4.3.20

Sobre Contos de Petersburgo, de Nikolai Gogol




«Gogol era uma criatura estranha, mas o génio é sempre estranho; só o escritor de segunda ordem e são de espírito é que parece ao leitor agradecido um sábio e velho amigo que expõe com finura as suas próprias opiniões (do leitor) sobre a vida. A grande literatura roça o irracional. O Hamlet é o sonho demente de um académico neurótico. O Capote de Gogol é um pesadelo grotesco e sinistro que abre buracos negros no desenho pouco claro da vida. O leitor superficial verá nessa história apenas as cabriolas pesadas de um bufão extravagante; o leitor solene terá como certo que a primeira intenção de Gogol era denunciar os horrores da burocracia russa. Mas nem aquele que quer umas boas gargalhadas, nem o que anseia por livros “que nos façam pensar” compreenderão de que trata O Capote realmente. Mas deem-me o leitor criativo; este conto é para ele.» [Do Posfácio de Vladimir Nabokov]

Contos de Petersburgo (trad. Carlos Leite) e Roma (trad. Nina Guerra e Filipe Guerra) estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/nikolai-gogol/

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