11.3.16

Sobre A Casa em Paris, de Elizabeth Bowen




«Hoje na Sábado escrevo sobre A Casa em Paris, de Elizabeth Bowen (1899-1973), autora de uma obra extensa, que inclui ficção e ensaio, mas que não cativou os editores nacionais. A Casa em Paris, agora traduzido, resgata a obra de um silêncio apenas interrompido pelas reedições de A Morte do Coração. É provável que o conservadorismo político tenha pesado no desinteresse. O romance começa e termina no dia da chegada de Henrietta a Paris, durante a Primeira Grande Guerra. Henrietta tem onze anos, nunca antes havia saído de Inglaterra, e está em trânsito para casa da avó, no Sul da França. Apesar do cansaço da viagem, a noite inteira metida num comboio, tem a noção de como a sua vida vai mudar. A história está dividida em três partes, correspondendo a do meio a um flashback de dez anos que serve de guia para factos que dizem respeito às origens de Leopold, o amiguinho mais novo que espera conhecer a mãe que nunca viu. Por mero acaso, Henrietta e Leopold partilham o dia em casa da senhora Fisher. A fórmula fora já utilizada em Friends and Relations, um romance anterior de Bowen. É muito interessante verificar como esse capítulo de intervalo, espécie de monólogo interior, em grande medida construído pela imaginação, serve de cimento à estrutura romanesca. Não por acaso, a última frase da primeira parte — «A tua mãe não vem; não pode vir» — é a mesma que abre a terceira. Sem necessidade de recurso a tiradas enfáticas, Bowen é letal na dissecação da sociedade britânica da primeira metade do século XX. Esta mulher discreta, que privou com os bloomsberries e teve amantes de ambos os sexos, escreveu um romance admirável sobre identidade, solidão e maturidade precoce.» [Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura, a propósito de crítica na revista Sábado, 10-3-2016]

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