A Carta de Lorde
Chandos, publicada em 1902, é
uma missiva ficcionada a Francis Bacon, em que Lorde Chandos, atravessando uma
crise literária e filosófica, explica porque não é capaz de continuar a
escrever.
O texto corresponde a
uma crise do seu autor. Em 1901, Hofmannsthal renunciara à carreira
universitária, reviu a sua obra poética, casou com Gerty Schlesinger e foi
viver para uma pequena povoação próximo de Viena. Debate-se com a falta de
sentido da expressão poética e literária e com o absurdo dos conceitos
abstractos, e pensa que um novo começo só pode surgir de uma atitude, a
decência de ficar calado.
«Lorde Chandos, um jovem da nobreza rural
da época isabelina, em quem no entanto se pode sem dificuldade pressentir o
homem culto, formado em Oxford, e o cavalheiro esteta dos nossos dias, escreve
ao seu amigo paterno, o Lorde‑Chanceler
Bacon, o pensador mais vigoroso da sua época, e descreve, é certo que com a
reserva e o mutismo a seu respeito impostos pela sua educação e pela sua
natureza, uma experiência extremamente terrível. A unidade intuitiva mística do
Eu, da expressão e da coisa perdeu‑se
para ele de uma só vez, de tal forma que o seu Eu é brutalmente conduzido ao
isolamento mais hermético, isolado num mundo rico ao qual deixou de ter acesso
e cujas coisas nada lhe querem dizer, nem sequer os respectivos nomes.» [Da Introdução
de Hermann Broch]
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