«São oito os “Contos de Odessa”, um ramalhete rubro de sangue e fogo, de humor e vida. Têm em comum o lugar da acção e várias personagens. Os quatro primeiros — “O rei”, “Como se fazia em Odessa”, “O pai” e “Liubka Cossaco” — foram escritos e publicados avulsamente entre 1921 e 1924 e constituem um assombroso exercício de mitificação, simultaneamente nostálgico e paródico, da vida no bairro Moldavanka no início do século XX. “A loja cheirava a muitos mares e a vidas maravilhosas, misteriosas para nós.” — lê-se em “O pai” — e no balcão viam-se “azeitonas vindas da Grécia, azeite de Marselha, café em grão, vinho málaga de Lisboa, sardinhas da marca Philippe & Kano e pimenta-de-caiena.” (p. 30) Sobre o casamento do “rei” do crime odessano, que só o amor derrotou, diz-se que Bênia Krik “conseguiu o que queria, porque todo ele era paixão, e a paixão impera no mundo. Os recém-casados passaram três meses na fecunda Bessarábia entre vinhas, mesa farta e suor amoroso.” (p. 12) A Odessa babeliana é, portanto, uma espécie de faustoso submundo felliniano, violento e vivo, afirmativo, poético e grotesco. Exceptuando algumas imagens mais luxuriantes, o estilo de Babel é conciso e ritmado, expedito e cortante.»
[Mário Santos, «Entre vinhas, mesa farta e suor amoroso», «Ípsilon», 2022/06/03]
«Contos de Odessa» e outras obras de Isaac Babel estão disponíveis em: https://relogiodagua.pt/autor/isaac-babel/
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