13.1.15

José Mário Silva escreve sobre Booker Prize

 

 

No número de Dezembro da revista Ler, José Mário Silva escreve sobre The Narrow Road to the Deep North, do australiano Richard Flanagan, vencedor do Man Booker Prize 2014.

«Os temas centrais deste romance são dois tópicos literários por excelência: a guerra e o amor. Flanagan encontrou um modo subtil de os cruzar, mas o que torna The Narrow Road to the Deep North memorável é a sua descrição vívida dos tormentos por que passaram os POW (prisioners of war) australianos nas selvas da Indochina, às mãos dos japoneses, durante a construção da infame “ferrovia da morte”, um troço de 415 quilómetros que ligava Sião (actual Tailândia) à Birmânia (actual Myanmar). O objectivo era abrir uma via para o transporte de material e tropas, com vista a um ataque à Índia que nunca se concretizou. Sem dinheiro nem maquinaria apropriada, os japoneses avançaram na mesma, para cumprir o desígnio do imperador, sacrificando de formas inimagináveis os prisioneiros, transformados em mão-de-obra escrava. As estimativas variam muito, mas até à conclusão da linha, em 1943, terão morrido entre 80 mil e 200 mil homens. Dos 22 mil POW australianos, na maioria capturados após a queda de Singapura, um terço perdeu a vida no inferno verde da selva birmanesa. (…)
O segundo eixo essencial, subtilmente encaixado no da guerra, é a história de amor entre Dorrigo e Amy, a mulher do seu tio. Uma história condenada por duas mentiras simétricas – sabiamente geridas pela exemplar economia narrativa do romance (a pedir uma mais do que previsível adaptação cinematográfica) –, e responsáveis por uma tragédia íntima, contraponto da tragédia colectiva de que Evans se tornou um símbolo. Nas páginas iniciais, um personagem afirma que um “bom livro” deixa no leitor “a vontade de o reler”. É o caso deste.»

A obra será editada em finais de Fevereiro pela Relógio D’Água.

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