31.3.25

Sobre Destroçado, de Hanif Kureishi

 «Sim, [um livro doloroso]. Chama-se Destroçado, é do Hanif Kureishi, um escritor inglês de ascendência paquistanesa. Ele tem uma grande carreira como romancista, mas também como autor de argumentos para cinema, como A Minha Bela Lavandaria, do Stephen Frears, ou Intimidade, que foi simultaneamente um filme e também é um romance dele.

Ele estava em Itália, a mulher dele é italiana, no dia 26 de Dezembro de 2022, sofreu um acidente, sentado em casa, mas desmaiou, e caiu de uma tal maneira que houve uma pancada muito forte na zona do pescoço e quando ele acordou estava tetraplégico. Não foi uma ruptura total da medula espinal […], mas iniciou a partir daí uma recuperação lentíssima. […] E este livro é a memória e é uma série de entradas, quase de tipo diarístico, que acompanha todo o ano de 2023.

Há um lado muito impressionante, dez dias depois do acidente já estava a escrever, já estava a ditar este livro — ele só conseguia falar — para um dos seus filhos. Mas o que é impressionante, é claro que há este lado de destroçado, um lado de desespero, há muita escatologia, mas há ali também esperança, há também humor, há até uma espécie de drive sexual, e é muito interessante ver isso.» [João Miguel Tavares, Programa Cujo Nome Estamos legalmente Impedidos de Dizer, SIC Notícias, 29/3/2025: https://sicnoticias.pt/programas/programa-cujo-nome-estamos-legalmente-impedidos-de-dizer/2025-03-29-video-ministro-do-cartaz-ministro-do-bailinho-da-madeira-e-ministro-grisalho-d1f29149 ]


Destroçado (tradução de José Miguel Silva) e outras obras de Hanif Kureishi estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/hanif-kureishi/

Sobre Marigold e Rose, de Louise Glück

 “Marigold estava absorta no seu livro; já chegara ao V.” Começa assim Marigold e Rose, a surpreendente crónica que Louise Glück faz do primeiro ano de vida de duas gémeas. Imagine-se um conto de fadas que é também uma saga multigeracional; uma peça para duas mãos que é também uma sinfonia; um poema que é também, à semelhança de A Metamorfose, de Kafka, um incandescente gesto autobiográfico.

Estão presentes os elementos que se esperaria encontrar numa história de bebés gémeas: o Pai e a Mãe, a Avó e a Outra Avó, a hora do banho e a hora da sesta… Mas, acima de tudo, Marigold e Rose é uma investigação do grande mistério da linguagem e do próprio tempo, do que existe e já existiu e existirá ainda. “Fora do parque para bebés havia dia e noite. O que formavam eles? Tempo, era isso que formavam. Vinha a chuva, depois a neve.” As gémeas aprendem a subir as escadas, espreitam-se uma à outra como criminosas através das grades dos respectivos berços, começam a falar. “Tinha anoitecido. Rose sorria placidamente na banheira, enquanto brincava com o elefante de esguichar, que, segundo a Mãe, simbolizava paciência, força, lealdade e sabedoria. Como é que ela é capaz, pensou Marigold, sabendo o que sabemos?”

Simultaneamente triste e engraçado, e imbuído de uma sensação estóica de assombro, este pequeno livro miraculoso, que se segue a treze livros de poesia e duas reuniões de ensaios, é diferente de tudo o que Glück já escreveu, ao mesmo tempo que é inevitável, transcendente.


Marigold e Rose (tradução de Inês Dias) e outras obras de Louise Glück estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/louise-gluck/

Sobre Jane Eyre, de Charlotte Brontë

 Jane Eyre, criança órfã, cresceu em casa da tia, onde a solidão e a crueldade imperavam, e ainda numa escola de caridade com um regime severo. Esta infância fortaleceu, no entanto, o seu espírito de independência, que se revela crucial quando ocupa o lugar de preceptora em Thornfield Hall. Porém, quando se apaixona por Mr. Rochester, o seu patrão, um homem de grande ironia e cinismo, a descoberta de um dos seus segredos força-a a uma opção. Deverá ficar com ele e viver com as consequências disso, ou seguir as suas convicções, mesmo que para tal tenha de abandonar o homem que ama?

Publicado em 1847, Jane Eyre chocou inúmeros leitores com a sua apaixonada e intensa descrição da busca de uma mulher pela igualdade e a liberdade.


«A obra-prima de um grande génio.» [William Makepeace Thackeray]


Jane Eyre (trad. Mécia e João Gaspar Simões) e uma selecção de poemas de Charlotte Brontë (trad. Ana Maria Chaves) estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/charlotte-bronte/

30.3.25

Sobre Três Homens num Barco, de Jerome K. Jerome

 «A principal beleza deste livro não decorre tanto do seu estilo literário ou da vastidão e utilidade das informações que encerra como, e sobretudo, da simples verdade que contém. As suas páginas são o registo de acontecimentos que, de facto, ocorreram. Tudo o que se fez foi dar ‑lhes um certo colorido; e para tal nem sequer se cobrou qualquer extra. O George, o Harris e o Montmorency não são ideais poéticos, são criaturas de carne e osso — especialmente o George, que pesa bem uns oitenta quilos. Outras obras haverá que podem ultrapassar esta em profundidade de raciocínio e conhecimento da natureza humana; outros livros haverá que podem rivalizar com este em originalidade e dimensão; mas, no que toca a uma veracidade incurável e incorrigível, nada se descobriu ainda que possa ultrapassar este livro. É isto, mais do que todos os seus outros encantos, que tornará este volume precioso aos olhos do leitor interessado; e trará um peso adicional à lição que a história nos conta.» [Prefácio à Primeira Edição]


Três Homens num Barco (trad. Luísa Feijó) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/tres-homens-num-barco-pre-venda/

29.3.25

Sobre O Tempo, Esse Grande Escultor, de Marguerite Yourcenar

 «No dia em que uma estátua é acabada, começa, de certo modo, a sua vida. Fechou‑se a primeira fase, em que, pela mão do escultor, ela passou de bloco a forma humana; numa outra fase, ao correr dos séculos, irão alternar‑se a adoração, a admiração, o amor, o desprezo ou a indiferença, em graus sucessivos de erosão e desgaste, até chegar, pouco a pouco, ao estado de mineral informe a que o seu escultor a tinha arrancado.

Já não temos hoje, todos o sabemos, uma única estátua grega tal como a conheceram os seus contemporâneos.»


O Tempo, Esse Grande Escultor (trad. Helena Vaz da Silva) e outras obras de Marguerite Yourcenar estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/marguerite-yourcenar/

De Esse Cabelo, de Djaimilia Pereira de Almeida

 «O livro do cabelo, no entanto, exigiria o esforço de deixar a literatura à porta, como o meu marido esperando-me ao longo dos anos em quatro automóveis diferentes e ligando-me para perguntar se já me despachei, com receio de se dar a ver às raparigas dos salões, tantas vezes preconceituosas, ficando no carro para me proteger de reparos, ouvindo rádio, mexendo no telefone, fazendo tempo. No livro do cabelo, a literatura faz tempo no carro e olha-me sem me reconhecer à primeira quando entro perguntando-lhe se gosta.»


Esse Cabelo, Livro da Doença e outras obras de Djaimilia Pereira de Almeida estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/djaimilia-pereira-de-almeida/

28.3.25

Sobre Não é ainda o pânico, de Rui Nunes

 Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: Não é ainda o pânico, de Rui Nunes


“o canto das cigarras, que ora aumentava ora diminuía, sem nunca desaparecer, envolvia a mulher grávida, a barriga inchada levantara­-lhe a saia até aos joelhos, e descera­-a atrás até meio da perna, as formigas passeavam hesitantes pelos pés nus, pareciam não saber para onde ir, aproximavam-­se dos dedos, ficavam estáticas a estremecer, e voltavam para trás, a mulher arfava, com as mãos pousadas na barriga, uma de cada lado, como se a segurassem: nenhum anjo apareceu a anunciar uma chegada, e a luz que a cegava era a do Sol e não a de um rutilante mensageiro. Ela passava um lábio pelo outro para os humedecer. O canto das cigarras ondeava, as dores que ela sentia ondeavam, o suor na cara ondeava. Tudo.

Uma náusea”


Mais informação sobre Não é ainda o pânico e outras obras de Rui Nunes editadas pela Relógio D’Água em https://www.relogiodagua.pt/autor/rui-nunes/

Sobre Antígona, de Sófocles

 “Na verdade, com a representação do confronto entre Antígona e Creonte, a peça ia ao encontro das preocupações de uma democracia em construção e suscitava problemas prementes acerca da relação entre governantes e governados, acerca da relação entre a lei e a justiça e, portanto, acerca dos próprios fundamentos da pólis, isto é, da vida em sociedade.

[…]

No imaginário do Ocidente, Antígona ficou para sempre como narrativa fundadora do despertar para uma certa consciência cívica e para a afirmação do indivíduo insubmisso perante a ameaça do poder autoritário e absoluto. E, no entanto, uma leitura atenta da tragédia mostra que a complexidade do que nela se joga — e quiçá a sua intemporalidade — tem que ver, antes de mais, com o facto de a oposição entre as duas principais figuras dramáticas não ser redutível a um debate de ideias, não ser tão-pouco redutível à esfera da ética ou da política. A marca trágica desse confronto insuperável tem raízes no ethos das personagens, isto é, no seu carácter, e numa demónica radicalização das suas vontades. É desta situação particular, na qual qualquer coisa de essencial acerca do humano se manifesta, que resulta a universalidade do drama sofocliano.” [Da Introdução de Marta Várzeas]


Antígona, de Sófocles, com tradução e introdução de Marta Várzeas, está disponível em https://www.relogiodagua.pt/produto/antigona/

Sobre O Quarto de Jacob, de Virginia Woolf

 Escrito em 1922, O Quarto de Jacob marca uma inovação narrativa de Virginia Woolf, que será confirmada em Mrs. Dalloway (1925) e Rumo ao Farol (1927). Com recurso a novas técnicas, em particular à corrente de consciência, Virginia Woolf afirma um novo realismo capaz de romper com a mera descrição e o mundo das aparências.

Enquanto Jacob descobre a amizade e o amor, Woolf descobre-nos Jacob, e a interacção entre estas duas descobertas resulta numa realidade mais completa.

O romance começa com Jacob a brincar numa praia e termina no seu quarto vazio. Entre os dois episódios, decorreu a Primeira Guerra Mundial.


O Quarto de Jacob (trad. João Pedro Vala) outras obras de Virginia Woolf estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/virginia-woolf/

27.3.25

Sobre Luto sem Bússola, de Carme López Mercader

 Esta é uma sentida homenagem a Javier Marías e uma comovente reflexão sobre o luto.


Primeiro chega a morte. Depois o luto. A desolação infinita.

Um tempo acompanhado de dor, perplexidade e da mais absoluta tristeza, de desconcerto, incredulidade, conselhos e opiniões. Também de tentativas de consolo, destinadas ao fracasso.

Nada nos prepara para a perda, menos ainda quando esta é devastadora, por mais que a razão nos indique que é uma possibilidade. A realidade é que, quando chega, não sabemos como enfrentá-la.


Terra incognita, era assim que se denominavam nos mapas antigos os territórios desconhecidos, que, porque o eram, os cartógrafos enchiam de seres imaginários. “Para lá há dragões”, advertiam. Ou seja, monstros.

Na terra incognita do luto também os encontraremos. Às vezes os que surgem de nós mesmos e outras vezes chegados de lugares estranhos e inesperados. Mas vamos ter de os enfrentar a todos, sós, sem mapa e, ao contrário do que Javier, o meu marido, dizia que guiava a sua escrita, também sem bússola.


Luto sem Bússola, de Carme López Mercader (tradução de Miguel Serras Pereira), está disponível em https://www.relogiodagua.pt/produto/luto-sem-bussula/


Os livros de Javier Marías editados pela Relógio D’Água estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/javier-marias/


Sobre Fronteira, de Can Xue

 Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: Fronteira, de Can Xue (tradução do chinês de Tiago Nabais)


Fronteira começa com a história de Liu Jin, uma jovem que parte sozinha para construir vida na Cidade dos Seixos, lugar surreal no sopé da Montanha da Neve, onde lobos vagueiam pelas ruas e indivíduos iluminados conseguem entrar num jardim paradisíaco.

Explorando a vida nessa cidade — ou na fronteira — através do ponto de vista de uma dúzia de personagens — algumas superficiais, outras profundas —, este romance de Can Xue tenta unificar os polos opostos da existência. A barbárie e a civilização. O espiritual e o material. O mundano e o sublime. A beleza e a morte. As culturas do Oriente e do Ocidente.


“Se a China tem possibilidade de vencer o Prémio Nobel da Literatura, é com Can Xue.” [Susan Sontag]


“Há um novo mestre mundial entre nós. O seu nome é Can Xue.” [Robert Coover]


Fronteira é uma obra maravilhosa, cuidadosamente esculpida, lúcida e pura.” [Los Angeles Review of Books]



Deng Xiaohua, mais conhecida pelo pseudónimo Can Xue, é uma escritora e crítica literária nascida a 30 de maio de 1953 na China. A sua escrita rompe com o realismo dos escritores chineses contemporâneos. Além de contos, romances e novelas, escreveu extensas críticas literárias a obras de Dante, Jorge Luis Borges e Franz Kafka, entre outros. Tem as suas obras traduzidas e publicadas por todo o mundo.


Mais informação em https://www.relogiodagua.pt/produto/fronteira/

Sobre Atlas da IA — Poder, Política e Custos Planetários da Inteligência Artificial, de Kate Crawford

 Baseando-se em mais de uma década de investigação, Kate Crawford expõe a IA como tecnologia de exploração, não apenas dos recursos da terra ou dos empregados de baixa qualificação, mas também dos dados de cada ação e expressão, contribuindo para o aumento de desigualdades económicas e sociais. Para tal, Crawford oferece-nos uma perspetiva material e política sobre o que é necessário fazer.

Este é um relato urgente do que está em jogo numa altura em que as empresas de tecnologia recorrem à IA, de forma exponencial, para remodelar o mundo.


Nomeado um dos "Cinco Melhores Livros a Ler sobre a IA” pelo The Wall Street Journal.


“Uma obra-prima.” [Karen Hao, MIT Tech Review]


“Expõe o lado sombrio da IA. [...] Uma investigação meticulosa e uma escrita soberba.” [Nature]


“Uma visão abrangente da IA […]. Uma contribuição oportuna e urgente.” [Science]


“Revela os custos ocultos da IA, desde o consumo de recursos naturais até aos custos mais subtis para a nossa privacidade, igualdade e liberdade.”

[New Scientist, “Melhores Livros do Ano”]


“Uma perspetiva valiosa sobre vários exageros em torno da IA, assim como um manual útil para o futuro.” [Financial Times]


“Este incisivo livro demonstra repetidamente que a inteligência artificial não nos chega como um deus ex machina, mas sim através de uma série de práticas extrativas e desumanizadoras que a maioria de nós desconhece.” [The New York Review of Books]


Atlas da IA — Poder, Política e Custos Planetários da Inteligência Artificial, de Kate Crawford (tradução de José Miguel Silva) está disponível em https://www.relogiodagua.pt/produto/atlas-da-ia/

Sobre A Gaivota, O Tio Vânia, Três Irmãs e O Ginjal, de Anton Tchékhov

 Este livro reúne as quatro principais peças escritas por Anton Tchékhov, traduzidas do russo por Nina Guerra e Filipe Guerra.

A Gaivota foi publicada em 1896, e nela é já perceptível o modo de ser das personagens tchékhovianas.

O Tio Vânia foi escrito entre 1896 e 1897, logo a seguir a A Gaivota e ainda antes de esta estrear. Foi representada pela primeira vez no Teatro de Arte de Moscovo, em Outubro de 1899.

Três Irmãs, peça publicada em 1901, é talvez o ponto culminante da dramaturgia de Tchékhov. É a história de três mulheres unidas num só destino, descrito em diálogos vagos e veementes. São três irmãs envolvidas na intolerável sensação de que a vida está noutro lado. Três vidas que procuram escapar aos constrangimentos que a educação, a família e uma cidade de província sobre elas exercem.

O Ginjal estreou a 17 de Janeiro de 1904, ou seja, no dia em que Tchékhov fazia 44 anos. Cerca de um ano antes dissera a Olga Knipper que iria escrever a peça há tanto tempo prometida.

A qualquer uma destas peças se aplica o que escreveu Elsa Triolet em «A Vida de Tchékhov»:

«As grandes peças de Tchékhov […] transgrediam todas as regras da dramaturgia do seu tempo; introduziam na cena a vida quotidiana, as pessoas simples, a linguagem de todos os dias; obrigavam o encenador e os intérpretes a abandonar o que o teatro tinha de teatral, as suas convenções habituais… O diálogo de Tchékhov possui uma […] espécie de corrente submarina que passa, silenciosa, por detrás das palavras pronunciadas em voz alta.»


A Gaivota, O Tio Vânia, Três Irmãs e O Ginjal (tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra) e outras obras de Anton Tchékhov estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/anton-tcheckhov/

26.3.25

Sobre Os Meus Amigos, de Hisham Matar

 Os Meus Amigos, de Hisham Matar, vence National Book Critics Circle Award de Ficção


Os Meus Amigos, romance de Hisham Matar, recentemente publicado em Portugal pela Relógio D’Água, é o vencedor do National Book Critics Circle Award na categoria de Ficção. O livro já fora distinguido com o Prémio Orwell na categoria de Ficção Política.

Mais informação em https://www.bookcritics.org/awards/


Os Meus Amigos, de Hisham Matar (tradução de Maria Beatriz Sequeira), está disponível em https://www.relogiodagua.pt/produto/os-meus-amigos/

Sobre Um Apartamento em Atenas, de Glenway Wescott

 Tal como em O Falcão Peregrino (também publicado pela Relógio D’Água e que Susan Sontag descreveu, na The New Yorker, como «um dos tesouros do século XX»), Um Apartamento em Atenas desenvolve-se em torno de três personagens.

Nesta história sobre um casal grego que vive em Atenas ocupada por nazis e obrigado a partilhar a sua casa com um oficial alemão, Wescott encena um perturbador drama de adaptação e rejeição, resistência e compulsão.

Um Apartamento em Atenas retrata os efeitos de uma guerra na vida quotidiana. Trata-se de uma invulgar história de luta espiritual, em que o triunfo e a derrota dificilmente se distinguem.


«Um bom estudo sobre a humilhação e a dignidade, e o seu desenlace em tragédia e numa solução desesperada(…). O carácter moderado, a ausência de exageros e a serenidade são admiráveis como o ideal grego que reflectem e honram. Nesta obra reside a dignidade de um estilo no qual nada é excessivo nem insuficiente.» [Eudora Welty]


O Falcão Peregrino e Um Apartamento em Atenas, Glenway Wescott (traduções de José Miguel Silva) estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/glenway-wescott/

Na morte de Luís Oliveira

 Morreu o editor Luís Oliveira


Um catálogo singular


Ser editor é viver uma realidade contraditória.

O catálogo que vai construindo é obra dos escritores que publica. Mas, no caso dos editores independentes, que não se inspiram nas vendas ou em sugestões de agentes literários, esse catálogo pode ser uma conjunção única, uma criação singular.

Por isso, qualquer editor tende a oscilar entre o zero e o infinito.

Por vezes, sente-se apenas como aquele que fornece os suportes para a divulgação dos livros, tendo o mérito das boas revisões, do grafismo bem feito, e, sendo caso disso, de uma tradução cuidada.

Nos acessos de megalomania, reclama para si quase todo o mérito, imagina que, sem os ter escolhido e publicado, os autores quase nem existiriam.

É certo que há escritores que permaneceriam esquecidos ou que não chegariam, pelo menos tão cedo, aos leitores portugueses sem o trabalho de Luís Oliveira. É o caso de Graça Pina de Morais, António José Forte, Tomás da Fonseca, Karl Korsch, Michael Herr, Frédéric Gros, Albert Cossery, Donald Barthelme, e dezenas de outros.

Mas a maioria dos trezentos e quarenta títulos da Antígona poderia ter chegado aos leitores através de outros editores. Quem não desejaria ter no seu catálogo as distopias de Orwell, Huxley e Zamiatine, ou criações de Blake, Sterne, La Boétie, John Berger, Jack London, Galeano, Saunders, Henry Miller ou Bukowski?

Não são pois apenas os autores considerados individualmente que fazem da Antígona a Antígona. Há um fio condutor que Luís Oliveira tem segurado ao longo de quatro décadas. É isso que faz com que todos os autores que publica sejam água da mesma corrente, diversa e que procura ser digna da audácia com que Antígona, mulher de Tebas, desafiou, em nome do sangue e da fraternidade, as leis da cidade, personificadas em Creonte.

O que há de singular no catálogo da Antígona é esta coerência, um leito por onde fluem as palavras e ideias dos mais diversos autores, que têm em comum a capacidade de nunca deixarem indiferentes os leitores.

Luís Oliveira contou com a colaboração de Torcato Sepúlveda, de João Henriques, José Miranda Justo, e outros colaboradores. Mas, mesmo eles, foram escolhidos tanto como escolheram e a sua ligação à Antígona surge como natural e até inevitável.

Na Antígona, é também visível, além da arte da aceitação, outra ainda mais difícil que é a de excluir. Não é um verdadeiro editor quem não for capaz de pôr em causa uma amizade por se recusar a publicar um livro que o não convenceu.

E Luís Oliveira soube erguer defesas contra a mediocridade ou as facilidades de venda. Evitou comprazer-se na edição marginal, enfrentou crises, situou-se, para além do bem e do mal, nas disputas de obras que lhe pareciam essenciais. Fez assim da Antígona não «uma conspiração permanente contra o mundo», como diz com prosápia no seu catálogo, mas uma deliberada conspiração contra a mediocridade imperante.

Andou devagar para chegar longe. Tenho a certeza que saberá envergar até ao fim, com garbo, a armadura de editor independente.



Depoimento escrito por Francisco Vale para a edição comemorativa «Antígona: 40 Anos + 1»

Sobre Stella Maris, de Cormac McCarthy

 No segundo livro da série O Passageiro, Stella Maris, Cormac McCarthy apresenta um retrato íntimo de uma jovem mulher que dá entrada num hospital psiquiátrico à procura de entender a própria existência.

A ação decorre em 1972, em Black River Falls, no Wisconsin. Alicia Western tem vinte anos e mais de quarenta mil dólares num saco de plástico quando dá entrada no hospital psiquiátrico. Candidata a um doutoramento em matemática na Universidade de Chicago, Alicia é diagnosticada com esquizofrenia paranoide e não quer falar sobre Bobby, o seu irmão. Em vez disso, contempla a origem da loucura e a insistência humana em conceber o mundo de forma una; recorda uma infância em que, aos sete anos, a própria avó temia pelo seu bem-estar; debruça-se sobre a interseção entre filosofia e física; e apresenta as suas quimeras e as alucinações que apenas ela consegue ver. Em simultâneo, Alicia preocupa-se com Bobby, apesar de este não lhe ser já particularmente próximo.

Narrado através das transcrições das sessões psiquiátricas de Alicia, Stella Maris é a coda desafiante e inquisidora de O Passageiro, onde McCarthy nos apresenta uma investigação filosófica que questiona as nossas noções de Deus, verdade ou existência.


Stella Maris e outros livros de Cormac McCarthy (tradução de Paulo Faria) estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/cormac-mccarthy/

25.3.25

Sobre Flores para Algernon, de Daniel Keyes

 Flores para Algernon narra a história de um homem com dificuldades mentais que por via experimental procura adquirir o mesmo quociente de inteligência que Algernon, um sobredotado rato de laboratório. Através de entradas de diário, Charlie documenta o modo como uma operação melhorou a sua inteligência e, por consequência, a sua vida. E, à medida que os procedimentos decorrem, a sua inteligência expande-se até ultrapassar a dos médicos que projectaram a sua metamorfose.

A experiência parece representar um enorme avanço científico, até que Algernon entra numa deterioração súbita e profunda. Poderá o mesmo acontecer a Charlie?


«Uma história convincente, comovente e repleta de suspense.»

[The New York Times]


«Uma obra-prima comovente e genial.» [Guardian]


Flores para Algernon, de Daniel Keyes (tradução de José Mário Silva), está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/flores-para-algernon-pre-publicacao/

Sobre Eu Vou,Tu Vais, Ele Vai, de Jenny Erpenbeck

 Uma das maiores escritoras europeias contemporâneas aborda um dos problemas mais prementes da Europa. 


Toda a vida Richard foi professor universitário, imerso no mundo dos livros e das ideias. Mas, agora que está aposentado, com os seus livros ainda amontoados em caixas, entretém-se a calcorrear as ruas da sua cidade, Berlim. Em Alexanderplatz, descobre uma nova comunidade — uma cidade de tendas, erguida por refugiados africanos. Embora hesitante, trava conhecimento com os recém-chegados, enquanto começa a questionar o seu próprio sentido de pertença a uma cidade que outrora dividiu os seus cidadãos entre eles e nós.

Uma apaixonada contribuição para o debate sobre raça, privilégio e nacionalidade, e simultaneamente uma análise excecional da demanda de um homem maduro pelo significado da sua vida.


Eu Vou, Tu Vais, Ele Vai (trad. Ana Falcão Bastos) e Kairos (trad. António Sousa Ribeiro) estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/jenny-erpenbeck/

24.3.25

Sobre Frankenstein, de Mary Shelley

 O monstro de Victor Frankenstein foi criado em 1818 por uma jovem de 23 anos, Mary Wollstonecraft Godwin, filha de um livre-pensador e de uma das fundadoras do feminismo.

Mary Shelley concebeu a sua obra inicialmente apenas como um conto, quando passava alguns dias na Villa Diodati, alugada por Byron, junto do lago de Genebra na aldeia de Cologny, num grupo de que fazia também parte o médico John Polidori. 

Aproveitando a conversa junto à lareira, em vários dias em que não puderam passear devido à chuva intensa, os quatro amigos combinaram escrever contos fantásticos. 

Só Mary Shelley concluiu o seu, que depois de transformaria no romance Frankenstein, um dos clássicos indiscutíveis da literatura inglesa.


Frankenstein (tradução de Fernanda Pinto Rodrigues) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/frankenstein/

23.3.25

Sobre Pensamentos, de Marco Aurélio

 «Este livro, todo tecido de reflexões pessoais, tem radículas nos autores gregos bem assimilados — em Platão, em Homero, nos trágicos —, todos sobriamente citados, nunca para mostrar erudição, sempre para sublinhar a meditação pessoal de um homem dobrado ao íntimo. Era, sim, da estirpe de Epicteto e de Pascal este homem que de tão alto viu o “desconcerto do mundo” e abriu, sem mais candeia que a luz da consciência acesa em pavio estóico, um tão nobre caminho nas sombras da vida. Nunca como nele se equivaleram palácio e choupana aos olhos de um meditador. A misantropia crepuscular escorre do pensamento da morte, da brevidade da vida, da fugacidade de prazeres e honrarias. […] Mas que um imperador cumulado de riquezas e com mão desimpedida para a sacudir arbitrariamente por entre injustiças e vinganças se recolha à cela íntima e aí entorne, num canhenho de reflexões, a essência da própria alma — deve mover-nos a espanto e pena.» [Do Prefácio de João Maia]


Pensamentos, de Marco Aurélio (tradução e prefácio de João Maia), está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/pensamentos-3/

Sobre O Táxi N.º 9297, de Reinaldo Ferreira (Repórter X)

 Em março de 1926, verificou-se em Lisboa o assassínio da atriz Maria Alves, estrangulada num táxi com o número 9297 e lançada para a valeta. Investigando por conta própria e baseando-se em anteriores crimes semelhantes, o jornalista Reinaldo Ferreira, conhecido como Repórter X, sugere, nos jornais, que o culpado é o ex-empresário da vítima, Augusto Gomes. Posteriores investigações policiais confirmam a hipótese.

No ano seguinte, Reinaldo Ferreira aluga os estúdios Invicta Film, no Porto, para realizar o filme O Táxi N.º 9297, que tem como ponto de partida a morte de Maria Alves e vai obter os elogios da crítica e a adesão do público. Entre os atores, está a já então famosa Maria Emília Castelo Branco no papel de Raquel de Monteverde.

Aproveitando o êxito do filme, Reinaldo Ferreira adaptou o enredo ao teatro, escrevendo a peça que agora se reedita como novela policial. Trata-se de um dos primeiros «policiais» escritos por um autor português, que não evita alguns estereótipos, onde um enigma surge envolto num enredo de estranhas personagens e uma conspiração internacional que tem Lisboa como cenário.


O Táxi N.º 9297, de Reinaldo Ferreira (Repórter X), está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/o-taxi-n-o-9297/

22.3.25

Sobre A Cultura do Narcisismo, de Christopher Lasch

 Quando A Cultura do Narcisismo foi publicado pela primeira vez, tornou-se evidente que Christopher Lasch tinha identificado algo importante que estava a acontecer à sociedade norte-americana com o declínio da família ao longo do século xx. O livro tornou-se um enorme êxito.

É agora publicado com um novo posfácio.


«Christopher Lasch foi direito ao coração da nossa cultura. As suas abordagens à personalidade e ao seu contexto social são espantosas. É um livro corajoso e importante.» [Michael Rogin, Universidade da Califórnia, Berkeley]


«A obra demonstra uma formidável capacidade de compreensão intelectual e uma convicção moral que é raro encontrar-se em autores contemporâneos na história e na sociologia.» [TIME]


«História cultural no seu melhor. […] Um livro de importância fundamental.» [Bruce Mazlish, Massachusetts Institute of Technology]


A Cultura do Narcisismo (trad. Maria José Figueiredo) e A Rebelião das Elites e a Traição da Democracia (trad. João Paulo Moreira) estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/christopher-lasch/

21.3.25

Sobre Paz ou Guerra, de Mikhail Shishkin

 «O autor de “Paz ou Guerra — A Rússia e o Ocidente: Uma Abordagem”, que é ao mesmo tempo uma memória e uma reflexão, Mikhail Shishkin (n. 1961), pertence a uma geração idealmente posicionada para compreender o que está a acontecer na Rússia. Filho de um russo que combateu na II Guerra Mundial e neto de outro que morreu no Gulag (o seu verdadeiro destino só foi conhecido após a abertura dos arquivos nos anos 1990), nasceu e viveu na URSS até aos 30 anos. […]

“A ressurreição do vasto império foi declarada como o desígnio supremo da existência do povo russo, que finalmente deixava de estar de joelhos depois de ter sido fraturado pela derrota na Guerra Fria, pela desintegração da União Soviética e pela injusta definição de fronteiras que a acompanhou. Os apoiantes da ‘primavera Russa’ não lutavam por uma separação da região do Donbass da Ucrânia, mas pela reunificação da Ucrânia com o império. Do ponto de vista destes imperialistas, os ucranianos são os separatistas. Estas são as palavras programáticas de Alexander Borodai, o ideólogo principal e primeiro ‑ministro da Nova Rússia de Putin: ‘As fronteiras do mundo russo são muito mais vastas do que as fronteiras da Federação Russa.’ […] É muito mais atraente acreditar que se está a cumprir uma missão histórica do que vegetar sobre as ruínas do império”, resume o autor. No fim desta obra, onde mesmo leitores com alguma frequentação do tema encontram matéria intelectual e testemunhal nova, fala de Navalny, um representante da promessa de uma nova Rússia.» [Luís M. Faria, E, Expresso, 21/3/2025: https://expresso.pt/revista/culturas/livros/2025-03-20-livros-a-russia-no-regresso-a-ditadura-5dbf9a69]


Paz ou Guerra — A Rússia e o Ocidente: Uma Abordagem (tradução de Ana Falcão Bastos, João Maria Lourenço e Larissa Shotropa) está disponível em https://www.relogiodagua.pt/produto/paz-ou-guerra-a-russia-e-o-ocidente-uma-abordagem/

Sobre A Fera na Selva, de Henry James

 Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: A Fera na Selva, de Henry James (tradução de Miguel Serras Pereira)


Este livro é a história de John Marcher, um homem que, desde que tem memória, está obcecado pela sensação de que um evento transformador — ou mesmo catastrófico — o aguarda, à espreita, como um animal numa selva.


A Fera na Selva e outras obras de Henry James editadas pela Relógio D’Água estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/henry-james/

De Meadowlands, de Louise Glück

 «PARÁBOLA DO REI


O grande rei, ao olhar em frente,

não viu o destino, mas apenas

a aurora que cintilava sobre

a ilha desconhecida: enquanto rei,

pensou de forma imperativa —

não mudemos de rumo,

avancemos sem parar

sobre o mar radioso. Afinal,

o que é o destino senão uma estratégia para ignorar

a História, com os seus dilemas

morais, uma forma de encarar

o presente, onde se tomam

decisões, como o elo

necessário entre o passado (imagens do rei

enquanto jovem príncipe) e o glorioso futuro (imagens

de jovens escravas). Fosse o que fosse

à sua espera mais à frente, porque havia de ser

tão ofuscante? Quem teria adivinhado

que não se tratava do Sol habitual

mas de chamas erguendo‑se sobre um mundo

prestes a extinguir‑se?» [Meadowlands, p. 21, trad. Inês Dias]


Meadowlands (trad. Inês Dias) e outras obras de Louise Glück estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/louise-gluck/

20.3.25

Sobre Luto sem Bússola, de Carme López Mercader

 Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: Luto sem Bússola, de Carme López Mercader (tradução de Miguel Serras Pereira)


Esta é uma sentida homenagem a Javier Marías e uma comovente reflexão sobre o luto.


Primeiro chega a morte. Depois o luto. A desolação infinita.

Um tempo acompanhado de dor, perplexidade e da mais absoluta tristeza, de desconcerto, incredulidade, conselhos e opiniões. Também de tentativas de consolo, destinadas ao fracasso.

Nada nos prepara para a perda, menos ainda quando esta é devastadora, por mais que a razão nos indique que é uma possibilidade. A realidade é que, quando chega, não sabemos como enfrentá-la.


Terra incognita, era assim que se denominavam nos mapas antigos os territórios desconhecidos, que, porque o eram, os cartógrafos enchiam de seres imaginários. “Para lá há dragões”, advertiam. Ou seja, monstros.

Na terra incognita do luto também os encontraremos. Às vezes os que surgem de nós mesmos e outras vezes chegados de lugares estranhos e inesperados. Mas vamos ter de os enfrentar a todos, sós, sem mapa e, ao contrário do que Javier, o meu marido, dizia que guiava a sua escrita, também sem bússola.



Carme López Mercader (Barcelona, 1953) é economista e editora.

Foi esposa de Javier Marías até à morte do escritor, em setembro de 2022.

Luto sem Bússola é o seu único livro publicado. Os seus lucros revertem para a Fundación Javier Marías para a investigação do impacto neurológico do SDRA.a


Mais informação em https://www.relogiodagua.pt/produto/luto-sem-bussula/


Os livros de Javier Marías editados pela Relógio D’Água estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/javier-marias/

Sobre Na Primavera, de Karl Ove Knausgård

 «Não sabes o que é o ar, contudo, respiras. Não sabes o que é o sono, contudo, dormes. Não sabes o que é a noite, contudo, é nela que repousas. Não sabes o que é o coração, contudo, ele bate regularmente no teu peito, noite e dia, noite e dia, noite e dia.

Tens três meses de idade e estás como que envolta em rotinas, ficas na mesma posição ao longo dos dias porque não tens um casulo como as larvas, não tens uma bolsa como os cangurus, não tens um covil como os texugos ou os ursos. (…)

Como é o mundo para um recém-nascido?

Luminoso e escuro. Frio e quente. Macio e duro.»


Na Primavera (trad. Pedro Porto Fernandes) e outras obras de Karl Ove Knausgård estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/karl-ove-knausgard/

19.3.25

Sobre A Quinta dos Animais, de George Orwell e Odyr

 Uma sátira mordaz sobre uma sociedade oprimida que caminha para o totalitarismo.

Alegórico e intemporal, o livro de George Orwell, agora em romance gráfico, adaptado e ilustrado por Odyr.


A Quinta dos Animais, de George Orwell, ilustrado e adaptado por Odyr (trad. Carlos Vasconcelos) e outras obras de George Orwell estão disponíveis em: https://relogiodagua.pt/autor/george-orwell/

Sobre Um Feiticeiro de Terramar, de Ursula K. Le Guin

 «Um Feiticeiro de Terramar, da consagrada autora norte-americana Ursula K. Le Guin (1929-2018), foi agora relançado pela Relógio d’Água. Sobejamente conhecida como escritora de ficção científica, autora de obras como A Mão Esquerda das Trevas (Relógio d’Água) ou Os Despojados, Ursula K. Le Guin fez também a sua incursão no mundo da fantasia. […]

Esta tetralogia [Terramar] é uma das maiores criações da literatura fantástica, embora não nos transporte para mundos muito diferentes do nosso. A escrita é sóbria e cuidada, criando sem dificuldade um ambiente misterioso e mágico que parece emanar do nosso próprio inconsciente e imaginário.» [Paulo Serra, Postal, 18/3/2025: https://postal.pt/opiniao/leitura-da-semana-um-feiticeiro-de-terramar-de-ursula-k-le-guin-por-paulo-serra/]


Um Feiticeiro de Terramar (tradução de Carlos Grifo Babo) e outras obras de Ursula K. Le Guin já editadas pela Relógio D’Água em https://www.relogiodagua.pt/autor/ursula-k-le-guin/

18.3.25

Sobre Paz ou Guerra, de Mikhail Shishkin

 «Um livro que propõe uma tentativa de descodificação de um país que se tornou uma ameaça para o resto do mundo. O livro chama-se Paz ou Guerra e tem por subtítulo A Rússia e o Ocidente: Uma Abordagem, e a abordagem do autor é tão interessante e original como o único romance dele publicado em Portugal.

O autor chama-se Mikhail Shishkin. […] Este livro não é ficção, é uma reflexão deste autor, uma reflexão muito pessoal de um escritor russo exilado na Suíça atualmente.

Faz a radiografia da evolução daquilo a que chama uma “mentalidade de escravo” na cultura russa. No prefácio que Mikhail Shishkin escreveu especificamente para esta edição portuguesa pode ler-se: “O meu país está fora do tempo” e “A guerra é o pão da ditadura”.» [Carlos Vaz Marques, Programa Cujo Nome Estamos legalmente Impedidos de Dizer, SIC Notícias, 15/3/2025: https://sicnoticias.pt/programas/programa-cujo-nome-estamos-legalmente-impedidos-de-dizer/2025-03-15-video-ministro-do-sorpasso-ministro-do-periodo-refractario-e-presidente-da-camara-municipal-de-marraquexe-6f4f0414]


Paz ou Guerra — A Rússia e o Ocidente: Uma Abordagem (tradução de Ana Falcão Bastos, João Maria Lourenço e Larissa Shotropa) está disponível em https://www.relogiodagua.pt/produto/paz-ou-guerra-a-russia-e-o-ocidente-uma-abordagem/

Sobre Livro da Doença, de Djaimilia Pereira de Almeida

 «“Ao teu livro inacabado”, dedica assim Djaimilia Pereira de Almeida o seu Livro da Doença. Esta curiosa declaração abres as hostes para uma profunda reflexão sobre literatura, memória, doença, morte e luto. Esta dedicatória é também chave que decifra a estrutura e os temas do livro, e é um indício do seu caráter fragmentado e da sua resistência a uma classificação narrativa definitiva.

O “livro inacabado” que motiva a escritora é aquele que o pai da narradora dizia, durante anos, estar a escrever, mas do qual não deixou rasto antes de morrer. A ausência do livro e o luto pelo pai são a força motriz do Livro da Doença, que se constrói num diálogo com o que não existe, ou com o que existe apenas no domínio da promessa, da imaginação e do desejo […].» [Teresa Esteves da Fonseca, Brotéria, Março 2025]


Livro da Doença e outras obras de Djaimilia Pereira de Almeida estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/djaimilia-pereira-de-almeida/

Sobre A Primeira Mão Que Segurou a Minha, de Maggie O’Farrell

 Quando o sofisticado Innes Kent aparece à sua porta, Lexie Sinclair percebe que não pode esperar mais para começar a viver e decide partir para Londres, onde, no coração da cena artística de Soho na década de 1950, constrói uma nova vida.

Anos depois, Elina e Ted estão a lidar com o nascimento do primeiro filho. Ela luta para conciliar as exigências da maternidade com a sua vida artística, enquanto Ted é assombrado por memórias da sua infância que não coincidem com as histórias contadas pelos pais. À medida que Ted começa a procurar respostas, é revelado um retrato de duas mulheres — separadas por cinquenta anos mas ligadas de formas que nenhuma poderia ter previsto.


“Um livro estranho e sensual, que vai perturbar e assombrar o leitor.” [Emma Donoghue]


“Como Daphne du Maurier, O'Farrell traz à superfície os nossos medos primordiais.” [Daily Mail]


A Primeira Mão Que Segurou a Minha (tradução de Inês Dias) e outras obras de Maggie O’Farrell estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/maggie-ofarrell/

17.3.25

Sobre Songlight, de Moira Buffini

 Não te deixes enganar pela beleza de Northaven. Pelas suas casas caiadas de branco e pelas vistas para o mar. Muitos dos seus habitantes são caçadores implacáveis, que desprezam aqueles que desenvolveram a songlight, a capacidade de comunicar telepaticamente com outros. Qualquer pessoa descoberta com este sexto sentido é capturada, perseguida e denunciada.


BEM-VINDO AO FUTURO.


A Cotovia vive em constante perigo desde que a sua songlight se manifestou. Até que encontra uma jovem em apuros, vinda de uma cidade distante, e entre elas nasce um vínculo extraordinário.

Mas em quem será possível confiar?


O mundo está em guerra. Aqueles que têm a songlight são peões num perigoso jogo político. Amigos, vizinhos, familiares... todos se viram uns contra os outros...

Quando o poder é tudo, como sobreviver?


«O romance de referência do ano para jovens adultos... A História de Uma Serva, mas com leitura de mentes.» [The Times, Os Melhores Livros de 2024]


«Deixa os leitores ansiosos pela saída do próximo volume.» [The Guardian]


Songlight, de Moira Buffini (tradução de José Mário Silva), está disponível em https://www.relogiodagua.pt/produto/songlight/

Sobre Os Meus Amigos, de Hisham Matar

 Nomeado para o Booker Prize, finalista do National Book Award e vencedor do Prémio Orwell na categoria de Ficção Política, este é o novo romance do autor de O Regresso.


Certa noite, era ainda um jovem a crescer em Bengasi. Khaled ouve uma história lida em voz alta na rádio, sobre um homem devorado por um gato. Fascinado pelo poder dessas palavras — e pelo seu enigmático autor, Hosam Zowa —, Khaled embarca numa jornada que o levará para longe de casa, para estudar na Universidade de Edimburgo.

Imerso numa sociedade aberta e muito distante do mundo que conhecia na Líbia, Khaled participa num protesto contra o regime de Khadafi em Londres, mas vê-o transformar-se numa tragédia. Ferido, a lutar pela vida, não pode deixar o Reino Unido nem regressar ao seu país natal. Até o facto de contar aos pais o que aconteceu, através de linhas telefónicas sob escuta, poderia pô-los em perigo.

Um encontro inesperado num hotel coloca Khaled cara a cara com Hosam Zowa, o autor daquela fatídica história, e leva-o a viver a amizade mais profunda da sua vida. É uma amizade que não só o ampara como o obriga, à medida que a Primavera Árabe emerge, a enfrentar as tensões entre a revolução e a segurança, entre a família e o exílio, e a definir a sua identidade.


«Uma meditação literária magistral sobre os temas que o autor explorou ao longo da vida.» [The New York Times]


«Um romance brilhante sobre inocência e experiência. Sobre amizade, família e exílio. Deixa claro, uma vez mais, que Hisham Matar é um romancista de supremo talento.» [Colm Tóibín]


«Sábio, urgente e profundo.» [Claire Messud]


Os Meus Amigos, de Hisham Matar (tradução de Maria Beatriz Sequeira), está disponível em https://www.relogiodagua.pt/produto/os-meus-amigos/

16.3.25

Bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco

 No mês em que se comemora o bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco, a Relógio D'Água edita A Queda dum Anjo.


Escrito em 1866, A Queda dum Anjo é um romance satírico de Camilo Castelo Branco, no qual o autor descreve a corrupção de Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, um  fidalgo transmontano que se desloca da província para Lisboa. Ao ser eleito deputado, Calisto vai para a capital, onde, além de se deixar corromper pelo luxo e pelos prazeres, se torna amante de uma prima distante, Ifigénia, nascida no Brasil.

A Queda dum Anjo é uma obra em que Camilo descreve, de modo caricatural e humorístico, a vida social e política portuguesa.


A Queda dum Anjo e Mistérios de Lisboa estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/camilo-castelo-branco/

14.3.25

Jenny Erpenbeck em entrevista a Isabel Lucas



«Houvesse uma única ideia para definir Kairos e a sua autora, a alemã Jenny Erpenbeck, escolheria dizer que é um “diálogo entre tempos” construído ao longo de 320 páginas por um homem e uma mulher. Nesse diálogo fica claro um pressuposto deixado também pela escritora na conversa que aceitou ter com o Ípsilon via email: “contar histórias pode ser uma ferramenta de poder”.

A história no centro de Kairos, romance vencedor da edição de 2024 do International Booker Prize, agora editado em Portugal, tem como alicerce a relação entre Katharina, uma jovem de 19 anos, e Hans, um escritor de 53. Essa relação nasce do acaso, mas não tarda a que se transforme num espaço de poder e submissão.

No início, há o encantamento: Hans representa um mundo de cultura, maturidade e experiência, enquanto Katharina se entrega à sedução desse homem que se lhe apresenta como um guia para a vida adulta. Mas essa relação, que poderia ser apenas mais uma história de amor atravessada pela diferença de idades, torna-se um campo de batalha psicológico. Hans assume um papel de domínio, impondo a Katharina não só regras de conduta, mas também uma visão do mundo que não admite contradições, e, aos poucos, o que era desejo transforma-se em controlo, a paixão converte-se em abuso emocional, e o amor, tão idealizado, revela-se um mecanismo de opressão.» [ípsilon, Público, 14/03/2025: https://www.publico.pt/2025/03/12/culturaipsilon/entrevista/jenny-erpenbeck-molda-material-selvagem-kairos-romance-inesquecivel-2125557]


Kairos (tradução de António Sousa Ribeiro) e Eu Vou, Tu Vais, Ele Vai (tradução de Ana Falcão Bastos) estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/jenny-erpenbeck/

Sobre A Linguagem dos Dragões, de S. F. Williamson

 Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: A Linguagem dos Dragões, de S. F. Wiliamson (tradução de Elsa T. S. Vieira)


Bestseller do The New York Times. Para jovens leitores de Quarta Asa e Babel. Esta edição inclui conteúdo exclusivo das traduções: uma cena extra e uma carta da autora.


1923, numa Londres alternativa, uma rapariga quebra acidentalmente a frágil trégua entre dragões e humanos, desencadeando uma história épica. Dragões sobrevoam os céus enquanto protestos decorrem nas ruas, mas Vivien Featherswallow não está preocupada. Planeia conseguir um estágio de verão para estudar as línguas dos dragões e garantir que a irmã mais nova não tenha de crescer como Terceira Classe. Para isso, tem de libertar um dragão.

À meia-noite, Viv desencadeia uma guerra civil. Com os pais e o primo presos e a irmã desaparecida, Viv é levada para Bletchley Park como decifradora de códigos. Se for bem-sucedida, poderá salvar a família e regressar a casa. Se falhar, todos morrerão. À medida que desvenda os segredos da linguagem oculta dos dragões, Viv percebe que o frágil tratado de paz entre humanos e dragões é corrupto e que o seu trabalho poderá fazer com que tudo se desmorone.



S. F. Williamson sente fascínio pela forma como as línguas nascem e envolveu-se nelas muito antes de obter diplomas em francês e italiano. Sempre entendeu as línguas como criaturas vivas, que se movem e respiram, e aprendeu desde criança que falar diferentes idiomas permite aceder a ideias, tradições e pessoas que, de outra forma, permaneceriam distantes. A Linguagem dos Dragões é inspirado no seu trabalho como tradutora literária e no facto de, por mais que um linguista conheça profundamente um idioma, haver sempre algo que se perde na tradução. Mestre em escrita para jovens pela Bath Spa University, Steph vive atualmente em França com o marido e o filho.


Mais informação em https://www.relogiodagua.pt/produto/a-linguagem-dos-dragoes/

4.3.25

Sobre Kairos, de Jenny Erpenbeck

 «Kairos, de Jenny Erpenbeck (n. 1967, Berlim), livro vencedor do Prémio Internacional Booker 2024, história da relação entre uma jovem estudante e um escritor mais velho, que um dia se encontram por acaso, na velha RDA, antes da queda do muro, e das atribulações que se seguiram, e que ela recorda anos mais tarde ao receber o espólio do amante, memórias uma Alemanha dividida, como eles, entre um amor funesto e as traições num tempo de segredos e lealdades desfeitas.» [José Guardado Moreira, Ensino Magazine, Fevereiro 2025]


Kairos (tradução de António Sousa Ribeiro) e Eu Vou, Tu Vais, Ele Vai (tradução de Ana Falcão Bastos) estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/jenny-erpenbeck/

Sobre Tarass Bulba, de Nikolai Gógol

 Tarass Bulba descreve a vida de um antigo cossaco de Zaporójie, Tarass Bulba, e dos seus dois filhos, Andrei e Ostap. Os filhos, que estudam na academia de Kiev, regressam a casa, de onde os três homens partem numa jornada para a Sietch de Zaporójie (a sede dos cossacos de Zaporójie, localizada no sul da Ucrânia), onde se juntam a outros cossacos e vão para a guerra contra a Polónia.

A personagem principal é baseada em várias personalidades históricas, e o enredo pode ser entendido no contexto do movimento de nacionalismo romântico na literatura, que se desenvolveu em torno de uma cultura étnica histórica.


«Um dos dez melhores livros de todos os tempos.» [Ernest Hemingway]


Tarass Bulba (tradução do russo de António Pescada) e outras obras de Nikolai Gógol estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/nikolai-gogol/

3.3.25

Livros da Relógio D’Água nomeados para Prémio Livro do Ano Bertrand


Entre os mais de 250 títulos nomeados para o Prémio Livro do Ano Bertrand, com o contributo das jornalistas Maria João Costa, Paulo Nóbrega Serra e Sara Belo Luís, encontram-se 7 livros da Relógio D’Água:


MANIAC, de Benjamín Labatut, e A Uma Hora tão Tardia, de Claire Keegan (traduções de José Miguel Silva), Kairos, de Jenny Erpenbeck (tradução de António Sousa Ribeiro), Canção do Profeta, de Paul Lynch, e Intermezzo, de Sally Rooney (traduções de Marta Mendonça), nomeados na categoria de Melhor Livro de Ficção Estrangeira.

Viagem de Inverno, de Maria Filomena Mónica, na categoria de Melhor Livro de Não-Ficção.

Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar (tradução de Maria Lamas), na categoria de Melhor Reedição de Grandes Obras da Literatura.


Os livros finalistas de cada categoria serão conhecidos em meados de março. Os vencedores serão divulgados no mês de abril.


Os livros da Relógio D’Água estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt