31.5.22

Sobre Felix Mikailovitch, de Amadeu Lopes Sabino

 



Disponível em www.relogiodagua.pt e a chegar às livrarias: Felix Mikailovitch, de Amadeu Lopes Sabino


“No decorrer da nossa conversa privada, Anne-Marie tinha-me dito que, aos sábados de manhã, ia ao mercado da place Flagey comprar frutas e legumes frescos. Seria acaso da conversa ou código de reencontro? Era vegetariana às vezes, disse rindo, outras vezes carnívora, outras tudo, outras nada. No sábado seguinte ao jantar oferecido ao príncipe, saí cedo de casa, armado de gabardina e guarda-chuva, e às oito e meia estava sentado a uma mesa chegada à vitrina do café Flagey, na esquina da chaussée d’Ixelles, lugar ideal para observar o movimento na praça. Uma hora mais tarde já tinha lido duas vezes as gordas do Le Soir, fumado um maço de cigarros e bebido três supostos cafés de filtro, mais precisamente três chávenas de água com cheiro a café. Chuviscava e fazia frio no exterior. Apesar dos vidros embaciados da vitrina, não perdi uma imagem do que se passava no mercado, mas não vi rastos de Anne-Marie. Levantei-me e, aproveitando uma aberta, dei uma volta à praça. Preparava-me para, à beira do desânimo, continuar a esperar no mesmo café, quando a vi descer, sob uma sombrinha minúscula, a rue des Cygnes. Todas as minhas dúvidas desapareceram. Não valia a pena encontrar pretextos. Rendi-me.”


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