«Não é a incontornável morte que nos reenvia ao nada de onde emergimos, mas apenas essa ausência do que foi a alegria absoluta da alma, como inseparavelmente nosso inferno e nosso paraíso. Deste cenário, digno de todos os pesadelos reais ou imaginários que, como sombra, acompanham ou enquadram os intervalos divinos a que associamos a lembrança de nunca esquecidos paraísos, vive toda a poesia de Bernardo Pinto de Almeida fascinada pela perda do que nos foi dádiva do destino. No seu caso, e assumidamente — o que é hoje quase uma excepção que merece ser sublinhada —, dádiva também ou imperativo de uma memória impregnada de uma lembrança poética e mística que durante milénios foi a respiração espiritual da nação cristã que nunca deixámos de ser, hoje, pela primeira vez, submersa num quase universal obscurecimento da sua palavra redentora.
Raros dos nossos poetas têm uma consciência tão aguda da “crise” de novo tipo como aquela que neste momento mesmo impregna a atmosfera de um tempo como o nosso e lhe confere um estatuto que ainda não tem nome. O que até há apenas meio século era de ordem canonicamente política e ideológica, embora determinada pela natureza das metamorfoses sofridas pelo Ocidente, tornou‑se, por estranho que pareça, de ordem ao mesmo tempo cultural e religiosa. De um religioso‑outro como culto universal do sucesso que integrou esse religioso na sua visão encantatória e optimista do mundo.» [Do prefácio de Eduardo Lourenço]
A Ciência das Sombras e outras obras de Bernardo Pinto de Almeida estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/bernardo-pinto-de-almeida/
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