13.10.24

Sobre Marigold e Rose, de Louise Glück

 “Marigold estava absorta no seu livro; já chegara ao V.” Começa assim Marigold e Rose, a surpreendente crónica que Louise Glück faz do primeiro ano de vida de duas gémeas. Imagine-se um conto de fadas que é também uma saga multigeracional; uma peça para duas mãos que é também uma sinfonia; um poema que é também, à semelhança de A Metamorfose, de Kafka, um incandescente gesto autobiográfico.

Estão presentes os elementos que se esperaria encontrar numa história de bebés gémeas: o Pai e a Mãe, a Avó e a Outra Avó, a hora do banho e a hora da sesta… Mas, acima de tudo, Marigold e Rose é uma investigação do grande mistério da linguagem e do próprio tempo, do que existe e já existiu e existirá ainda. “Fora do parque para bebés havia dia e noite. O que formavam eles? Tempo, era isso que formavam. Vinha a chuva, depois a neve.” As gémeas aprendem a subir as escadas, espreitam-se uma à outra como criminosas através das grades dos respectivos berços, começam a falar. “Tinha anoitecido. Rose sorria placidamente na banheira, enquanto brincava com o elefante de esguichar, que, segundo a Mãe, simbolizava paciência, força, lealdade e sabedoria. Como é que ela é capaz, pensou Marigold, sabendo o que sabemos?”

Simultaneamente triste e engraçado, e imbuído de uma sensação estóica de assombro, este pequeno livro miraculoso, que se segue a treze livros de poesia e duas reuniões de ensaios, é diferente de tudo o que Glück já escreveu, ao mesmo tempo que é inevitável, transcendente.


Marigold e Rose (tradução de Inês Dias) e outras obras de Louise Glück estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/louise-gluck/

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