23.7.18

Sobre Para o Casamento, de John Berger




«Tal como na poesia, este livro divide a nossa atenção entre o conteúdo e a forma. John Berger constrói um romance com linhas simples, elípticas e quase talismânicas. Apesar da aparente narrativa simples — em que as personagens surgem elipticamente para nos contar as suas histórias —, o romance possui uma atmosfera particular e densa, obrigando-nos a parar e a desfrutar deste stimmung particular de Para o Casamento. A história é sobre Ninon e Gino, um jovem casal de apaixonados que irão casar, apesar de Ninon ter sido diagnosticada com uma doença terminal. Ao invés de trágica, a história rejuvenesce o espírito. Trata-se de um romance sobre a transitoriedade da vida, sobre como coisas terríveis acontecem a pessoas inocentes, mas, sobretudo, como tudo por momentos pode ser eclipsado pelo mais singelo dos sentimentos: a ternura.
A história não pertence exclusivamente a Ninon e Gino, sendo que duas outras personagens, em particular, impulsionam a narrativa: Jean e Zdena, o pai e a mãe de Ninon, que viajam separadamente pela Europa para o casamento da filha. Jean, um trabalhador ferroviário francês, decide viajar na sua moto atravessando os Alpes até ao vale do Pó — sítio onde ocorrerá o casamento —, e Zdena, uma cientista, parte da Checoslováquia de comboio. O pai de Ninon dá-nos conta da liberdade que é viajar de moto, da beleza das paisagens e da solidão do percurso que, irremediavelmente, o leva a confrontar os próprios sentimentos. Por outro lado, pelos olhos de Zdena observamos uma mulher agora em profundo sofrimento. Viaja por uma Europa pós-Guerra Fria, que lhe é desconhecida, onde tudo aquilo que ela julgava serem verdades incontestáveis revelam-se agora memórias do passado.» [Joana Graça, Forma de Vida, 18/7/2018. Texto completo em: https://formadevida.org/recensoes/154-john-berger-2018-para-o-casamento-joana-graca ]

De John Berger, a Relógio D’Água acaba de publicar Confabulações.

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