1.3.16

Sobre A Crisálida, de Rui Nunes




«A obra de Rui Nunes tem criado uma barreira invisível a partir da qual as palavras são forçadas a deixar a bagagem (ou babugem) desnecessária, aquilo que as traz transidas do ritmo usual das coisas, essa espécie de alegria atarantada. Um discurso demasiado fluido é algo de intolerável para este autor. A sua escrita aprendeu a silabar o mundo, a importá-lo para o observar interiormente. Nela o movimento descritivo radicaliza-se, assumindo um valor crítico. O plano contínuo da realidade é estilhaçado, as palavras tomam o lugar das coisas, decifrando-as. A linguagem deixa de legendar, mas, ao lado do mundo, toma-lhe o peso e acaba por sobrepor-se-lhe. A Crisálida é um texto de profundo mal-estar, reagindo às imagens de um homem degolado no ecrã da televisão. Não há em momento algum o compadecimento com uma cultura e identidade que tem gostado de se vitimizar, nem tão-pouco com os bonecos que encenam o ultraje, com as denúncias e o horror comportado que cabe na moldura televisiva e serve o teatrinho mediático.» [Diogo Vaz Pinto, i, 27-02-2016]

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