21.6.22

Sobre Dom Casmurro e Esaú e Jacó, de Machado de Assis

 



Dom Casmurro foi publicado em 1899. O título do livro é retirado do nome, já de si irónico, da personagem, pois lhe foi dado por ter adormecido ao ouvir um jovem poeta declamar-lhe os versos. Forma com Memórias Póstumas, Quincas Borba, Esaú e Jacó e Memorial de Aires o essencial da obra romanesca de Machado de Assis.

A subtileza dos protagonistas é tal que ainda hoje os críticos brasileiros discutem se Capitu «traiu» ou não o marido. Como escreveu José Fernando Tavares «falar de Capitu é falar do próprio mistério», pois ela é hábil na arte de simulação e nunca sabemos em que está a pensar.

A este livro aplica-se o que escreveu Afredo Bosi, que considerava que Machado de Assis dissolvia «paixões e entusiasmos no ácido de uma ironia e um humor que nada poupam: indivíduos e sociedade são aí “delicadamente” desmascarados em seu egoísmo e alienação».

Esaú e Jacó, publicado em 1904, é o penúltimo livro de Machado de Assis e distingue-se por uma maior organicidade narrativa, sem abandono das intenções modernistas do autor que o levaram a subverter a forma tradicional do romance. Um dos seus principais personagens é o conselheiro Aires, que irá ressurgir em Memorial de Aires.

Também em Esaú e Jacó a narrativa é subvertida, o contexto histórico está presente e os homens e as mulheres não são feitos de uma matéria única embora abundem as referências míticas. Como escreve Júlio Castañon Guimarães: «o humor irónico quase constantemente se vincula a uma reflexão sobre a narrativa, quando esta, voltando-se sobre si, desmonta sua própria estruturação. Surge aí a oportunidade do discurso de aparência reticente, que avança por retrocesso, faz-se, desfaz-se e refaz-se. Enquanto isso, aqui e ali, o romance se pontua com referências a factos históricos.»


Dom Casmurro e Esaú e Jacó e outros livros de Machado de Assis disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/machado-de-assis/

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