3.4.20

Sobre Uivo e Outros Poemas, de Allen Ginsberg




«Eu vi as mentes mais brilhantes da minha geração destruídas pela loucura, famintas histéricas nuas,
a arrastarem‐se na aurora pelas ruas de negros em busca de uma dose feroz,
gingões de angélicas cabeças ardendo pelo velho contacto celeste com o dínamo estelar na maquinaria da noite,
que de miséria e andrajos e olhos cavos e alucinados se sentavam a fumar na penumbra sobrenatural de quartos de águas frias flutuando pelos cumes das cidades contemplando o jazz,
que esventravam os cérebros aos céus sob a ascensão do metropolitano e viam anjos maometanos ziguezagueando nos telhados de prédios iluminados,
que passavam pelas universidades com olhos de radiante lonjura a alucinar o Arkansas e a tragédia à luz de Blake entre os catedráticos da guerra,
que eram expulsos das academias por demência & publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
que se agachavam em quartos com a barba por fazer em roupa interior a queimar dinheiro nos cestos de papéis e a escutar o Terror através da parede,
que eram filados pelas barbas púbicas quando regressavam via laredo com marijuana à cintura para Nova Iorque […]» [Uivo e Outros Poemas, p. 15]

Uivo e Outros Poemas, de Allen Ginsberg, foi originalmente publicado no outono de 1956 pela editora City Lights Books. Apreendido pelos serviços alfandegários dos Estados Unidos e pela polícia de São Francisco, foi sujeito a um longo julgamento, em que poetas e professores tentaram convencer o tribunal de que não se tratava de um livro obsceno.
Mais tarde, Uivo acabou por se tornar o livro de poesia mais lido na história dos EUA, com cerca de um milhão de exemplares vendidos em relativamente pouco tempo.
Carl Solomon, a quem Uivo é dedicado, foi um dadaísta do Bronx que escreveu poesia em prosa.


A tradução de Uivo e Outros Poemas, de Allen Ginsberg, por Margarida Vale Gato recebeu uma Menção Honrosa no Grande Prémio de Tradução Literária APT/SPA 2015. O livro está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/uivo-e-outros-poemas/

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