do tempo perdido, a história [de Collodi] é a procura da sua infância perdida.» [Paul Auster]

Sobre Sonhos e Comboios, de Denis Johnson





«O livro mais importante para mim este ano foi Sonhos e Comboios, de Denis Johnson. Não tenho algo inteligente a dizer sobre ele. Só penso que é muito belo.» [Zadie Smith, «The Millions», 10-12-2012]

17.12.12

Sobre Anna Karénina e Tolstoi




No Atual do Expresso de 15 de Dezembro de 2012, Clara Ferreira Alves escreve sobre Anna Karénina e Tolstoi:

«O que torna o romance (1874-76) de Lev Tolstoi inesquecível e tão carregado de elogio, ao ponto de ser considerado o romance mais perfeito de todos os tempos (lá vem o ranking), o que o torna o livro preferido de Dostoievski, Faulkner ou Nabokov, não é o drama conjugal e extraconjugal da senhora, é a reflexão psicológica que anuncia. A reflexão psicológica veiculada na narrativa pela corrente de consciência, traço da modernidade. O que interessa não é o drama, o amor, o ciúme, bem escritos e descritos. O que interessa é a intensidade da avaliação que as personagens que acompanham esta aventura fazem da sua situação e da situação da sociedade, do tempo e do lugar onde se encontram. A Rússia. E neste palco cruzam-se, por via de reflexões paralelas, várias personagens que compõem uma ópera, ou uma tragédia operática, onde as consequências dos atos transcendem os atos.»

Sobre Entre os Actos, de Virginia Woolf





No suplemento Atual do Expresso de 15 de Dezembro de 2012, Pedro Mexia escreve sobre Entre os Actos, de Virginia Woolf:

«Havia uma volubilidade, uma falta de simetria e de ordem nas nuvens, que ora se atenuavam, ora se adensavam. Obedeceriam a alguma lei própria, ou a nenhuma?”, escreve Virginia Woolf em Entre os Actos, publicado postumamente em 1941. Este romance curto é um tour de force composto de frases interrompidas, monólogos interiores, didascálias, poemas. E esse fio invisível liga as personagens, apenas esboçadas.»

Sobre Os Irmãos Karamázov, de Fiódor Dostoievski





«Em 1916, Wittgenstein lia tão frequentemente Os Irmãos Karamázov que sabia de cor vários excertos, principalmente passagens do padre Zóssima, que para ele representava um poderoso ideal cristão, um homem santo “que olhava directamente para a alma das outras pessoas”.» [Ray Monk, Wittgenstein: The Duty of Genius]

14.12.12

Jane Austen [16-12-1775/18-07-1817]







«As principais heroínas de Austen — Elizabeth, Emma, Fanny e Anne — possuem uma tão grande liberdade pessoal que as suas individualidades não podem ser reprimidas. (…) Uma concepção de liberdade interior que se centra numa recusa de aceitar a estima a não ser de alguém a quem se conferiu estima situa-se no mais alto grau da ironia.»
[Harold Bloom, O Cânone Ocidental]

Sobre Nos Trópicos sem Le Corbusier, de Ana Vaz Milheiro





No Diário do Alentejo, Maria do Carmo Piçarra escreve sobre Nos Trópicos sem Le Corbusier — Arquitectura luso-africana no Estado Novo:
«Edição belíssima, amplamente documentada com fotografias, Nos trópicos sem Corbusier divide-se em duas partes que organizam cinco textos sobre a arquitetura concebida e erigida na “África portuguesa” após o “Ato Colonial” de 1930 mas, sobretudo, após o final da II Guerra Mundial quando a construção civil se tornou sintoma do desenvolvimento que o Estado Novo teve que implementar.»

[Texto completo aqui]

13.12.12

Sobre Hannah Arendt e Martin Heidegger





«Pensemos na cegueira do desejo que se manifesta entre Alcibíades e Sócrates, Abelardo e Heloísa, Hannah Arendt e Heidegger.» [George Steiner, A Poesia do Pensamento]

12.12.12

Prémio Camões é hoje entregue no Rio de Janeiro a Dalton Trevisan


 
O escritor brasileiro Dalton Trevisan, 87 anos, recebe hoje no Rio de Janeiro o Prémio Camões, o maior galardão de Língua Portuguesa, no valor de 100 mil euros.
 
O escritor conhecido como “O Vampiro de Curitiba”, título de um livro seu editado em 1965, não estará presente na cerimónia que se realiza às 18:30 locais (20:30 de Lisboa), sendo representado pela sua editora Sônia Jardim.
A entrega do prémio coincide com o lançamento em Portugal, pela Relógio D’Água, de três obras do autor, a saber: O Vampiro de Curitiba (com prefácio de J. Rentes de Carvalho), Novelas nada Exemplares, e A Polaquinha. Em 1984 a editora publicara já Cemitério de Elefantes, com prefácio de Fernando Assis Pacheco
A escolha de Dalton Jérson Trevisan para o Prémio Camões 2012 foi unânime e segundo o júri “significa uma opção radical pela literatura enquanto arte da palavra”.
O presidente do júri, Silviano Santiago, referiu as “incessantes experimentações [de Dalton Trevisan] com a Língua Portuguesa, muitas vezes em oposição a ela mesma” e sublinha “a sua dedicação ao fazer literário, sem concessões às distracções da vida social e pessoal”.
Entre 1946 e 1948, o escritor editou a revista Joaquim, que reunia ensaios e contos de autores como Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade, além de traduções de Franz Kafka e Marcel Proust.
O Anão e a Ninfeta (2011) é o último livro de Dalton Trevisan, tendo recebido o Prémio Portugal Telecom na categoria de conto.
Enquanto Trevisan se esconde em sua casa, em Curitiba, os seus contos adquirem uma crescente divulgação, com traduções para inglês, espanhol, francês e italiano.
 
 
As histórias de Trevisan foram adaptadas para a televisão e cinema, no Brasil e na Hungria. No Brasil, a adaptação para o cinema de Guerra Conjugal, de 1969, do realizador Joaquim Pedro de Andrade, recebeu o prémio de melhor filme e melhor realizador em festivais nacionais, além de uma menção honrosa no Festival de Barcelona.
No ano passado, o autor recebeu o Jabuti — o maior prémio literário brasileiro — na categoria de contos e crónicas, com o livro Desgracida. Este ano venceu o prémio de literatura Machado de Assis 2011, conferido pela Academia Brasileira de Letras.
 
 
Em 2013 serão publicadas pela Relógio D’Água quatro obras de Trevisan: Guerra Conjugal, A Trombeta do Anjo Vingador, O Rei da Terra e Cemitério de Elefantes.

Entrega dos Prémios PEN 2011



 

Os autores Fernando Guimarães, Maria Filomena Molder, Pedro Vieira e Rita Ferro recebem hoje os prémios PEN, nas áreas de poesia, ensaio, primeira obra e narrativa, respectivamente, no Auditório Carlos Paredes, da Sociedade Portuguesa de Autores, em Lisboa.
A cerimónia conta com a presença do secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, e do director-geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, José Manuel Cortês.


O Prémio PEN de Poesia distingue As Raízes Diferentes, de Fernando Guimarães, enquanto o de Ensaio é entregue à ensaísta Maria Filomena Molder, por O Químico e o Alquimista — Benjamin, Leitor de Baudelaire.
Pedro Vieira, que começou por ser conhecido pelo blogue Irmão Lúcia, recebe o prémio Primeira Obra, com o romance de estreia Última Paragem, Massamá.
O prémio Narrativa foi atribuído a A menina é filha de quem?, romance autobiográfico assinado pela escritora Rita Ferro.
Todos estes prémios são referentes a obras publicadas em 2011.
O júri do Prémio PEN de Poesia integrou Maria do Sameiro Barroso, Albano Martins e Rita Taborda Duarte, o de Ensaio Maria João Cantinho, Paula Mendes Coelho e Ricardo Gil Soeiro.

Sobre A Polaquinha, de Dalton Trevisan





«O resultado é uma espécie de reverberação cognitiva, como se estivéssemos diante de um Philip Glass da ficção.
Esse efeito estilístico sem dúvida é um dos pontos altos do romance. O outro está nas falas. Trevisan herdou de Nelson Rodrigues a mestria na arte do diálogo. Não há ninguém hoje no Brasil como ele, capaz de escrever colóquios ao mesmo tempo prosaicos e dramáticos, exemplares e naturais.» [Marcelo Pen, Folha de S. Paulo, 30-09-2002]

11.12.12

Rei, Dama, Valete, de Vladimir Nabokov





«De todos os meus romances, esta fera rutilante é a mais alegre. A expatriação, a pobreza, a nostalgia não influenciaram a sua composição refinada e exultante.» [Do Prólogo de Vladimir Nabokov]

Sobre A Poesia do Pensamento, de George Steiner





Na edição de Dezembro da revista Ler, Filipa Melo escreve sobre A Poesia do Pensamento, de George Steiner: «A Poesia do Pensamento talvez seja a obra magna deste mestre europeu. Percorre dois milénios da cultura ocidental, à procura das ligações entre a filosofia e a linguagem poética e literária. É a súmula de 50 anos de percurso analítico e crítico de um dos dinossauros de uma conceção de cultura ameaçada de extinção. (…) Hoje, para Steiner, quando a cultura corre o risco de se tornar jogo, a rutura radical do presente com a alta cultura acumulada em dois milénios de História do Ocidente pode terminar também em silêncio, mas um silêncio estéril e fatal, ao qual apenas um “cantor rebelde” ou um filósofo solitário poderá dizer “não”.»

 
No suplemento Atual do Expresso de 8 de Dezembro, também António Guerreiro escreve sobre esta obra de George Steiner: «Poderíamos então dizer que Steiner vai contra o princípio de que há uma musa dos poetas, mas não há uma musa dos filósofos. Mas é preciso também ter em conta que um título como “Poesia do Pensamento” joga numa duplicidade, obriga-nos a ter em conta tanto o genitivo subjectivo (que se refere à poesia inerente ao pensamento) como o genitivo objectivo (referente à poesia sobre o pensamento). É num movimento constante entre um e outro que se move George Steiner. Trata-se então de ler os grandes filófosos da tradição ocidental como produtores de um estilo, de uma retórica, conduzindo-nos assim não só ao coração da linguagem, mas também à “criatividade da razão”. Nietzsche ocupa na economia do livro e na argumentação de Steiner um lugar muito importante.»

Sobre Contos Completos, de Lydia Davis





«As histórias nunca são interessantes, porque nada acontece, e é por nada acontecer que são importantes.» [Bruno Vieira Amaral]


Na revista Ler de Dezembro, Bruno Vieira Amaral escreve sobre Contos Completos, de Lydia Davis: «Desta forma, Davis investiga os paradoxos do quotidiano, evade-se da sequência cronológica em que vivemos para a sequência aleatória, mas constante, do pensamento e, mais do que do pensamento, daquele ruído branco que nos preenche a cabeça quando não estamos a pensar, por exemplo, a maçaneta para a qual estou a olhar neste momento e que talvez precisasse de ser limpa, embora eu não tenha os produtos de limpeza adequados para a realização da tarefa e a ideia de limpar a maçaneta com uma toalhita me incomode (esta última frase é uma paródia ao estilo de Davis que pode prosseguir durante páginas e páginas neste registo átono e narcótico), e revira as coisas e as pessoas até estas adquirirem qualidades que lhe são alheias.»

Sobre O Próximo Outono, de João Miguel Fernandes Jorge e Pedro Calapez





Na edição de Dezembro da revista Ler, José Mário Silva escreve sobre O Próximo Outono, diário de João Miguel Fernandes Jorge com Pedro Calapez: «A prosa é magnífica, sólida, estilisticamente impecável, envolta numa certa aura de superioridade que JMFJ nem disfarça. Exemplo: “O gato começou a miar. Não deve ter gostado de Horowitz. Os gatos também têm mau gosto.” Muito do que é dito, é dito de forma cifrada, com iniciais a esconderem identidades. Algumas passagens tornam-se crípticas. Outras, as melhores, iluminam a página com a força da inteligência; ou então com um lirismo sempre controlado (e ainda assim capaz de arrebatamentos). Sobre as obras de Pedro Calapez, JMFJ fala em “amontoado harmónico”. Nas suas diferenças, as entradas do diário funcionam da mesma maneira.»

10.12.12

Clarice Lispector [10 de Dezembro de 1920 – 9 de Dezembro de 1977]



 

Hélia Correia, Maria Filomena Molder e Carlos Mendes de Sousa vão apresentar a obra de Clarice Lispector, no dia 10 de Dezembro, às 18h30, na Fnac Chiado. Fragmentos de Perto do Coração Selvagem e de Um Sopro de Vida, primeiro e último romances da autora, serão lidos pela actriz Maria João Falcão e o actor e encenador Jorge Silva Melo.

Esta iniciativa é parte da comemoração internacional da obra da autora de Perto do Coração Selvagem, que, sob a designação de “Hora Clarice”, se realiza a 10 de Dezembro (dia do seu nascimento em 1920) em vários países.
 


Amanhã, 11 de Dezembro, às 18h30, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, fala-se de livros difíceis e José António Barreiros dá uma conferência sobre Perto do Coração Selvagem, o primeiro romance de Clarice Lispector.

7.12.12

Sobre Ana Teresa Pereira





No Quociente de Inteligência, do Diário de Notícias, de 24 de Novembro, João Céu e Silva escreveu sobre Ana Teresa Pereira.
«Ana Teresa Pereira é uma autora a não perder. O prémio literário da APE fez tocar a campainha que faltava para abrir a porta da obra desta escritora, que regularmente revela histórias de um outro universo.
Sendo discreta e avessa a entrevistas ou ações promocionais, resta-nos descobrir através da sua prosa a sua personalidade. E vale mesmo a pena.»

Sobre Cartas a Nora, de James Joyce





«Estas cartas marcam o roteiro do que o próprio Joyce chamou um “amante estranho, equivocado, ciumento e caprichoso” (p. 58). Minado pelo ciúme, pela intriga, cria cenários, encena fantasias, (não) exorciza fantasmas. Sobretudo, escreve. O que há nelas de extraordinário não é propriamente a pulsão erótica, mas a assunção dela. O que aqui marca é que Joyce ponha na escrita, numa espécie de corrente de consciência, algo de tão fugidio e inatingível como uma descarga eléctrica.» [Hugo Pinto Santos, Time Out Lisboa, 5-12-2012]

Os Três Desejos de Octávio C. editado no Brasil



 

A obra de Pedro Eiras foi editada pela Relógio D’Água em 2008.
Este mês o jovem escritor estará no Rio de Janeiro para promover o seu livro Os Três Desejos de Octávio C., numa iniciativa de divulgação organizada pela Oficina Raquel, editora brasileira que pretende apresentar ao público brasileiro novos valores da literatura portuguesa.

 

Em 2008, João Paulo Sousa escreveu no blogue Da Literatura:
«Em tudo isto, perpassa a ideia de divertimento, que o próprio autor aponta como um título possível (até pelo sentido de humor sempre presente), ou de fábula moral, se tivermos em conta o resultado catastrófico, para a humanidade, dos desejos bem­‑intencionados de Octávio. É, aliás, nesse confronto entre os sonhos individuais e a sua imposição a uma colectividade que se joga grande parte da dimensão reflexiva desta ficção.»

6.12.12

Um Sopro de Vida (Pulsações), de Clarice Lispector





«Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos.»
 
Neste livro inclassificável, Clarice imagina uma personagem, Ângela Pralini, através da qual entra em conflito consigo mesma para se distanciar de si e evitar o pior dos plágios.
João Cezar de Castro Rocha afirma, na edição brasileira, que os livros de Clarice «se transformam sempre num mergulho no infinito de uma identidade à deriva».
Isso é particularmente válido para Um Sopro de Vida, publicado em 1978. A sua actualidade levou Pedro Almodóvar a escrever, em carta a Benjamin Moser, biógrafo de Clarice Lispector:
«O romance é recheado de frases memoráveis sobre a criação literária e a passagem do tempo, o desespero e a multiplicidade humana, incluindo a necessidade de se falar de si mesmo, a procura por um interlocutor e o facto de se encontrar isso dentro de si mesmo. Quero citar frases dela na edição em livro do argumento de A Pele Que Habito

Pela Estrada Fora, de Jack Kerouac





«Quero uma vida inteira a escrever sobre o que vi com os meus próprios olhos, contando tudo com as minhas próprias palavras, de acordo com o estilo que escolher, tenha vinte e um, trinta, quarenta, ou qualquer idade ainda mais avançada e juntando tudo, como um registo de história contemporânea, para que no futuro seja possível ver o que realmente aconteceu e o que as pessoas realmente pensavam.» [Jack Kerouac ao seu pai Leo]

Hora Clarice



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