4.3.21

Sobre Roma, de Nikolai Gógol

 



«Lembrou‑se de que havia muito não ia à igreja, devoção que, naquelas terras inteligentes da Europa em que vivera, perdeu o seu significado puro e elevado. Entrou devagar e, silenciosamente, ajoelhou‑se junto às magníficas colunas de mármore e rezou muito, sem saber ele próprio porque o fazia: rezou porque a Itália o recebera, por‑que o desejo de rezar se manifestou, porque a sua alma estava em festa — e, provavelmente, era esta a melhor das orações. Numa palavra, levou consigo Génova como imagem de uma estada breve mas maravilhosa: nela recebeu o primeiro beijo de Itália. Com o mesmo sentimento luminoso viu Liorne, Pisa deserta e Florença que quase não conhecia. A pesada cúpula facetada da sua catedral, os palácios escuros de arquitetura realenga e a severa grandeza da pequena cidade olharam para ele majestosamente. Depois correu através dos Apeninos, sempre no mesmo estado de espírito luminoso, e, quando no fim da viagem de seis dias a cúpula divinamente arredondada surgiu no horizonte límpido, no pano de fundo do céu azul — oh, quantos sentimentos se revolveram de supetão no seu peito! Estava incapaz de os exprimir; acariciava com os olhos cada outeiro, cada declive. Eis finalmente a Ponte Molle, as portas da cidade, a bela Piazza del Popolo, que o abraçou, e o Monte Pincio com os seus terraços, escadas, estátuas e pessoas passeando. Deuses, como o seu coração batia!» [pp. 34-35]


Roma e Contos de Petersburgo, de Nikolai Gogol, estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/nikolai-gogol/

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