15.1.20

Sobre Pensar sem Corrimão, de Hannah Arendt




«Num texto datado de 1960, incluído em Pensar sem Corrimão, Arendt propõe-se mesmo reflectir sobre o par formado pela “ação” e a “busca da felicidade”. Como refere logo a abrir, não se trata de explorar o “significado histórico e político” do assunto. O seu propósito “consiste em levantar a questão de uma possível relação entre a ação e a felicidade, numa tentativa de descobrir o autêntico e não-ideológico fundo de experiência por trás desta busca desconcertante.”
São quase duas dezenas de páginas impossíveis de resumir (como todo o livro, aliás, entregue a esse trabalho, árduo e pedagógico, que consiste em pensar como quem sobe ou desce escadas “sem corrimão”). E tanto mais quanto os mais poderosos discursos contemporâneos, sobretudo os de natureza publicitária, nos garantem que a felicidade é uma consequência linear do novo telemóvel que podemos adquirir ou do consumo de um “gadget” associado ao nome de algum jogador de futebol.
Ainda assim, vale a pena referir que, a certa altura, valorizando sempre a dimensão humana da acção, Arendt recorda duas palavras que, agora, “dificilmente alguma vez juntaríamos, mas que constituíam uma expressão corrente no século XVIII.” São elas: “felicidade pública”. Arendt acrescenta mesmo que, aquando da redacção da Declaração da Independência dos EUA, Thomas Jefferson alterou a identificação de três “direitos inalienáveis”. Ou seja: “vida, liberdade e propriedade” deram lugar a “vida, liberdade e busca de felicidade.”
Arendt ajuda-nos a reenfrentar a questão da ação como uma clivagem dramática, tão essencial quanto irredutível, entre o individual e o colectivo.» [João Lopes, DN, 11/1/2020]

Pensar sem Corrimão (trad. João Moita) e outras obras de Hannah Arendt estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/hannah-arendt/

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