23.7.18

Sobre O Quarto de Marte, de Rachel Kushner




«Romy Leslie Hall tem 29 anos e foi condenada a duas penas perpétuas (“e mais seis anos”: detalhe de um preciosismo cruel) pelo homicídio de um antigo cliente regular, que começou por gastar rios de dinheiro em lap dances, quando ela trabalhava como bailarina e stripper no clube noturno manhoso que dá título ao romance, e acabou a persegui-la de forma obsessiva. Quando Romy encontra Kurt Kennedy, o “Asqueroso Kennedy”, à sua porta, em Los Angeles, para onde se mudara, vinda de San Francisco, decide arrumar o assunto de vez. As circunstâncias do crime ficam nebulosas, nunca chegamos a saber muito bem o que aconteceu, porque isso não interessa. O que interessa é que Romy foi considerada culpada, sem atenuantes, e teve de deixar o filho de cinco anos, Jackson (“o grão de realidade” sempre no centro dos seus pensamentos e angústias), entregue aos cuidados da avó materna, única pessoa no mundo que lhe pode valer. […]
Embora o registo seja diferente daquele que marca os dois romances anteriores (Telex de Cuba e Os Lança-Chamas, ambos publicados pela Relógio D’Água), há uma qualidade plástica da prosa de Kushner que é imediatamente reconhecível. Uma espécie de textura. Uma capacidade de captar o real nos seus cambiantes mais subtis, bem como o humor nas situações mais negra. Uma inventividade verbal que a coloca, sem favor, lado a lado com os maiores escritores americanos contemporâneos.» [José Mário Silva, E, Expresso, 21/7/18]

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