17.2.20

Sobre A Sociedade da Transparência, de Byung-Chul Han




O tema da transparência é hoje dominante no discurso público. A corrupção e a liberdade estão longe de esgotar um debate que se cristalizou também em torno de episódios como o WikiLeaks e a formação de partidos “piratas”. 
De acordo com Byung-Chul Han, a obsessão com a transparência manifesta-se não quando se procura a confiança, mas precisamente quando esta desapareceu e a sociedade aposta na vigilância e no controlo.
Para o filósofo germano-coreano, as coisas tornam-se transparentes quando se exprimem através dos preços e se despojam da sua singularidade. A sociedade da transparência é o inferno do igual
O Google e as diferentes redes sociais, que se apresentam como espaço de liberdade, tendem a converter-se num grande panótico, a penitenciária imaginada por Bentham no século xviii, onde o vigilante pode observar a partir de um ponto central os prisioneiros isolados sem por eles ser visto. Os atuais habitantes do panótico digital tendem a sujeitar-se voluntariamente à transparência. Segundo Han, neste caso não existe nenhuma verdadeira comunidade, mas acumulações de egos incapazes de uma ação comum consistente. Os consumidores já não constituem um exterior capaz de pôr em causa o interior sistémico.
A vigilância não surge como ataque à liberdade, pois cada qual se lhe entrega voluntariamente, expondo-se ao olhar panótico, vítima e ator ao mesmo tempo. 

«A Sociedade da Transparência» (tradução de Miguel Serras Pereira) e outras obras de Byung-Chul Han estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/byung-chul-han/

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