19.10.24

Sobre As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift

 «Swift foi declarado louco em 1742, dezasseis anos após a publicação de Viagens de Gulliver, mas o livro, escrito quando ainda possuía as suas faculdades, é perigosamente são e não causaria tanto desconforto, se não fosse inspirado por tamanha lucidez e por uma grande racionalidade. O complacente e crédulo Gulliver, que não é mais do que o porta-voz do seu autor, fica em parte louco no final do livro, pois viu-se preso na perspectiva dos cavalos racionais, os Houyhnhnms, e por isso considera-se e à sua sofredora esposa como abomináveis Yahoos. Swift, apesar do seu horror ao falso orgulho humano, reconhece os limites de Gulliver e dos Houyhnhnms, e espera que nós, os seus leitores, também os aprendamos. 

As Viagens de Gulliver são escritas para dissipar a nossa cegueira, para nos curar das nossas ironias inconscientes. Martin Price observa que “Gulliver é criado como o herói de uma comédia de incompreensões”. Dado que cada um de nós, até certo ponto, vive a comédia da incompreensão, simpatizamos com Gulliver. Gulliver é um homem comum que se deixa facilmente enganar pela sociedade, aceitando convenções tolas porque não consegue ver através delas e em torno delas (porque não as consegue ultrapassar).» [Harold Bloom]


As Viagens de Gulliver (trad. Luzia Maria Martins) está disponível em https://relogiodagua.pt/autor/jonathan-swift/

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