15.7.15

Retrato de Rapaz vence Grande Prémio de Romance e Novela APE e Impunidade é o segundo mais votado






A Associação Portuguesa de Escritores acaba de atribuir o Grande Prémio de Romance e Novela – 2014 a Retrato de Rapaz, de Mário Cláudio. O segundo romance mais votado foi Impunidade, de H. G. Cancela, publicado na Relógio D’Água .
O júri foi constituído por Ana Paula Arnaut, Miguel Miranda e Miguel Real, que votaram em Retrato de Rapaz, e por Isabel Cristina Mateus e Maria João Cantinho, que escolheram Impunidade.
Foi a segunda vez que Mário Cláudio venceu este prémio, sendo os outros romances finalistas Os Memoráveis, de Lídia Jorge, Cláudio e Constantino, de Luísa Costa Gomes, e No Céu não Há Limões, de Sandro William Junqueira. Inicialmente haviam sido admitidas a concurso 86 obras.
Num artigo publicado no dia 14 de Julho no seu blogue, Maria João Cantinho escreveu:

 
«O narrador aparece, vindo não se sabe de onde, como uma personagem errática. Instala-se num hotel, em Sevilha. Não sabemos como nem por que razão chega a um apartamento, um oitavo andar, em Sevilha, onde vivem duas crianças pequenas, um rapaz de nove anos e uma menina de quatro, numa situação de abandono. É com estupefacção e com horror que o rapaz reconhece o pai, que mal havia visto: “Ele, com a boca fechada e os maxilares comprimidos, dir-se-ia diante da materialização de um terror nocturno.”
É este o tom que dá início à entrada do narrador na acção. Um pai que vem procurar dois filhos que vivem sós, sujeitos à irregular chegada de uma estranha empregada com um filho inquietante, Amir, que passa muito tempo junto das crianças. O filho é “o rapaz” e a menina chama-se Laura. Não é ao acaso que o filho é “sem nome”, como uma presença profundamente perturbadora, ao longo de toda a história. Se, no início, a sua presença nos aparece inocente, atento à irmã, que mal se compreende (aliás, a falta de inteligibilidade do discurso de ambos e a confusão das línguas é uma constante, na relação com os pais, como um sinal de um obscuro mal, não-partilhável), no entanto, ela transforma-se numa hedionda cumplicidade com Amir.
As grandes e metafísicas obsessões deste autor são o mal e a culpa, uma culpa arcaica e que pesa sobre todas as personagens, transformando-as em estranhos seres, incapazes de fala e de alegria e apenas Laura (a vítima sacrificial) é capaz de alguma alegria, não obstante todos os sinais de violência sobre o seu pequeno corpo, em crescendo. Sim, poderíamos dizê-lo: em tudo se assemelham a anjos caídos, mas isso não se aplicará a Amir, o rapaz que é meio espanhol e meio marroquino, como se o seu próprio corpo simbolizasse uma irredutível terra de ninguém, incapaz de amor e de respeito, avesso a todas as regras.
Sobre essa extraordinária personagem, Amir, muito poderia dizer-se. É a verdadeira figura do mal, irredutível nas suas pulsões instintivas e animalescas, incapaz de amor,  dilacerado na sua identidade.»
 
O texto completo pode ser lido em http://mjcantinho.com/2015/07/14/no-esplendor-das-coisas-ameacadas/

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