«Tem um enredo escasso, o sétimo romance de Saul Bellow, de 1970,
pontuado porém por uns quantos incidentes burlescos: um carteirista apanhado no
acto, uma inundação numa casa de campo, um manuscrito roubado, um desastre de
avioneta. Episódios que são sobretudo uma ocasião para as divagações e
diatribes de Artur Sammler. “Artur como Schopenhauer”, diz ele. Judeu polaco,
sobrevivente aos nazis, educado em Londres, estudioso de Wells, o septuagenário
vive numa Nova Iorque descrita, em prosa imprevisível e expressionista, como
sórdida e fétida, embora vibrante. Tomam conta dele a filha solteira e uma
sobrinha viúva, enquanto outro sobrinho, médico, o sustenta. Sammler é
respeitado como um símbolo, como alguém que esteve quase morto, enterrado vivo.
E como um intelectual, atreito a discursos sobre as civilizações. Um Toynbee ou
um Canetti, em versão platónica, agostiniana, extemporânea.» [Pedro Mexia, E,
Expresso, 23-1-2015]
Sem comentários:
Enviar um comentário